Alice Murrayr
Comunidade da Escrita Afetuosa
3 min readApr 25, 2024

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Passeando na SP-Art no prédio da bienal em São Paulo. Ali inúmeras artistas famoso assim com novos expõe suas obras em galerias para o publico geral e colecionadores. Ao olhar uma obra em particular me lembrei de algo que tinha feito na faculdade de Artes Plásticas. Durante a primeira matéria do curso tínhamos que misturar a cor primária, cor pura com o branco e o preto para chegar nos tons perfeitos. Como a cartela das tintas Coral ou Suvinil. Horas e horas misturando um pingo de branco na cor original para clarear até chegar no branco total. O mesmo com o preto para escurecer até chegar no preto total. Aquilo foi um martírio para mim. Em seguida veio o curso de esculturas em 3 dimensões. Analisei várias esculturas em livros visitei museus, segui a risca as instruções do professor. Este no caso, não era uma pessoa simpática. Estava sempre de mau humor, era sarcástico e humilhava os alunos. Ao final do projeto os trabalhos eram colocados em exposição. Ele comentava e avaliava. Não gostou do meu. Me deixou no chão, arrasada, envergonhada e sem rumo. A critica é importante, aprendemos dela. Melhoramos com ela. A forma como a crítica é dada, define o resultado. Neste caso foi ruim. Me marcou, e me apequenou. Me humilhou. Não aprendi nada, só fiquei insegura. No segundo trabalho, não tive coragem de ir na aula. Tinha medo que fiquei paralisada. Me sentia burra, incapaz. A marca foi profunda demais. Insegura e Infeliz decidi ao final do primeiro ano desistir do curso. Aquilo não era para mim.

Hoje, adulta, não me arrependo da decisão, mas poderia ter sido diferente. Infelizmente o processo me deixou uma marca ruim. Não ser boa o suficiente, não ser capaz, ficou muito forte. Mesmo depois dos novos rumos e conquistas a sombra daquela experiência estava sempre presente. A culpa de todas minhas inseguranças são do tal professor? Claro que não. Todo mundo tem marcas do passado e todo mundo se sente inseguro em determinados momentos da vida.Não conheço uma pessoa que não tenha uma história para contar. Algumas, mais sensíveis, sofrem mais. Outros conseguem camuflar melhor, seguir em frente com mais facilidade.

Professores, pais, colegas de escolas, amigas, amores e pessoas desconhecidas Todos deixam marcas em nós. Alguns mais, outros menos, boas e outras nem tanto.

Quando estava na escola, cresci muito rápido e era a menina mais alta da classe. Encolhia os ombros para tentar ficar mais baixa. Me chamavam de gigante.

Trabalho minha postura até hoje nas aulas de pilates.

Não acho que conseguiremos evitar as marcas. Também não conseguiremos evitar que nossos filhos ou pessoas queridas sejam marcados. Faz parte da vida. De todos. A dor do crescimento. Dizem que ela acontece nos ossos, pois acredito que acontece também na alma. Temos que nos conscientizar de não usar uma experiencia ruim do passado ser motivo para nos auto julgarmos, de forma que nos paralisa que nos apequena. Aquele que nos prende no lugar. Este sim é o mais cruel e ele vem de dentro de nós.

As marcas e feridas ficam gravadas no fundo da alma. É por causa delas que preciso me esforçar, me conscientizar e me trabalhar todos os dias para conseguir alcançar o que eu quero. É uma luta interna um crescimento também. Sei que mesmo de forma inconsciente e sem querer deixo marcas em meus filhos, parceiro e amigos. Algumas boas outros ruins. Chegaremos todos ao final da vida cheios de marcas. O importante é cuidar delas, não deixa-las infeccionar. Limpar bem, assoprar dar beijos e carinho e seguir em frente.

Na exposição vejo uma escultura que me lembra a minha da época da faculdade. Por que está está ai e a minha era tão ruim? Nunca saberei a resposta ao certo.

Mas agora

Olho a cartela de cores.

Linda.

Equilíbrio perfeito.

Acerto a postura, levanto a cabeça,

Me inspiro

Para misturar e criar

dentro e fora de mim

minha própria criação.

Minha própria perfeição.

Minha própria arte.

Sem tanto julgar.

Alice Murray Reimer

Abrex1 2024

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Alice Murrayr
Comunidade da Escrita Afetuosa

Adoro livros, bibliotecas e livrarias e é claro uma boa história.