Quando a palavra julga
O que você faz com a sua arte?
Desembrulha quando ninguém vê
Guarda
Reescreve
Coloca cadeados
De dentro pra fora
Deixa o sangue escorrer
Finge que não importa
Fingir é verbo destemido
Perde o medo, embala sozinho
Teme a si até perder
Perder de vista o que sente
Amor, medo, desejo
Engole os sentimentos
Sentimentos deglutidos
Fazem mal ao intestino
Cólicas, gases, úlceras
Caem na corrente sanguínea
Perdem-se dentro do ser
Será que você sente agora?
É preciso expelir
Orifícios comprimidos
Embalados vivos
Para não esquecer
Autojulgamento
Dói mais que doença
Carne viva
Céu aberto traz feridas
Como esquecer do que não viveu?
Poema sai desequilibrado
Tentando viver entre a culpa
Culpa de não pertencer
Escrever é meu lugar no mundo
Sereno, e às vezes, confuso
Até me perceber
Equilibrar vírgulas, pontos e travessões
Temores, desilusões
Encaixotar, moldar
É mais sobre ver, ouvir as batidas do peito
Acelera não tem jeito
Linhas tecem o prazer
Prazer que deságua apenas quem veste
A coragem
Imperfeita
Sem alarde
Ousa viver
Abrex1