Querido estudante,
Já fui aluna em escola regular, como você, e fiz o Enem. Já experimentei o estresse da prova cansativa e o terror que a redação significava, afinal esta nota é decisiva para a pontuação geral e o sonho de entrar numa boa faculdade. Lembro-me da dificuldade que tive de aprender a escrever conforme o esperado pelos julgadores e não obtive nota 1000 como você, que merece os parabéns pelo feito.
Preciso dizer que há uma diferença entre a escrita acadêmica e a escrita afetuosa. Na primeira, espera-se que o autor não se mostre, não dê sua opinião, seja formal e recorra às melhores referências para demonstrar o que pensa. Você utilizará esse modelo para a monografia, artigos, dissertação e tese, baseando-se em pesquisas de campo e bibliográficas. Apesar de ser utilizada nos estudos, ela não alcança seus sentimentos, suas emoções, não te aproxima do leitor, ao contrário, te afasta da maioria das pessoas, por ser impessoal e difícil. A segunda, pode-se usar no dia-a-dia, para escrever e-mails, mensagens de texto, cartas de amor ou mesmo um diário, essa escrita que te conecta com o outro e consigo mesmo.
Ao ler seu texto, fiquei admirada com o domínio da língua portuguesa, da gramática e da ortografia. O tema escolhido é relevante ao cenário político-social atual e utiliza bons argumentos para defender seu ponto de vista. Não há dúvidas sobre a qualidade da sua escrita para o campo acadêmico.
Contudo, preciso ressaltar alguns pontos que para a escrita afetuosa, essa que alcança o outro, podem ser observados. Seu texto é difícil de ler e compreender, o que já afasta uma grande parcela da população, que tem dificuldade em ler e interpretar. Também, não enxerguei você, sua experiência ao lidar com a natureza, as questões ambientais que vivencia, o que te angustia ou não diante da perspectiva da produção capitalista. Não consigo imaginar quem escreve, um jovem ou uma pessoa mais velha? É uma pessoa de origem indígena ou não? Gostaria de ter enxergado você. Suas emoções, seus medos e seus sonhos se conectariam comigo, ainda que eu discordasse de você, porque também me faria sentir e pensar naquilo que escrevesse. Sei que não é fácil se expor, principalmente depois de aprendermos que isso é algo errado. Mas são nossas vulnerabilidades que nos fazem humanos e nos conectam com os outros.
Sei que é difícil virar essa chave, de se permitir se colocar no texto. É um processo pelo qual passo. E apesar de difícil, tem sido satisfatório. É a experiência de se enxergar, de perceber os próprios sentimentos e de autoconhecimento.
Por fim, gostaria de deixar um conselho: por favor, nunca desista de escrever, apesar dos desafios.
Abraços,
Audry Santos
Abrex2
