Quinze, trinta, cinquenta

Paola Lima
Comunidade da Escrita Afetuosa
3 min readMar 18, 2023
Photo by Adi Goldstein on Unsplash

Este ano eu faço 50.

Um marco. Mais um, na verdade. Depois dos 40 — quando estava com um bebê recém-nascido no colo e ganhei uma festa surpresa inesquecível — pensava que os 50 mereciam uma grande comemoração. Daquelas que a gente contrata decoração, buffet e banda para tocar. A sete meses da data, sei que não vai acontecer. Grandes comemorações exigem planejamento antecipado e, entre rasgar-se e remendar-se, como bem disse Guimarães Rosa, perdi o tempo para isso.

Na memória me vieram as outras “efemérides” da vida. Os 15 anos, os 30. Me dei conta de que comemorei todas. Nenhuma delas de modo convencional.

Meus 15 anos foram com uma festa surpresa. Ou melhor, teriam sido. Minha mãe não gosta de surpresas e topou a sugestão das minhas amigas do jeito dela. Fez tudo escondido de mim, mas me contou dias antes que ia acontecer. Aceitei sem discutir o convite para me tirarem de casa e tive de fingir espanto quando voltei. Nem foi muito difícil, porque realmente me surpreendi com a quantidade de gente na minha casa. Foi enorme o amor que recebi com o gesto, de qualquer jeito.

A parte boa de ter sido avisada foi ter podido me arrumar à altura da surpresa. Ganhei um conjunto de blusa e minissaia, de malha, feito pela minha mãe. Era offwhite (quando essa cor chamava apenas bege) e tinha franjas que balançavam quando eu me movia. Me sentia saída de uma capa da Capricho, o que fez maravilhas pela minha autoestima.

A sala de TV da casa virou pista de dança, e minha mãe, providencialmente, sumiu com meu pai dali. O que foi útil quando dancei “Fast Car”, da Tracy Chapman, com o menino mais gato da escola. Braço apertado na minha cintura e felicidade registrada na memória que a música traz de volta até hoje.

Não teve viagem à Disney. Não teve valsa com 15 casais e troca de sapatos. Porém, para meus anseios adolescentes de ser moderna, autêntica e popular, foi a comemoração perfeita.

Os 30 anos tiveram festa coletiva, com mais dois amigos escorpianos. Alugamos uma casa, compramos as bebidas e contratamos um DJ profissional que, em meio à playlist exclusiva de rock, garantiu um bloco inteiro de músicas dos anos 80, antes mesmo dessas seleções temáticas virarem moda. Eu usei um vestido curto e rodado, também feito pela minha mãe. Vermelho, bem diferente da minha paleta diária, um marco de que havia crescido.

A noite teve beijo num amigo lindo, entre pulos na cama elástica, que contratamos por três horas, mas dobramos o tempo de contrato porque as filas para o brinquedo persistiram madrugada à dentro. Teve brindes, bolo e até presença de integrante da Plebe Rude que ninguém sabia ao certo quem convidou.

Amanheci dentro do carro, numa longa conversa com a melhor amiga, fazendo um balanço da noite, que virou balanço da vida. Mal sabíamos que os dramas daquele dia — o moço com quem estava saindo ter beijado outra e o ex dela ter ido com a namorada nova — não teriam mais importância em dez anos. Em 20, ficaram risíveis.

Este ano, eu faço 50.

Não sei ainda como será a comemoração. Só acabei de perceber que, antes de qualquer coisa, preciso encomendar um vestido novo com a minha mãe.

#Essenciais 1 #Aurora #01mar23

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