Ri muito no velório do meu tio

Pollyana Teles
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readJul 29, 2024

Ataque de risos em horas impróprias, ao extremo ponto de cruzar as pernas para segurar o xixi. Minha família. Quem distribuiu essa herança: vó Josina. Pois é… ri com lágrimas, uma das habilidades familiar. Os velórios costumam promover, como se fosse uma conferência, pro-mo-ver, mas nele que os reencontros acontecem.

As sobrinhas distantes dela a tratam como uma porcelana que reparada foi e pode a qualquer momento se desfazer. No velório do cunhado da minha vó, és o reencontro com a titia, assim que elas a chamam, lógico que a vó se aproveita disso, fica bem dengosa na presença delas.

Eu cheguei antes da vó no velório, tinha ido à capela, fui cumprimentada pelos cinquenta e poucos primos, pelos quarenta e poucos conterrâneos da família e tive que direcioná-los para entender de quem vim ao mundo, pollyana-filha de fátima-de Josina-casada com Manoel-de seu sabino. Respire.

Anunciaram que titia Josina chegou, a sobrinha Marina (que na verdade se chama Maria Hilda, porque o tabelião na época não aceitava registrar sem ter Maria no nome, que loucura, fica entre nós, pois quase ninguém sabe disso) foi receber a titia. Como elas estavam demorando retornar minha mãe pediu que fosse ver o motivo de não terem chegado.

Naquele dia, havia uns três ou mais velórios.

Na parte externa elas não estavam, “não acredito que vou ter de entrar nos outros velórios”. Lembra o que eu disse sobre cruzar as pernas, então, ter tido esse aprendizado me impediu de fazer xixi na hora mais comovente da Capela 2… bem na hora que outra leva de parentes chegou, tive de entrar, logo na porta avistei as duas, a titia e a sobrinha, sentadas? Não! Ao lado do caixão, chorando, o mesmo tanto que todos em volta, bem pertinho delas aos prantos disseram “oh Zeca, coitado, sofreu muito”, a sobrinha passava a mão no rosto da titia, segurei o riso, cruzei as pernas, “gente, não é ti zeca”, minha vó cessa o choro e solta “bem que vi que estava muito diferente, compadre não era assim”. Gente, juro, riso preso em meio a choros com gritos. Fora da capela, elas começaram a ri tanto, andavam, cruzavam as pernas, curvavam-se dando tapinhas no joelho, já na capela certa, do tio zeca, começaram a contar e a risalhadas tomaram conta do lugar, ninguém se conteve, quem passava não entendia nada ou até desconjurava.

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