Saudade

Anabeatriz
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readApr 22, 2024

Minha mãe volta da feira e reclama do preço do tomate. Mesmo assim, traz uma sacola com dois quilos do fruto.

Ela deixa os tomates alguns dias na cesta de frutas, amontoados sobre o mamão que espera seu tempo de amadurecimento. Na noite anterior ao da preparação, espalha os tomates sobre o balcão da pia da cozinha.

No dia do almoço, pouco antes da refeição, ela começa a cortar cada tomate em quatro partes, retira aquela que não está boa. Joga-os dentro da panela de ferro preta, presente do tio Henrique, coloca a tampa e deixa-os cozinhar.

Meu pai e eu estamos sentados na cozinha tomando um café tardio. Preguiça tradicional de domingo. Os tomates começam a borbulhar e eu pergunto a ele se ele sente o aroma que se espalha pelo ambiente.

Chamo meu pai para se aproximar do fogão. Deixo-o olhar o ingrediente vermelho, agora líquido. Aproximo meu rosto da panela e sinto o cheiro do tomate fresco cozido.

Minha mãe acrescenta um pouco de sal, folhas de manjericão. O aroma da erva se destaca e forma uma combinação perfeita com o tomate. O molho da macarronada de domingo já está pronto.

Fervo o macarrão e depois o escorro. O vapor sobe. Misturo o macarrão e o molho em uma travessa, aproximo o nariz e sinto a fusão dos ingredientes. Incorporo uma boa quantidade de queijo ralado. O cheiro me remete a memórias de infância quando era minha avó paterna quem preparava a receita italiana.

Lembro dos cabelos grisalhos dela, do sorriso meigo, as mãos cheirando a farinha de trigo. Ela preparava a massa caseira também, depois chamava a todos para se servirem.

O almoço de domingo sem os avós tem cheiro de saudade. Além das garfadas da macarronada, brindamos a eles. Saúde. Saudade.

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