Saudades de Beagá

Audry Santos
Comunidade da Escrita Afetuosa
3 min readApr 28, 2024

Muito ouço falar das experiências de quem vai de uma cidade grande para uma pequena. Não ouvi, até o momento, falar do contrário. E preciso dizer que também não é fácil. Vivo isso há dois anos.

Vim de um lugar com 130 mil habitantes, região metropolitana de Belo Horizonte para um município no interior de Minas com 14 mil habitantes. Um sonho para muita gente? Sim. Mas para mim, tem sido um processo de adaptação.

Ter acesso a inúmeras escolas, faculdades, médicos, carros por aplicativo é um sonho que vivia. Pertinho de BH, pegava um Uber e chegava com tranquilidade ao meu destino. Quantas vezes não fui de ônibus/metrô para a aula e voltei de carro de aplicativo? Tenho saudade das ruas da Capital. Praça Sete. Afonso Pena. Espírito Santo. Avenida Cristóvão Colombo. E os pontos turísticos? Lagoa da Pampulha. Praça da Liberdade. Savassi. Sempre andei, e ainda ando, admirada com a beleza de Beagá. Gostaria que meus olhos fotografassem para mostrar os encantos do local.

E os museus? Acesso à cultura? Quantos shows pude assistir? Nando Reis. Humberto Gessinger. Zeca Baleiro. Todos mais de uma vez. Quanta saudade eu tenho de ir em uma exposição de arte, no CCBB, Palácio das Artes ou Câmara Sete.

E na cidade do interior? Não há nada disso. Não há shows com frequência, nem de bandas da região. Não há exposições. Nem encontros dos jovens na pracinha da Igreja Matriz, depois da missa. Aqui se dorme e se levanta cedo, antes das 05h. Sou uma aberração por dormir até às 08h. Aqui, já percebem que não sou do lugar pelo sotaque. E na impossibilidade de perguntar “cê é filha de quem?”, me perguntam: “você trabalha onde?”. Não gosto. Em Minas é comum a pergunta “você mexe com quê?”. Mas com a pergunta onde eu trabalho, me sinto invadida e avaliada pelo salário que imaginam que eu ganho. Em BH eu era só mais uma na multidão. E olha que BH é um ovo! Na cidade que eu morava, eu poderia responder de quem sou filha. Meu pai me dava a árvore genealógica de algum conhecido rapidamente. Os professores do meu pai foram meus professores. Lá eu tinha o melhor dos dois mundos: o conforto de ser conhecida e o conforto de ser uma anônima em Belo Horizonte. Aqui, onde moro, não tenho parentes nem o anonimato.

Preciso dizer que a cidade é silenciosa, que posso mexer no celular na rua sem medo e que as coisas são todas pertinho, dá para ir a pé. Isso é uma delícia. As pessoas daqui são muito receptivas, como os mineiros são conhecidos. Mesmo morando a tão pouco tempo no lugar, já conheço muitas pessoas e a árvore genealógica dela. Mas não é a minha cidade, do lado de BH e do aeroporto.

Morar em uma cidade pequena é um sonho bom de viver. Mas a saudade da minha BH é diária. Amor tem disso: pode até ser bom, mas não é a coisa amada.

#Abrex3

Foto de Belo Horizonte (Audry Santos)

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Audry Santos
Comunidade da Escrita Afetuosa

Mineira. Leitora. Aprendiz de escritora. Fotógrafa por amor. Observadora do cotidiano. Amante de música, violão e corrida. Poética.