Segunda-feira

5:30. Alarme. Banheiro. Água gelada. Prestobarba. Camisa social. Gravata apertada. Cozinha. Pão amanhecido. Café amargo. Crachá. Carteira. Chave de casa. Corrida. Ponto de ônibus. Lotado. Atraso. Chefe. Reunião. Papelada. Marmita. Carne dura. Ovo frito. Reunião. Dor de cabeça. Aspirina. Café gelado. Papelada. Chefe. 17:30.

Ponto de ônibus.

Um suspiro de expectativa.

Cinco minutos antes do seu ônibus, passava o do Parque Vila Maria. Dentro dele, ela. Cabelos castanhos compridos e uniforme azul marinho. Ele sabia como tinha sido o dia dela só de ver sua expressão. Mas não conseguia adivinhar qual era o seu nome.

O ônibus se aproxima e para, junto com as batidas de seu coração. Ela está sentada junto à janela, com o rosto apoiado sobre o queixo. Seus olhos se encontram — ela parece triste. Sente um aperto no peito. Então é tomado por um sobressalto. Poderia entrar nesse ônibus. Por que não? Ele poderia entrar nesse ônibus? Poderia, sim! O que o impedia? Poderia entrar, perguntar o nome dela. Descobrir a cor dos seus olhos. Será que ela o acharia um pervertido?

Hesitou.

Viu o ônibus partir.

Catraca. Cobrador. Caminhada. Chuva. Chave de casa. Cozinha. Pão amanhecido. Mortadela. Tubaína. Sofá. Noticiário. Quarto. Cama. 23:30.

Em seu sonho ela tinha olhos castanhos claros. Conversaram tanto que chegaram até o ponto final. Não havia mais ninguém no ônibus e o motorista foi obrigado a expulsá-los. Eles riram envergonhados. Ela puxou um pedaço de papel do bolso e anotou desajeitada o número de seu telefone. Estendeu a mão para entregá-lo e se afastou para ir embora.

Espera! Você não disse seu nome!

5:30. Alarme. Banheiro. Água gelada. Prestobarba. Camisa social. Gravata apertada. Sufoca. Tudo de novo.

Exatamente. Igual.

Esse texto foi escrito para a Comunidade da Escrita Afetuosa
Poente — módulo 3 exercício 1
Escrever um texto duro como a voz de um pai autoritário