Sentidos

Quando menina, escutava o som estridente das primeiras cigarras. Era sinal de verão. Dizem que ela canta dependendo se choveu muito ou pouco em certas regiões. Para mim era Verão. Natal e férias chegando. Acordava, mais disposta, pulava da cama, vestido leve e sandálias. O Café da manhã de cereis com frutas frescas e copão de suco de laranja.

Corria para o ônibus que se chamava Primavera, todo pintado de flores, feliz em ir para a escola, terminar o ano letivo. A cigarra macho é que canta para atrair a fêmea. Vive muito tempo debaixo da terra e tem vida curta fora dela. Dizem que ela explode de cantar, mas é lenda. Não explode tem vida curta mesmo, seca e deixa a casca para as crianças admirarem e jogarem umas nas outras para assustar.

Hoje quando escuto o zunido das cigarras a alegria daquele tempo me volta à memória. A sensação de leveza, de alegria de pé no chão. Piquenique com minha mãe a beira da Piscina do clube após a aula, e preparativos para o natal.

Acho incrível como o simples zzzzzzzzz da cigarra evoca tantas memórias.

Sons, cheiros, gostos nos trazem de volta sensações e sentimentos. Muitas boas, algumas ruins.

Vivemos e acumulamos memórias que os sentidos nos trazem de volta.

Alice Murray Reimer

Marex4