Setex1 -Meu galo urbano

Aline Ghiotto Damm
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readSep 30, 2024

Uma adolescente organizada, fazendo um esforço enorme para se concentrar. A menina cheia de desatenção perdia o foco com facilidade desde e cedo entendeu que se organizar ajudaria muito. Chegava da escola e fazia a lição de casa, para “se livrar” logo das tarefas, brincava, sonhava, escrevia, falava por horas no telefone coma s amigas. Na hora de dormir um ritual, deixava a mochila organizada na porta da sala, separava o uniforme e colocava na mesa de cabeceira perto o suficiente para que pudesse se vestir ainda embaixo das cobertas. Ligava seu despertador. Meia hora antes, sempre precisava de um tempinho para se adaptar a ruptura brusca do seu sono. O despertador era um galinho escandaloso. Paro para pensar no charme bucólico que é acordar no mato, na fazenda com o cocorico vindo do galinheiro. Aquele cheirinho de manhã com a sol nascendo e esquentando a graminha molhada pelo sereno. Mas esse galinho urbano artificial da menina em nada trazia esse charme para seus dias. Sim, ele era bonito, um objeto fofinho na decoração mas pela manhã quando a vida chamava ela para a real aquele cococorico doía em seus ouvidos. A casa toda parecia em coma, ninguém se importava com aquele barulho, mas ela acordava, sempre pontual, a menina que não chegava atrasada na escola, todos os dias batia na crista do galinho para que ele parasse de cacarejar dizendo um sonoro “good morning”. Certo dia ela acordou com raiva desse cocoricó e então decretou a morte do galo em sua vida num arremesso à parede. Ele nunca mais cacarejou a vida passou, ela mantem alguns rituais semelhantes ao da sua infância, inclusive o de se organizar na noite anterior e o de colocar o despertador, agora do celular, meia hora antes de levantar, mas vez ou outra bate a saudades da vida que não desconcertava ela ainda mais, do tempo que único barulho na sua mente era do cacarejar de um galo eletrônico que foi trocado por outra tecnologia que a desperta para o mundo das mensagens e redes sócias, devocionais e que a tiram ainda mais de sua falha concentraccao. Aquele “good Morning" era só uma jeito de levantar ela pra vida e num tempo em que não precisavamos de tantos barulhos o saudoso barulho do galinho urbano faz uma enorme falta.

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