Sra. Mika e Sr. Hiroshi
Não os conheço, mas os vejo todos os dias.
Vou chamá-los de Sra. Mika e Sr. Hiroshi, um casal de japoneses que deve ter por volta de 80 anos e que mora no mesmo condomínio que eu.
Gosto de observá-los todas as manhãs enquanto faço minha caminhada.
É que todos os dias, faça chuva ou faça sol, eles saem juntos a pé para comprar no mercado do bairro o que está faltando em casa.
Dois quilômetros para ir. Dois quilômetros para voltar.
Um dia de cada vez, trazem apenas o que cabe nas mãos. O que não pesa tanto os ombros. O essencial.
Reflito sobre isso: sobre o peso nos meus ombros, sobre o meu essencial.
Alguns dias, ele apressa o passo e vai na frente dela. Sempre imagino o que pode ter acontecido com a senhora Mika naquele dia para ele estar sozinho, mas em poucos minutos, lá está ela cruzando a esquina.
Sorrio delicadamente. Vejo que está tudo bem.
Vestidos de conforto e praticidade, diariamente eles me ensinam que o corpo precisa de movimento. E quando passam por mim falando em japonês, me lembram que um dos pilares das relações que duram é o desejo mútuo do diálogo.
A simplicidade, cumplicidade e conexão que encontram no ritual diário da ida ao mercado fortalecem não apenas seus laços matrimoniais, mas também a ligação com a comunidade que os rodeia.
Assim, Sra. Mika e Sr. Hiroshi continuam sua jornada diária, encontrando beleza na simplicidade de sua rotina e celebrando a riqueza da vida cotidiana, mesmo com todos os desafios que ela apresenta.
Diariamente, sem dizer uma só palavra, eles me ensinam muito.
Observo. E agradeço.
Lillian Ambrosio — Comunidade da Escrita Afetuosa — Prof. Ana Holanda — Março de 2024, tema Observação — Escrever a partir da observação do outro — tópico Marex2.