TEM LUGAR PARA TODO MUNDO

Filó é uma gata persa muito refinada. Nasceu em berço de ouro e nunca passou nenhuma dificuldade. Come ração de qualidade, toma banho em petshop refinado e representa uma grife chique de roupas para gatos.

Vida perfeita. Donos só para si. Chamego e paparicação constantes. Praticamente uma youtuber.

Tudo estava assim até que em um dia quente de verão, ele apareceu. Tchan! Tchan! Tchan!

Maria Helena, tutora de Filó estava andando com seu motorista Charles por uma rua da periferia da cidade. Ia entregar uma doação em uma casa humilde. De repente, ele freou bruscamente. A um milímetro das rodas do carro, apareceu ele. Um cachorrinho sarnento e cativante.

Depois do susto, perguntaram nas ruas sobre o dono. Nada. Ele não havia se machucado, mas estava todo sujo e maltratado. Maria Helena não contou conversa. Pediu a Charles que o pegasse, levou ao veterinário, medicou, levou no petshop e, em seguida para casa.

Filó quase infartou quando viu aquela criatura:- Mas o que é isso? De onde saiu essa criatura sem classe? Quando vai devolver isso?

Polaco, por sua vez, esse é o nome dele, estava feliz que nem pinto no lixo. Nunca tinha tido uma casa, ainda mais uma daquelas. Tudo era perfeito, grande, bonito. Adeus às noites de frio, à fome, às latas de lixo.

Quando notou a presença de Filó, foi logo falando: — Olá gata dengosa? Você mora por aqui. Vai ser uma delícia ter a sua companhia.

Ela ficou furiosa e logo tratou de colocá-lo no seu lugar. — Quem você pensa que é? Não vai ficar por aqui. Não há lugar nessa casa para cães sem classe. Nem raça você tem.

Os dias se passaram e Filó viu as coisas se complicarem para o seu lado. Maria Helena morria de amores por Polaco. O enchia de carinhos e beijos e proporcionava a ele uma vida de rei. Ele, macaco velho, conhecedor das ruas, tratava de corresponder à altura. Abanava seu rabinho sempre que a dona chegava em casa. Dava a barriga e fazia gracinhas como agradecimento pela acolhida.

Cheia de ciúmes e inveja, Filó bolou um plano maquiavélico. Fingiu ser atacada por Polaco e até simulou, com ketchup um machucado. Quando chegou em casa, Maria Helena ficou assustada. Encontrou Filó deitada, gemendo. Polaco que nada sabia, estava tranquilo deitado em sua caminha.

Como boa tutora, ela conhecia bem a sua gata. Tinha percebido que Filó estava inquieta com a presença de Polaco. Resolveu então, tirar a limpo a história.

Chamou o veterinário para uma consulta na sua casa. Ele chegou e logo examinou a gata. Não encontrou nada e, ainda por cima, percebeu o golpe da gatuna.

Indignada, resolveu ter uma conversa séria com Filó. — Você é uma gata amada, tem tudo, mas não quer repartir o que tem com Polaco. Ele teve uma vida difícil nas ruas e aqui tem lugar para todo mundo!

Arrasada, com o plano descoberto, Filó decidiu ceder.

Polaco, que a tudo assistia com cara de paisagem, velhaco, teve uma prosa esclarecedora com a gata.

- Garota, você é uma boa gata, mas não sabe nada da vida. Nunca saiu daqui para nada. Eu, sou das ruas, sei me defender. Se você tentar me sabotar novamente, eu vou armar para você e quem vai embora? -Adivinhe? Você.

Filó, temerosa, resolveu botar a viola no saco e conviver harmoniosamente com aquele ser inferior.

Moral da história: respeitar as diferenças é bom e mantém os dentes no lugar.

Isabel Guedes — Comunidade da Escrita Afetuosa — Professora Ana Holanda: @anaholandaoficial — Uma Jornada pela Criatividade — Maio — Exercício 3: Escrever a partir dos próprios limites. (22/03/24)

Maiex3

--

--