Touca Branca

Alguns momentos de tensão ficam representados em nossa mente, com um símbolo que nosso inconsciente “escolhe”. Estou passando por um momento desafiador para minha saúde física e mental. Ao fazer uma consulta para ajustar meus óculos me deparo com um diagnóstico assustador, a possibilidade de perda de visão do olho esquerdo, com ameaça para o outro. Tudo que gosto de fazer passa pela visão. Escrever, ler, ver filmes, fazer tricô, olhar meus clientes e todas as pessoas que relaciono nos olhos. Meu chão se abriu e tive a sensação de despencar em um precipício que só podia ser escuro, como um abismo sem fim. Meu entendimento turvou-se e minha mente sinalizou que não queria saber mais do que sabia naquele momento. Só ouvia a médica dizer, tratamento longo, desagradável e caro.

Tenho que abrir minha agenda, te encaixar, assim que terminar os 3 dias de preparo. Ainda sem entender nada, pergunto atônita: Que tratamento é esse?

É uma injeção no olho, uma por mês, por muitos meses.

Alguém algum dia, pensa que vai tomar injeção no olho? Eu nem sabia que existia. Saio cambaleante do consultório buscando recursos internos e apoio externo para ter coragem, embora não tivesse opção. Noites sem dormir, buscando força e compreensão do que estava acontecendo. Finalmente chega o dia. Vou com meu marido para a clínica. Esta está sendo ampliada, então a recepção é de um lado e a sala de procedimento em outro prédio.

Enquanto estacionamos, vejo algumas pessoas saindo recepção de touca branca e dirigindo-se ao outro prédio. Minha mente ainda se recusa a compreender, comento, o que estão fazendo de touca branca? Meu marido não responde, entro, pago o procedimento e me colocam uma touca branca e me mandam engolir uns comprimidos. Não tenho mais defesas, é fazer ou fazer.

Nesta hora o sentido da palavra PACIENTE, é claro. Você nada tem a fazer a não ser esperar e rezar. Com passividade e incredulidade, vou de touca branca para a cadeira. De olhos abertos, não pode fechar, olha aqui, calma e a agulha aproxima e penetra meu olho. A primeira de muitas, e eu ainda estou perplexa.

Janisse Mahalem

Franca 28 de junho de 2024

Junex3

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