Um copo sem par, o prazer da minha solitude

Carolina Nascimento
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readMar 29, 2023

Ao longo da vida os copos quebram e as pessoas também. É normal mundo afora alguns desastrados, ou as pessoas mais cuidadosas, deixarem sem querer, ou às vezes por querer, copos quebrarem, se espatiforem na parede, na mesa ou no chão. Eles frequentemente são comprados em conjunto e aos poucos vão perdendo seus pares. Já nós, nascemos sozinhas e passamos boa parte, senão a vida toda, buscamos pelo outro sem sequer nos encontrarmos com nós mesmos.

Sobre os copos que sobram, dia desses estava em um salão de beleza e em meio a uma conversa aleatória ouvi a seguinte frase: “Meu marido sempre quebra os copos, e sobra só um do jogo. Esse que resta ele nunca quebra.” O tom era de indignação, este sozinho não serve mais para compor a mesa de alguma refeição, ele está só e a beleza está em serem todos iguais. No entanto, esse copo tão pouco quebra, parece mais resistente quando se torna único. Nós também.

Não nos ensinam a sermos sozinhas, melhor não nos permitem sermos sozinhas. Não importa minhas realizações pessoais e profissionais, as viagens que fiz, os livros que li, nada faz diferença. A maioria das conversas nas festinhas de aniversários, casamentos, ou um encontro para um café sempre começam ou acabam com perguntas sobre os namorados, sobre ainda não ter encontrado ninguém.

Essas perguntas por muito tempo doeram em mim, eu nasci para ser par e agora sou só, pelo menos é o que eu acreditava. Sonhava com o amor romântico e por isso muitas vezes me espremia para caber onde não servia. Queria ser importante para alguém, para isso oferecia às pessoas muito mais do que podia e do que elas me davam. Essas dinâmicas da vida quase me custavam lascas de mim e mesmo assim continuava sozinha. Assim como o copo que resta torna-se ‘quebrável’ eu me tornei dispensável, não me sentia valorizada e relações não duraram. Ninguém nunca perguntou minhas dores, apenas dos amores. Os copos são quebrados por pessoas quando são conjuntos, nós nos quebramos para sermos pares.

Cansei de tentar ser o par de alguém, parei de querer ser escolhida e me escolhi. Não aceitei a solidão, mas encontrei minha solitude, entendi que sou uma ótima companhia para mim. Não preciso ser convidada para um jantar, eu posso me levar. Um banho na temperatura certa, a luz de velas é uma excelente forma de encerrar um dia exaustivo. Um filme de romance no cinema, em minha boa companhia, aquece meu coração. Dançar no meio da sala de casa é um ótimo jeito de liberar a tensão.

Eu passei a me amar, a me colocar em primeiro lugar e preencher o espaço que reservava para alguém. Aos poucos estou entendendo que não fazer parte de um conjunto, ou não ter par, pode ser algo bom. O copo que restou não põe mais a mesa, é verdade, mas ele é resistente, ele é único e eu sou o copo mais forte!

Carolina Nascimento — #auroramod1ex

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