Um doce segredo
Minha primeira gaveta da vida guardou um segredo.
Eu devia ter três anos quando tudo aconteceu. Lembro dos aromas, da textura e das emoções.
Nosso quarto, das minhas irmãs e meu, tinha três camas.
Na frente das camas o guarda-roupa.
Ele era forrado e cada uma de nós tinha uma gaveta, uma prateleira e alguns cabides.
Bem dividido e cheiroso.
Na minha gaveta, debaixo de todas as coisas, embrulhada em um lencinho morava o segredo, minha chupeta azul.
Até hoje sinto a boca salivando só em lembrar daqueles momentos.
Cheirava, chupava um pouquinho e depois de um quase transe a devolvia para o mesmo lugar.
Era doce e me aliviava de alguma aflição que nem sei bem do que…
Coração sempre acelerado com medo de que me descobrissem…
Olha, não lembro o final da história da chupeta. Se me descobriram, se me superei, ou se a perdi no meio do caminho.
O que sei é que descobri logo cedo que ter segredo é penoso.
Junto dele vem o medo da revelação.
O melhor mesmo seria não escondermos quem somos.
Tipo, como eu seria se eu fosse eu?
Enquanto escrevia esse texto, acompanhava as trocas de mensagens no WhatsApp da comunidade.
E a conversa era assim: como eu seria se eu fosse eu?
Então aproveitei a vibe…
“Acho que eu seria muito menos ansiosa, mais maluca e feliz
Teria ficado com minha chupeta até cansar
E ponto final! “
MAIEX1