Um sonho
Com oito anos de idade,
no fim do corpinho miúdo
de joelhos protuberantes:
um pé. na terra.
outro. n´água.
Dia e noite,
noite e dia.
A menina de franja reta
e olhos grandes
sempre com o pé esquerdo de molho
numa bacia de plástico azulada.
Fora dela? De jeito nenhum!
Ai, ui!
Pele cinzenta, ressecada, descamante!
Hospital!
Bumbum na maca.
Mãe do lado direito,
mãos entrelaçadas
Pai do lado esquerdo,
dúvidas e medos.
Dor?
Nenhuma!
Cansaço?
Oh! E como!
Preocupação?
Mais ainda, Doutor!
Olhar acurado do médico:
por fora, perfeito.
pele lisa, sem defeitos.
Com o indicador, um, dois toques.
Na planta do pé, dedos gentis…
Ai! Que agonia!
Auxiliar, bisturi!
Um corte raso.
Tal qual sola descolada de sapato,
a pele do pezinho aberta.
Dentro, reluzente,
um peixe dourado
tremilicante e sedento.
Maiex2