Uma Família Perfeita

(Inspiração em uma lenda popular sobre o João de Barro)

Os Barros sempre foram conhecidos no bairro como a ‘família perfeita’. Marido, mulher e dois filhos. Exemplo e meta para qualquer um que sonhava em criar uma família e ter uma ótima vida. Ela trabalhava de casa na maioria das vezes. Era publicitária. Quase todo fim de tarde, antes de buscar as crianças na escola, ia comprar pão na padaria. Conversava com todos no caminho e era sempre muito educada. Ele trabalhava no bairro financeiro e, muitas vezes, precisava viajar a mando da empresa. Também era sempre muito educado com os vizinhos. Sempre que podia, parava para jogar futebol com as crianças da rua.

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Andava de um lado para outro dentro de casa. Agoniada. Sem saber mais o que fazer, decidiu apelar a polícia. Do outro lado da linha ouviu:

- Delegacia em que podemos ajudar?

- Boa tarde. Estou ligando para fazer uma denúncia. Acredito que tenha acontecido alguma coisa na casa ao lado. Já ouvi alguns barulhos vindos de lá, mas, ninguém atende a porta e não consigo contato com ninguém da família. Acredito que tenha uma mulher presa dentro da casa.

- Qual o endereço? Já estou acionando uma viatura.

Ao desligar o telefone, notou a própria respiração pesada, o coração acelerado quase saindo pela boca e a vista turva. O corpo tremia. Fazia dias que notara algo estranho. Todas as janelas estavam fechadas. Ninguém entrava e nem saía de dentro de casa. Sabia que os filhos iriam para a casa da avó paterna aproveitar o fim de férias. Era a única informação que tinha.

Ouviu um barulho vindo de longe. Sirenes. Abriu a porta no momento em que chegaram e foi falar com eles se identificando como a pessoa que telefonou para a delegacia.

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Com certa dificuldade, os policiais conseguiram arrombar a porta. O cheiro que saía de dentro da casa era tão forte, que quase todos tiveram que recuar. Um odor de urina misturado com qualquer outra coisa, saía de dentro da casa junto com um silêncio ensurdecedor. Entraram e se dividiram em dois grupos.

A casa estava completamente revirada. Na cozinha, poeira e restos de comida. Dentro da pia, uma pilha enorme de pratos, copos e talheres. Em cima da mesa, havia um bilhete.

“Descobri a traição. Agora, arque com as consequências.”

Então, alguém chamou do andar de cima.

- Encontramos a vítima!

Enquanto subiam as escadas, além de mais sujeira, notaram o corrimão todo melado e talvez algum tipo de bicho se rastejando. Ao chegarem no quarto, lá estava ela. Deitada. Seu corpo todo cortado, o rosto desfigurado e uma faca largada ao seu lado. O lençol da cama, já não era mais branco.

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Ao voltarem para a rua, que já estava com uma pequena plateia curiosa, foram conversar com a vizinha que havia denunciado. Ela estava ao lado de uma das viaturas, ainda tremendo.

- Bem, ao que tudo indica, sua vizinha estava em cárcere privado. Não tem comida, água nem luz em casa. Não encontramos nenhum aparelho de celular ou computador. Em algum momento, houve uma perseguição dentro de casa. Encontramos esse bilhete. O que a senhora sabe sobre essa família?

Pegou o bilhete com as mãos tremendo.

- Era uma família simples, simpática e de bom coração; conviviam com todos da região. Eu tinha mais contato com a mulher. Ela não estava tão feliz no relacionamento. Sempre foram conhecidos como a família perfeita, mas não era bem assim.

- Você possui algum tipo de parentesco com a família?

- Eu era amante da Senhora Barros.

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Conclusão policial:

O marido, senhor Barros, após descobrir a traição de sua mulher com outra vizinha, decidiu mantê-la em cárcere privado. Colocou trinca em todas as portas e janelas. Na casa não havia luz, internet, pouca água e comida. Ele está foragido há pelo menos duas semanas.

Texto para Comunidade de Escrita Afetuosa
Exercício 1: Escreva um texto com o tema João-de-barro (o pássaro).
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