Vórtice

Rita Pellegrini
Comunidade da Escrita Afetuosa
1 min readOct 13, 2023

Eu prefiro escrever à mão. Mão no lápis, lápis no papel. Alguém me disse uma vez que há uma conexão direta entre a mão que escreve e o coração. Imagino uma linha brilhante e invisível. Um cordão energético. Talvez seja mais fácil se deixar levar pelo coração desse jeito, à mão. Sem a distração da luz azul de uma tela, ou a frieza das teclas de alumínio num teclado qualquer.

Uma vez escrevi a palavra medo inúmeras vezes. Não foi algo intencional, simplesmente não consegui parar. Escrevi meu medo no papel tantas vezes que a palavra começou a tomar outras formas. As letras foram se desmanchando, ficando ilegíveis. O coração e a mão trabalhando juntos, acelerados. A respiração descompassada. Foram muitas páginas. Uma verdadeira terapia. Comunhão.

De repente já não escrevia, desenhava. Até que as linhas foram se estendendo horizontalmente.

Um horizonte, meus medos.

A gente olha o horizonte e pensa em uma coisa reta, linear. Mas o planeta é redondo. Meus medos também, são circulares. Curvam-se. Hora círculos concêntricos, hora tangentes. Vez em quando, vórtice.

No centro, sempre eu. Menina. Criança com lápis na mão.

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