hoje vou contar uma história que é um pouco triste, um pouco linda
é sobre Flavio, meu cunhado casado com minha irmã gêmea há uns 45 anos (estamos ficando velhos e me deparo com isso quando conto algumas histórias)
quando Flávio conheceu Cássia, minha irmã , ele era estudante de arquitetura
naquele tempo nossa tia Dadá, ainda viva, tinha o hábito de dar apelido para todo mundo que entrava para a família
ficávamos só esperando
ela era meio bruxinha sabia das coisas lia cartas também vivia muitos mundos
conheceu o Flávio sentiu pensou batizou ele seria o João de Barro!
o pássaro que constrói ninhos de barro para os filhotes que virão o arquiteto da natureza e é no leva e trás dos voos que ele carrega as minúsculas partículas de barro, construindo assim ninhos fortes
dentro da casinha ele constrói uma parede, também de barro, para proteger os filhotes do vento e dos gaviões
só depois ele traz os galhos secos para acomodar os ovinhos
e fica sempre por perto até a vida nascer
cada ninho só serve para uma única ninhada
depois são abandonadas e a vida segue
a do Flávio também
nosso João de Barro construiu muitas casas para tantos
criou outras coisas bonitas também fortes relações de cuidado sempre aos poucos indo e vindo assim como João de Barro
Flavio é o terceiro filho de Sônia e Ângelo teve outros três irmãos
e como dizem por aí, os filhos do meio ficam meio apertados entre tantas histórias com Flavio não foi diferente
cresceu assim olhando sentindo seguindo
aprendeu a construir paredes que o protegiam dos ventos
a vida avançou e a família começou sua despedida muito cedo
partiram o pai e dois irmãos
agora é Flávio quem cuida de sua mãe Sônia, com Alzheimer
para ela também construiu uma nova casinha no fundo de um jardim
lá ela esta protegida dos ventos, dos medos e dos esquecimentos
ele não pode garantir que tudo esteja sempre sob controle mas sem duvida como o outro João de Barro está sempre por perto esperando a vida avançar
ele a leva para passear tomar cerveja ouvir histórias sempre pronto para segurar suas mãos em qualquer ventania