“Oeste Sem Filtro”: Telejornalismo e opinião para uma audiência de fãs

Lúcio Santos
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6 min readNov 6, 2023

Formato tradicional atrai público habituado à TV, mas que deseja conteúdo com valores liberais e conservadores, além da interação das redes sociais

O canal brasileiro de notícias e opinião “Oeste Sem Filtro” é transmitido ao vivo pelo YouTube, X, Vimeo e Ramblo, de segunda a sexta-feira, das 17h45 às 19h30 (horário de Brasília). Foi lançado em 23 de novembro de 2022 com o objetivo de defender valores liberais e conservadores.

Apesar de transmitido por plataformas digitais, seu formato é equivalente ao de um telejornal tradicional. “O telejornalismo é um gênero jornalístico que representa uma prática de difusão de informações conhecida, estudada e já bem familiar para a sociedade” (SQUIRRA, 2002).

Interações com vídeos e comentários

O conservadorismo do formato, contudo, não impede as interações com a audiência, que se dão com o envio e exibição de vídeos dos espectadores e comentários no estilo fanpost. Para Cajazeira (2015), esta é a forma mais comum de interação nas redes sociais, com likes e comentários pouco aprofundados.

Para Costa (2020), a interatividade pode ocorrer com a participação do internauta através de envios pessoais ou a publicação de opiniões. Em “Oeste Sem Filtro”, podemos observar a interatividade comunicativa: “Coloca o indivíduo como produtor de um conteúdo que se tornará público. É o caso de ações como deixar comentários às notícias em redes sociais. Por meio dessa possibilidade, o utilizador busca estabelecer contato e expressar sua opinião” (COSTA, 2020).

No decorrer de cada programa, esta interatividade é revelada principalmente com a exibição de vídeos enviados pela audiência. A seleção desses vídeos é feita de modo a enfatizar a diversidade social e geográfica da audiência, com mensagens de pessoas de diferentes classes sociais e de várias partes do Brasil e até mesmo de outros países.

No entanto, essa interação é criteriosamente mediada para consolidar o apoio da audiência ao conteúdo do que é exibido. Em geral, são elogios aos jornalistas e ao canal, e alguns vídeos contêm comentários do espectador em consonância com a abordagem feita a respeito de determinados assuntos.

Defesa de valores liberais e conservadores

Os jornalistas que atualmente formam a bancada fixa de “Oeste Sem Filtro” são Augusto Nunes, Ana Paula Henkel e Silvio Navarro, como comentadores, e Paula Leal, como âncora. Política e economia são os principais assuntos tratados e o foco são comentários críticos sobre a politica brasileira, o governo Lula e a atuação do Judiciário.

Os comentadores, os convidados e os entrevistados têm em comum a defesa da liberdade de expressão, da democracia, dos valores liberais e conservadores e a oposição ao governo Lula e ao espectro político considerado de esquerda. Esse posicionamento conquistou uma audiência liberal e conservadora. Para Lemos (2004), com a internet surgiram novas tribos e o que ele chama de “territorialidades simbólicas”.

“Pode-se falar em comunidade na internet porque a noção de comunidade, numa acepção menos tradicional, sempre esteve ligada ao sentimento de pertencimento, de interrelacionamento íntimo a determinado grupo” (LEMOS, 2004).

Audiência de fãs

“Oeste Sem Filtro” comprova os conceitos de aderência e propagabilidade definidos por Jenkins, Green e Ford (2014), ao enfatizar os valores dos fãs e também ao usar um modelo de produção transmídia. “Em função do engajamento exigido, o destinatário de uma ação transmídia é, idealmente, um fã” (FECHINE e LIMA, 2019).

“Oeste Sem Filtro”, sem dúvida alguma, tem uma audiência de fãs. Mantém uma média de 340 mil a 390 mil visualizações diárias e, no momento da transmissão conta com 70 mil visualizações simultâneas. O canal tem 1,5 milhão de inscritos.

Esses números são bem significativos se levarmos em conta que os canais brasileiros de TV por assinatura que transmitem apenas notícias disputam um público de 250 mil pessoas, divididos entre GloboNews, Jovem Pan News e CNN Brasil, seguidos da Record News e da Band News.

Credibilidade dos jornalistas

Apesar de defender uma pauta de valores caros aos eleitores do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, “Oeste Sem Filtro” não é um canal de pessoas com interesses político-eleitorais. Nenhum de seus membros concorreu a qualquer cargo eletivo. São jornalistas que, apesar da retórica contundente, partem de fatos comprovadamente verídicos para fazerem suas análises. A maioria deles tem uma extensa carreira jornalística, tendo trabalhado nos principais veículos de comunicação do Brasil. Isso confere aos comentadores uma grande credibilidade junto à audiência.

Os três jornalistas que iniciaram “Oeste Sem Filtro” — Augusto Nunes, Guilherme Fiuza e Ana Paula Henkel, deixaram a Rádio Jovem Pan após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais brasileiras de 2022. E levaram o formato já consagrado junto ao público liberal e conservador para “Oeste sem Filtro”.

Formação original de “Oeste Sem Filtro”: Paula Leal, Augusto Nunes, Ana Paula Henkel e Guilherme Fiuza

Seu principal concorrente é “Os Pingos nos Is”, da Jovem Pan News. Segundo dados do YouTube, esse programa tinha, há um ano, quando os atuais jornalistas de “Oeste Sem Filtro” saíram, cerca de 100 mil visualizações por programa.

Formato de telejornal tradicional

“Oeste Sem Filtro” consolidou-se como o principal canal de notícias e opinião para os brasileiros liberais e conservadores principalmente por defender, de forma enfática, os valores dessa audiência. Mas, não é apenas isso que explica o sucesso do canal.

É preciso considerar a escolha acertada de seu formato, como um telejornal tradicional, com notícias, análises e entrevistas, e uma bancada de jornalistas profissionais. A seleção dos temas, convidados e entrevistados converge para uma pauta de interesse da audiência pretendida.

Embora exibido em plataformas digitais e com possibilidade de ser assistido a qualquer momento, 70 mil das quase 400 mil visualizações diárias acontecem enquanto o programa é apresentado, o que demonstra a força do telejornal com hora marcada, momento em que, particularmente no caso de “Oeste Sem Filtro”, a família se reúne diante da tela para consumir informação.

“Oeste Sem Filtro” de 17 de outubro de 2023 alcançou 390 mil visualizações

Modelo de negócio

A possibilidade de interação, dando voz à audiência, é outro ponto relevante. Em cada programa são exibidos apenas alguns vídeos, mas os comentários no YouTube durante a transmissão demonstram a força que o canal tem com o seu público.

Por fim, o modelo de negócio, com a exibição de publicidade de empresas privadas, e campanhas para a assinatura da revista Oeste, que financia o canal, dão consistência financeira ao projeto, que dispensa verbas públicas e não depende da monetização no YouTube.

Com isso, “Oeste Sem Filtro” é hoje não apenas o principal canal de notícias para brasileiros liberais e conservadores, mas também revela-se como um verdadeiro jornalismo on demand, que supre as necessidades de informação de um determinado público.

Augusto Nunes, Silvio Navarro, Cristina Graeml, Ana Paula Henkel e Paula Leal têm uma audiência de fãs

Referências bibliográficas:

- SQUIRRA, Sebastião Carlos de Moraes (2002) O telejornalismo na Internet.

- CAJAZEIRA, Paulo Eduardo Silva Lins (2015) O telejornalismo nas redes sociais online: um estudo de caso luso-brasileiro.

- COSTA, Érica Barroso (2020) Narrativas jornalísticas digitais nas redes sociais: Periódicos Brasileiros e Portugueses em Formato de Stories.

- LEMOS, André (2004) Ciber-Socialidade.

- JENKINS, Henry; GREEN, Joshua; FORD, Sam (2014) Cultura da Conexão.

- FECHINE, Yvana; LIMA, Cecília Almeida Rodrigues (2019). O papel do fã no texto transmídia: uma abordagem a partir da televisão.

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