Meu trabalho já é "do futuro" e o seu?

Priscila Gonsales
#Conexão Educadigital
6 min readJan 16, 2020

Estudo 100 Jobs of the Future traz algumas pistas sobre quais são as aprendizagens relevantes para a convivência humana desde sempre

Personas criadas em em oficina de Design Thinking para Educadores

Viramos, então, o ano de 2020 e com ele mais uma década vai chegando ao fim. Aquele futuro imaginado, tomado pelos avanços avassaladores da tecnologia digital e da inteligência artificial está cada vez mais se concretizando.

Muita coisa vai mudar, especialmente no campo do trabalho. De certa forma, é natural imaginar que poderemos exercer diferentes funções ou ter várias carreiras ao longo da vida, mas ainda não temos nenhuma certeza sobre quais serão os tipos de ocupações que efetivamente surgirão e que vão demandar uma formação nova ou específica.

No entanto, o estudo 100 Jobs of the Future, lançado no segundo semestre de 2019, nos traz algumas pistas. De autoria de duas universidades australianas, Deakin e Griffith, em parceria com a Ford Go Further, o estudo parte do pressuposto de que, no futuro, teremos pessoas e máquinas colaborando efetivamente para fazer o que nenhuma delas poderia fazer sozinha. Bem interessante, não?

A lista das 100 ocupações do futuro foram organizadas em 10 categorias e logo atrás da categoria “Trabalho com Tecnologias”, campeã com 21 possibilidades, vem “Trabalho com Pessoas”, com 14 possibilidades indicadas — mas em várias das demais categorias dá pra ver o quanto o foco em pessoas estará em evidência. Aha!

Se por um lado já podemos supor que o trabalho do futuro exigirá aptidões científicas, tecnológicas e digitais, por outro, valorizamos pouco as habilidades relacionadas ao autoconhecimento e à convivência humana que serão altamente necessárias, quase como um alicerce para o bom desempenho profissional e pessoal.

O ano de 2020 também marca 10 anos de existência do Educadigital, organização social e think tank que fundei para atuar com educação, tecnologias e direitos digitais. É gratificante notar que, mesmo depois de uma década, nosso foco de trabalho centrado nas pessoas (seja de forma “plugada ou desplugada”), continua sendo o que mais se espera no futuro! Confira algumas das ocupações do estudo que destaquei aqui, várias delas já estamos "semeando":

Educador em Inteligência Artificial

Ensinarão as pessoas a usar a IA da melhor forma possível, seja para lidar com robôs domésticos e assistentes digitais, até aprender como usar algoritmos para analisar dados e tomar decisões. Ao contrário de ser um intérprete algorítmico, que apenas explica como uma IA chegou a uma conclusão específica, o Educator em IA vai promover que pessoas compreendam como as máquinas aprendem para poder torná-las mais eficientes e inclusivas.

Negociador de Propriedade Intelectual

Vão precisar conhecer bem o valor da criatividade, pois negociarão em nome de seus clientes pela propriedade ou permissão de uso de novas tecnologias, produtos, software ou outras saídas criativas. Eles também representarão pessoas quando a IA usar idéias sem permissão. Precisarão ter habilidades e conhecimentos avançados em leis de direito autoral dentro de suas jurisdições.

Guia de experiência analógica

Darão suporte às pessoas para ‘desconectar’ da vida digital e reconectar com o mundo natural, sem implantes digitais ou realidade aumentada. Eles ajudarão as pessoas a apreciar uma vida mais simples e mais lenta, experimentando ambientes naturais como florestas ou áreas montanhosas sem acesso digital em infra-estrutura ou vigilância.

Gestor de expansão digital

Terá um alto nível estratégico na maioria das organizações, pois será responsável por escolher quais tecnologias devem ser usadas de acordo com as tarefas, atividades e objetivos. Poderão também projetar processos de trabalho onde humanos e máquinas trabalharão juntos de maneira complementar. À medida que mais humanos buscarem implantes e modificações no corpo/cérebro para aumentar suas capacidades como cyborgs, o profissional terá que cuidar de questões relacionadas a melhores condições e direitos no local de trabalho.

Facilitador transcultural

Serão especialistas com profunda capacidade de responder pelo respeito e direito de pessoas de diversas culturas e origens. Eles vão trabalhar diretamente com pessoas em contextos transculturais, facilitar negociações ou projetos. Muitos também trabalharão com programadores de software, designers de robôs e criadores de experiências de realidade aumentada/virtual. Terão forte conhecimento e comprometimento com princípios de diversidade e inclusão, mobilidade internacional, resolução de conflitos e sensibilidade cultural.

Estrategista de privacidade de dados

Projetarão soluções para proteger dados pessoais. No futuro, será mais desafiante que nunca salvaguardar a privacidade dos dados, porque todos estarão sempre “conectados” às redes através dos implantes digitais em seus corpos que garantam sua saúde e melhorem o estilos de vida. Criarão sistemas e softwares para reduzir o risco de pirataria. Se um sistema for hackeado, eles podem trabalhar para repará-lo, recuperar dados e minimizar o impacto sobre a vidas das pessoas.

Apoiadores para tomada de decisão

No futuro, as pessoas terão assistentes virtuais que usam sistemas de recomendação (com base em algoritmos de machine learning) para ajudá-los a tomar decisões. Contudo, decisões automatizadas nem sempre são assertivas, ainda mais se não há dados corretos disponíveis. Às vezes, as pessoas precisam tomar decisões muito significativas e vão preferir trabalhar com o apoio de um humano para garantir uma escolha mais apropriada.

Hackers éticos

Também conhecidos como ‘chapéus brancos’ ou ‘hackers éticos’, identificarão pontos fracos nos sistemas de cibersegurança. Em um mundo onde todos estão constantemente conectados digitalmente e os dados são coletados sobre tudo, o hacking se tornará um grande problema. Dados pessoais podem ser roubados. Hackers éticos vão usar as mesmas ferramentas dos hackers criminosos, mas para investigar as fraquezas dos sistemas e evitar maus usos. Eles vão trabalhar em equipe para encontrar e corrigir possíveis problemas, corrigir riscos de segurança e combater ataques.

Conselheiro de educação ao longo da vida

Cada vez mais, as pessoas terão várias carreiras ao longo de sua vida. Mesmo se elas permanecerem dentro de uma mesma carreira, com a introdução constante de novas soluções tecnológicas e mudanças sociais, aumentará a necessidade de atualização. Com isso, caminhos de educação e treinamento se tornarão mais complexos, com uma diversidade de profissionais, especialmente aqueles focados em orientar indivíduos e grupos em carreiras emergentes ou como permanecer a par dos avanços da tecnologia.

Programador de robôs para crianças

Vai projetar robôs para apoiar crianças a brincar em segurança, respeitando seus direitos. Poderão ler canções de ninar, personalizar histórias, ensinar números e palavras básicas, apoiar o aprendizado de habilidades, garantindo que elas estão seguras em suas explorações on-line. Precisarão entender sobre primeira infância, desenvolvimento e direitos da infância, bem como teorias de aprendizagem.

Professor da primeira infância

Os professores da primeira infância farão muito do que eles fizeram no início do século 21, mas com ênfase no envolvimento de crianças em interações significativas para aprender sobre idéias e problemas locais envolvendo comunidade e relações sociais, sustentabilidade ambiental, competência intercultural, comportamento saudável, e alfabetização digital. Os robôs farão grande parte dos cuidados básicos de garantir a segurança infantil e os dados dos sensores serão lidos, interpretados e utilizados na tomada de decisão do desenho curricular com foco no perfil individual.

Designer de gameficação

Gamificação é o processo de adicionar lógica e processos do jogo para aprimorar o engajamento do usuário e alcançar melhores resultados. A gamificação pode ser usada em uma variedade de campos, da educação à saúde, para melhorar os resultados da aprendizagem ou aprimorar qualidade de vida. O jogo se tornará uma parte penetrante de nossas vidas com organizações usando gamificação para incentivar comportamentos e aumentar o envolvimento. Por exemplo, organizações de saúde pública poderiam oferecer recompensa para compra saudável ou aumento da atividade física.

Organizador de desordem virtual

No futuro, as pessoas terão muita confusão virtual, porque será cada vez maior a quantidade de dados que elas criam, acessam, usam e guardam. Não apenas terão inúmeras contas de usuário on-line, também gerarão dados de seu corpo e família em sensores. O organizador de desordem virtual ajudará a remover o excesso de dados e organizar o restante. Eles usarão software de gerenciamento de dados e inteligência artificial para fazer seus trabalhos mais fáceis, mas grande parte de seu papel não pode ser feito automaticamente. Eles terão de perguntar ao cliente sobre o que não está funcionando ou onde os dados poderiam ser melhor organizados.

Acesse o relatório completo do estudo (em inglês)

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Priscila Gonsales
#Conexão Educadigital

educadora e pesquisadora, facilita processos educacionais colaborativos com design thinking, doutoranda em Linguagens e Tecnologias, fundadora do Educadigital