7 cantores LGBTs da América Latina que você precisa conhecer!

fabrycio azevedo
fala bicha
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7 min readJun 26, 2018

Nesta quinta-feira (28) comemora-se o Dia do Orgulho LGBT. A data é celebrada mundialmente e visa conscientizar a população para combater o preconceito e intolerância contra gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e pessoas queers* (termo que define quem não se considera heterossexual, pode incluir também não-binários, pansexuais, etc).

O dia marca o levante de Stonewall, evento que falei no texto “Parada Gay, “Pose” e o pertencimento à comunidade LGBT”, que ocorreu em 1969 e representa até hoje um dos principais momentos na luta pelos direitos humanos.

“Orgulho” para mim é uma palavra muito significativa quando relacionada à homossexualidade. Aqui ressalto o termo como símbolo de prazer, de satisfação.

Isso porque quando se fala de gay, uma das primeiras situações mais cotidianas é escutar que “precisa se comportar” diante da sociedade. Esse “comportar” tem um significado claro de anular sua sexualidade e, mais do que isso, os trejeitos que podem denunciá-la.

Celebrar e sentir orgulho de ser gay, lésbica, bissexual, transexual é um exercício diário e precisa ser uma questão em debate na comunidade. Lutar pelo orgulho é lutar para não se sentir inferior a ninguém por sua sexualidade e abraçar as diferentes formas de sexualidade e gênero.

Em homenagem a esse sentimento genuíno, decidi fazer uma lista de artistas que estão fora do armário e lutam pela diversidade na América Latina.

Todos listados atuam de alguma forma para a promoção da discussão de gênero no continente e causam um impacto positivo na comunidade LGBT.

Javiera Mena leva eletropop com composições profundas para as pistas de dança!

Javiera Mena (Chile)

Um dos maiores nomes do pop chileno contemporâneo, Javiera Mena mistura os sintetizadores dos anos 80 com letras românticas e existencialistas. Desde seu primeiro álbum, “Esquemas Juveniles” (2004) a artista conseguiu o respeito da crítica pela complexidade de suas canções e por conseguir retratar sua geração.

Foi a partir de 2014, com “Otra Era” (2014), que a chilena alcançou uma grande projeção em seu país e entrou de vez no mainstream, conseguindo com o álbum uma indicação ao Grammy Latino. Neste ano ela lançou seu quarto disco, “Espejo”, o primeiro de sua carreira sob o selo da Sony Music.

Javiera sempre levantou suspeitas em relação à sua orientação sexual por parte do público chileno, mas a cantora só se pronunciou sobre os boatos em 2014. Durante a promoção de “Otra Era”, Javiera afirmou para a revista Cosas que gostava de mulheres. Apesar de não ter surpreendido seu público, a afirmação pública da cantora foi tida como positiva pelas ONGs LGBT do país e hoje ela é considerada um dos principais ícones lésbicos do Chile.

Autêntica, a colombiana Lido Pimienta luta pela igualdade de gênero e racial na América

Lido Pimienta (Colômbia)

Lido nasceu na mesma cidade de Shakira (Barranquilla, na Colômbia), mas logo se mudou para o Canadá, onde reside atualmente. Sua música tem influências de ritmos afro-colombianos, folclóricos e também uma pitada de pop eletrônico.

Apesar de fazer intervenções artísticas, curadoria e outras manifestações desde 2002, a cantora se tornou conhecida pelo seu disco lançado em 2016, “La Papessa”. O trabalho lhe rendeu até o prêmio de Melhor Álbum na Polaris Prize 2017, principal premiação de música do Canadá, vencendo nomes como Leonard Cohen e Feist.

Recentemente a cantora sofreu ataques na internet porque em um de seus shows, pediu para que as pessoas negras ocupassem as primeiras filas do concerto. Uma parte do público se incomodou com o pedido da artista e decidiu xingá-la nas redes sociais.

Lido se considera uma mulher queer e reforça em todos seus shows a luta contra a discriminação racial, de gênero e de sexualidade.

O queridinho de Björk, Arca trilhou um longo caminho até ser reconhecido pela crítica

Arca (Venezuela)

Alejandro Ghersi, mais conhecido como Arca, tornou-se famoso pelas suas colaborações com artistas como Kanye West, Björk, Kelela e FKA Twigs. Seu trabalho solo chama a atenção pela relação intrínseca com a arte visual e experimental.

O venezuelano, que toca piano desde os sete anos, acabou se mudando para Nova York estudar na Clive Davis Institute of Record Music da NYU. Neste momento ele também decidiu “sair do armário” e assumir sua orientação sexual.

Arca lançou o primeiro EP em 2012. Seus trabalhos iniciais eram feitos de forma amadora no programa de computador Fruity Loops. Com a aceitação da sexualidade, ele se permitiu trazer para sua música elementos da cena underground de Nova York.

Alternando entre trabalhos autorais e produções musicais para outros artistas, Arca é um dos queridinhos da nova geração da música eletrônica.

Miss Bolivia (Argentina)

Quem disse que ativismo e música não se misturam? Formada em Psicologia pela Universidad de Buenos Aires, Paz Ferreyra sempre lutou pelos direitos das mulheres.

Não demorou muito até que a música despertasse o seu interesse e funcionasse como uma nova ferramenta para seus discursos. Assumindo a identidade de Miss Bolivia, em 2008, ela lançou o disco“Alhaja” que lhe deu projeção nacional e internacional.

Graças à seu primeiro trabalho, Miss Bolivia foi contratada pela Sony Music para lançar “Miau” (2013), álbum com doze faixas. Atualmente ela divulga seu terceiro trabalho, “Pantera”, com viés político ainda mais intenso.

Em um dos singles do novo álbum, “Paren de Matarnos”, a cantora alerta para o crescimento dos feminicídios na América Latina e incentiva mulheres a lutarem pelos seus direitos.

Paz sempre falou abertamente sobre sua bissexualidade e também a respeito de seu relacionamento atual, com um homem, que já dura três anos.

Zemmoa (México)

A cantora mexicana Zemmoa já era conhecida da mídia mexicana antes de iniciar a sua incursão no cenário musical. Ela teve um importante trabalho como modelo, que lhe rendeu inclusive o papel de apresentadora da festa do Grammy Latino em Nova York.

Foi apenas em 2016 que Zemmoa usou toda sua criatividade e voz para lançar seus álbuns. Sempre brincando com a pop art, o disco e as cores, a mexicana declarou que não rotula sua música.

“Há muitas nuvens ao meu redor. Nada que as pessoas pensam de mim me define, acho que estou mudando o tempo todo”, afirmou Zemmoa para Vanity Fair em 2013.

Mesmo assim os jornalistas e as revistas de celebridade são apaixonados pela personalidade, que também foi uma das primeiras modelos trans a posar para Calvin Klein.

Mc Xuxu (Brasil)

Mulher, trans, negra, Mc Xuxú precisou enfrentar muitos rótulos para conseguir se lançar na música.

Criada em uma comunidade de Juíz de Fora, ainda jovem se apaixonou pelo rap e funk, ritmo que acabou levando para sua carreira. A cantora viralizou na internet em 2013 com a música “Um beijo para as travestis”.

Do hit para o álbum foram longos quatro anos de espera mas que valeram a pena. “Senzala” chegou às plataformas digitais em 2017 e traz composições cheias de teor político.

Em entrevista para a Revista Híbrida, Xuxú revelou quais são as inspirações por trás das canções:“Tudo o que eu canto é o que eu vivo. Minhas músicas são minha vivência e eu passo por isso: dor, sofrimento, luta.”

Namuel (Chile)

Aos 25 anos, Namuel tem uma carreira invejável na cena musical chilena. Com dois discos lançados: Noche Polar (2013) e Folclorico, o jovem construiu uma carreira sólida no cenário alternativo e sempre falou abertamente sobre sua sexualidade.

Atualmente sem nenhuma gravadora, o cantor continua fazendo barulho na internet, com canções autorais e cheias de ironia. Namuel não se incomoda com as críticas em relação às suas músicas serem de nicho, voltadas apenas para os LGBTs.

“No final tudo que faço é autobiográfico e é genuíno, acho que estou velho demais para criar um personagem e procurar agradar o público heterossexual. Eles já têm todos os meios de comunicação, eu realmente os gasto.”, afirmou para o veículo “Agencia Presentes”.

Um dos principais destaques do chileno, além da voz e das letras, é que ele não tem medo de ser um homem afeminado. Namuel é a personificação do “Orgulho” em sua geração, sem medo de se arriscar, de experimentar e de levantar a bandeira gay.

  • Hoje em dia, “queer” pode ter inúmeros significados de pessoas que não querem que seu gênero/sexualidade seja classificado de forma normativa.

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