8 influenciadores LGBTI+ para acompanhar no YouTube

fabrycio azevedo
fala bicha
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8 min readJul 10, 2018

Nas últimas semanas o youtuber Júlio Cocielo, um dos mais populares (cerca de 4 milhões de inscritos em seu canal) e influentes do país, publicou um conteúdo racista em sua página do Twitter. Na postagem, ele fazia uma comparação entre a velocidade de um jogador de futebol negro e os arrastões.

Os usuários recriminaram o ato de Cocielo e acabaram encontrando mais ideias problemáticas na página do rapaz. Além do racismo, foram encontrados tweets misóginos e homofóbicos. A maior parte das publicações datam de 2013 e 2014, entretanto a postagem preconceituosa do dia 30 de junho mostra como o racismo ainda estava introjetado em seus posts.

O que mais impressiona é que, mesmo após ter expressado inúmeras vezes o seu preconceito (nas mais variadas épocas dessa década), Cocielo acumulou parcerias com marcas famosas, como Adidas, Submarino e Mcdonalds. De duas uma: ou as marcas não investigaram os tweets antigos e o perfil do influenciador, ou elas sabiam de tudo isso e preferiram não se pronunciar enquanto outros usuários não percebessem.

Após uma grande represália na internet, a resposta dos patrocínios foi quase imediata. Adidas, Coca-Cola, Mcdonalds, Gilette e Submarino se posicionaram nas redes sociais repudiando qualquer atitude de preconceito. Algumas afirmaram romper o contrato, enquanto outras decidiram apagar a campanha em que o influenciador participava.

O fato ocorrido, além de incentivar um rico debate sobre racismo (que o Spartakus fez aqui), também proporciona uma discussão sobre os influenciadores e seus conteúdos. Quem são as pessoas que influenciam os jovens atualmente? Qual é o papel de uma pessoa pública como essa na internet e o que ela representa? Como esses influencers contribuem (ou não) para uma sociedade mais igualitária e menos preconceituosa? Pensando nisso, decidi fazer uma pequena lista com alguns youtubers que discutem sobre gênero na internet. Fiz questão de colocar pessoas que se identificam como LGBTI+ e que também trazem esse assunto para os seus inscritos.

Lorelay Fox — Para Tudo

Sempre muito didática e sensata, Lorelay talvez seja uma das youtubers drag queens de maior sucesso no país. O canal “Para Tudo” criado no início de 2015 possui, atualmente, cerca de 480 mil inscritos.

Antes o conteúdo do canal era mais focado em tutoriais de maquiagem, entretanto, Danilo Dabague, criador da Lorelay, decidiu explorar outras questões. O sucesso do canal fez com que a drag fosse escolhida para ser consultora do programa “Amor e Sexo” e alcançasse uma projeção ainda maior.

Lorelay disseca cada tema com muita sutileza, usando exemplos diários e, quando o assunto permite, com muito bom humor e ironia. Através de conteúdos considerados tabus, até mesmo dentro do próprio meio LGBTI+ (como a nossa participação em ambientes tidos como “homofóbicos” no esporte), ela consegue trazer um posicionamento crítico.

Quando me pedem para indicar um canal falo sobre o “Para Tudo”. A linguagem é simples, Lorelay é uma figura carismática e os vídeos são super informativos.

Murilo Araújo — Muro Pequeno

“Bicha negra cristã e militante”, é assim que se define Murilo Araújo, criador do canal “Muro Pequeno”. No espaço, que possui aproximadamente 98 mil inscritos, ele fala sobre racismo, opressão, religião,música, afeto e políticas LGBTI+.

Apesar do canal estar em um hiatus, Murilo conseguiu rapidamente se tornar uma referência tanto na militância negra como na LGBTI+. Em 2017, ele foi convidado para participar do Ethics Of Reciprocity, evento com líderes religiosos da Organização das Nações Unidas (ONU).

Na minha opinião, a grande importância do canal do Murilo é entender mais do recorte LGBTI+ de raça e a importância da representatividade nesse assunto. O debate sobre a falta de diversidade racial, principalmente no movimento Gay, é uma discussão constante na comunidade. Enquanto lutamos por direitos iguais o movimento é extremamente preconceituoso. Nos Estados Unidos alguns ativistas criaram a “Black Gay Pride”, uma Parada “fora de época” para celebrar os LGBTI+ negros.

Canal das Bee

Criado para discutir assuntos referentes à militância, política, racismo e feminismo, o “Canal das Bee” foi um dos primeiros canais de política LGBTI+ que acompanhei no YouTube.

Durante mais de cinco anos de criação eles exploraram diversos conteúdos, desde resenhas de filme e teatro, até viagens para cobrir Paradas e Congressos. O sucesso do canal também proporcionou parcerias incríveis como o vídeo com a Jout Jout, que discute a aceitação do próprio corpo, ou também o com a Maria Clara Araújo, que discute a vivência de pessoas trans na universidade. Hoje em dia são cerca de 350 mil inscritos que acompanham o conteúdo do canal.

No ano passado eles criaram um projeto de financiamento coletivo, o “Bee Ajuda”, que visava reverter a renda para dar acolhimento psicológico à população LGBTI+. O crowdfounding foi bem sucedido e o canal promete mostrar todo o processo do programa.

A característica que mais admiro do “Canal das Bee” é que apesar de alguns desgastes desde a criação do canal, eles nunca abandonaram a politização de seus vídeos. Assumir esse posicionamento nem sempre é fácil, pois enquanto existe uma parte do movimento que luta e se preocupa em produzir esse conteúdo para ajudar os LGBTI+, outra parcela reclama do excesso de ativismo nas redes sociais.

Ariel Modara

Ariel é um homem trans, que em seu canal do Youtube, revela tas principais etapas de sua transição. Os vídeos revelam desde a descoberta dele como transgênero até as cirurgias e a hormonização.

O conteúdo é muito importante tanto para pessoas que se identificam como trans ou genderfluid, como para quem deseja se informar sobre o tema. Assim como boa parte da lista, Ariel começou seu canal em 2015 e possui cerca de 105 mil inscritos.

Apagada por boa parte dos gays, lésbicas e bissexuais, a transexualidade, e principalmente o homem trans ainda é muito pouco representado nos debates LGBTI+. Ariel ajuda a enriquecer essa pluralidade de vozes no YouTube e também contribui para a representatividade nas redes sociais.

Amanda Guimarães — MandyCandy

Com mais de 1 milhão de seguidores em seu canal, Amanda Guimarães, mais conhecida como MandyCandy, consegue alcançar um público muito diversificado.

Em seu canal, além de contar sobre o processo de transição, as cirurgias plásticas e outras questões sociais, Mandy também fala sobre a afetividade e seus relacionamentos. Atualmente, por morar na Coreia do Sul, ela também faz um vídeo sobre as curiosidades do país e a paixão por Kpop. Numa entrevista recente para o G1, Mandy afirmou que não quer ser conhecida apenas por ser trans:

Eu sou muito mais que uma pessoa transexual e posso postar vídeos sobre qualquer coisa. Esse é meu objetivo, mostrar que uma pessoa trans é igual a qualquer outra pessoa”, afirmou.

É surpreendente o sucesso que Amanda faz nas redes sociais. Além do canal, ela também escreveu o livro “Meu nome é Amanda”, onde conta detalhadamente cada etapa da transição.

Ao mesmo tempo em que o Brasil é um dos países que mais mata transexuais, ele é também um dos que mais “fetichiza” essa parcela da população. O site de vídeos adultos, RedTube, fez uma pesquisa em que o termo “trans” aparece como o quarto mais buscado para pornografia. Amanda é resistência do começo ao fim. Mesmo que ela fale sobre outros assuntos, que não necessariamente se volte para o próprio universo LGBTI+, ela representa a luta com a própria existência.

Louie — Louie Ponto

Louie é formada em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina e em seu canal, “Louie Ponto”, discute sobre homossexualidade, veganismo, feminismo e atualidades.

Ela criou o canal em 2008, porém seu conteúdo inicial era focado em covers e músicas. Foi em 2015 que Louie introduziu outros formatos em seu canal. Hoje ela tem cerca de 421 mil inscritos e mais de 25 milhões de visualizações.

Em uma entrevista para a revista Glamour, Louie contou que o bullying na infância fez com que ela começasse a buscar sobre sexualidade aos 14 anos: “Quando você sente que não tem um lugar no mundo, questiona a sua existência. Ninguém deveria ter que passar por isso. Mas, ao mesmo tempo, quando passa, a gente busca conhecimento.”, revelou.

Haruyuki

Entre o Brasil e o Japão, Haruyuki ganhou fama pelos seus vídeos de gringos experimentando comidas brasileiras, imitações e curiosidades sobre o país nipônico. Ele possui aproximadamente 534 mil inscritos em seu canal.

No final do ano passado Haruyuki assumiu-se bissexual, o que gerou uma discussão interessante e dúvidas dos inscritos. Como um reforço da importância do tema ele fez outros conteúdos em que se assumia para os pais e falava sobre os seus relacionamentos.

Por ser um canal focado em humor, Haruyuki consegue atingir a um público que muitos dos outros nessa lista não conseguem. Existe uma parcela de adolescentes ou jovens que reproduzem a homofobia e, dificilmente, entrariam em contato com um espaço de vídeos focado unicamente no universo LGBTI+.

Dionne Freitas

Dionne Freitas é uma ativista intersexo da causa LGBTI+ e terapeuta ocupacional. Ela fundou o canal em 2014, tendo como temática principal a sexualidade e intersecções. O conteúdo dos vídeos é dividido em assuntos mais pessoais, que podem ser gravados no formato vertical (à la stories) onde fala da vida pessoal, ou também mais informativos.

Apesar de não ter o alcance dos outros canais da lista (seu canal possui cerca de 2,3 mil inscritos), ela é uma importante voz do movimento Intersexual. Basta fazer uma pesquisa na internet com seu nome e será possível obter inúmeras matérias em que ela participou para falar sobre a temática.

É muito importante que tenha uma influenciadora intersexo para esclarecer e informar seu público. Só através da inclusão e do respeito à diversidade que podemos caminhar para uma sociedade melhor, e isso envolve todos os seres humanos. Por isso o YouTube é um site tão importante, porque dá uma voz para pessoas que não necessariamente fazem parte do nosso cotidiano, mas que existem e lutam por igualdade.

A principal forma de combater o preconceito é com informação. Então que tal conferir esses influenciadores LGBTI+ e escutar o que eles têm para dizer? Às vezes isso pode transformar a forma como você enxerga o mundo.

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