“Bolsonaro é passaporte para volta do PT”, afirma Alckmin

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7 min readOct 8, 2018

Por Beatriz Carvalho Abrão

Presidenciável Geraldo Alckmin participa de Sabatina na FAAP, realizada pelo Estadão. Foto: Ciete Silvério

Candidato a presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, afirmou que seu adversário do PSL, Jair Bolsonaro, facilita a volta do PT ao poder. Disse que o ex-deputado possui uma candidatura fraca e uma alta rejeição, o que o torna um concorrente fácil para o partido em um possível cenário de segundo turno. “O PT poupa o Bolsonaro, não fala nada. Só bate em mim. Porque tudo que ele quer é um segundo turno com o Bolsonaro.”

Em outro momento da Sabatina, Alckmin foi questionado sobre o tempo de sua propaganda eleitoral gasto para atacar o ex-legislador carioca. “Eu não faço ataque ao Bolsonaro. É ele que fala. Se o que ele fala é ofensivo, o problema é dele”. Falou ainda que apenas expõe as atitudes do oponente, e o faz para fornecer informações ao eleitorado. O candidato ainda citou um anfitrião de seu partido: “Mário Covas dizia ‘O povo não erra, nós precisamos levar a ele todas as informações’”.

Já quando questionado sobre os ataques que sofre de outros partidos, o tucano retrucou a jornalista com um comentário que gerou risadas no auditório: “Bom, a Eliane já respondeu, quando todos atacam é sinal que você deve ganhar a eleição”. E, apesar da realidade exposta pelas pesquisas, se mostrou otimista com a campanha. “Pesquisa Eleitoral é igual perfume, não é para beber, é para saborear”. Falou que a campanha é um momento alto, de confronto de ideias e esclarecimento para o eleitor, e que muitos vão decidir seu voto de última hora por estarem desencantados e precisarem de mais tempo para avaliar e refletir sobre cada candidato. “Eu estou extremamente animado, nós vamos chegar no segundo turno.”

Outro momento de euforia entre a plateia se deu quando um estudante da faculdade o perguntou sobre seu apelido de “Chuchu”. O candidato diz lidar bem com a brincadeira. “Eu acho que um estado de permanente bom humor é uma das melhores provas de inteligência”.

Mudanças e Reformas

Conhecido por sua agenda liberal, Alckmin gastou boa parte do tempo da Sabatina discursando sobre mudanças que pretende fazer. “Estamos numa decisão importantíssima no Brasil: ou ser a bola da vez do crescimento da economia, abrindo a economia, tendo uma inserção internacional importante, atraindo investimentos, fazendo reformas, tendo uma agenda de competitividade, ou nós vamos ser mais um país latino americano no radicalismo com baixo crescimento e pobreza.”

O presidenciável reforçou sua insatisfação com o modelo político lembrando, repetitivamente, a quantidade de partidos no país e a ingovernabilidade que isso acarreta. “Pior do que ter 35 partidos, é ter 25 na câmara federal, as democracias do mundo, tem dois, três partidos, você tem 70% dos votos da câmara.” O deputado atribui esse cenário à falta de reforma política e a decisões do Supremo, que ele julga como equivocadas. Ele desenvolve seu raciocínio, portanto, defendendo a cláusula de desempenho maior, proibição de coligação proporcional, o voto facultativo e o voto distrital misto. E concluiu dizendo: “Eu quero ser presidente para confrontar as corporações, pra defender o interesse coletivo que é órfão todo dia, e uma das razões do fortalecimento das corporações é o nosso modelo político.” Justamente por isso, e também devido a impasses impostos pela constituição, o ex-governador de São Paulo afirma ter feito coligações com o centrão. “Por isso eu fiz uma aliança, que todo mundo tentou fazer, mas nós conseguimos. E todos os partidos tem gente boa” E complementou mais tarde:Pra mudar precisa ter reforma e pra ter reforma precisa ter maioria”.

O candidato pró-mercado também defende a reforma da previdência social, que, segundo ele, apresenta dois problemas atualmente. O primeiro seria o déficit fiscal e o segundo, a injustiça. E afirma querer implementar federalmente o modelo já vigorado durante seu governo em São Paulo: Um só regime de previdência para os novos contribuintes, em que o estado pague o teto do INSS para todos e, os que quiserem contribuir mais, devem contribuir com uma fundação de previdência complementar, ou procurar alternativas em bancos privados. Alckmin argumenta que, desde modo, o modelo será justo para todos e o cidadão é estimulado a trabalhar por mais tempo, para contribuir mais. “Não é mais benefício definido. É contribuição definida, capitalização individual”. Ele complementou sua fala dizendo que haverá um período de transição e que não haverá mudanças pra quem já é pensionista ou aposentado, e que não irá desvincular o salário mínimo da previdência.

Sobre a reforma tributária, disse que irá simplificar o modelo. Arrecadará apenas cinco impostos: IPI, ICMS, PIS, CONFINS, IVA (imposto sobre produtos industrializados, imposto sobre circulação de mercadorias e serviços, programa de integração social, contribuição para financiamento de seguridade social, imposto sobre valor agregado). “O Brasil não é só um país desigual, o Brasil é um dos países mais injustos do mundo. Injusto na maneira como arrecada o dinheiro, porque o mundo inteiro arrecada propriedade, renda e consumo, e o Brasil arrecada majoritariamente no consumo, de forma que quem ganha pouco, paga mais; e injusto na maneira como devolve o dinheiro, paga o trabalhador do setor privado 1400 reais de aposentadoria enquanto paga, para os altos salários do setor publico, até 40 mil.” Ainda sobre taxações o candidato disse que, se eleito, irá tributar dividendos: “Vou reduzir o imposto corporativo das empresas pra atrair mais empresas. E para que as empresas que já estão aqui reinvistam”.

Migrando para o tema de cortes de gastos, Geraldo diz que irá cortar, sempre que possível, os reajustes de salário, que irá reduzir ministérios, cargos, funções, fundações, estatais, e rever os incentivos fiscais. E discorda de todos que evitaram fazer esses cortes para negociar cargos: “Quem achar que vai ter apoio político nomeando cargo tá fora de órbita. Você vai ter apoio político se a economia crescer, se a população tiver emprego, se melhorar a saúde, se melhorar a segurança.”

No que diz respeito a abertura da economia, Alckmin disse que todos tem medo de fazê-la porque isso prejudicaria o mercado interno, uma vez que o produto nacional é muito caro. Então, para garantir uma abertura sem grandes danos os produtores brasileiros, expôs sua agenda de competitividade, formulada pelos economistas Edmar Bacha, Pérsio Arida e José Roberto Mendonça de Barros. O candidato também listou as causas do custo brasil e argumentou contra a ideia de seu adversário Bolsonaro: “Custo Brasil em nada a ver com direito de trabalhador. É custo do dinheiro, é imposto demais, é burocracia e falta de logística em infraestrutura.

O presidenciável também esclareceu algumas dúvidas sobre privatizações. Disse que não irá privatizar o BNDES, mas irá estimular a presença de mais bancos para gerar competitividade. Para isso, irá revogar o decreto que exige a autorização do presidente da república para a entrada de banco estrangeiro no país. O ex-governador de São Paulo também afirmou que não irá privatizar a Petrobrás, mas que que irá chamar a iniciativa privada para investir no refino do petróleo, também com o intuito de gerar competitividade. Sobre a empresa, afirmou: “Não vou trocar monopólio estatal por monopólio privado. O que nós vamos é quebrar o monopólio. E, na prática, é no refino que tem monopólio”.

Em relação à política externa, o tucano disse que terá um ativismo muito grande com Mercosul e com a União Europeia e expôs sua intenção de fazer parte do TPP (parceria transpacífico). O candidato ainda analisou o contexto global e afirmou que a onda de protecionismo se dá em defesa ao emprego. “Nós vamos defender o produto brasileiro nesse momento de protecionismo, defender com empenho e conquistar mercado, fazer acordos comerciais”. Também sobre questões diplomáticas, comentou sobre a Venezuela. “Nós não temos como impedir que eles entrem. O Brasil tem uma tradição humanitária. Mas, precisamos ser duros na defesa da democracia”.

Propostas

O candidato do PSDB também foi questionado sobre questões mais básicas como segurança pública, educação e direito das mulheres.

O presidenciável afirmou que o principal problema da segurança pública é o tráfico de droga. “O Brasil não é passagem de droga, ele é consumidor de droga. Quem é a vítima da droga? É o jovem, do sexo masculino e de baixa escolaridade”. E propôs o investimento na união de informações das diversas inteligências, e a criação de uma guarda nacional de caráter permanente para o governo federal. Ele também comentou sobre o tema da maioridade penal e disse que não irá reduzi-la, porém mudará a lei para evitar a impunidade. Crimes graves terão pena de oito anos ao invés de três; adolescente que completarem 18 anos dentro da fundação CASA serão transferidos para alas isoladas em penitenciárias; e pena maior para quadrilhas que utilizarem menores de idade. Sobre o desarmamento, defendeu a posse de arma apenas em áreas rurais. Quanto ao espaço urbano, afirmou: “É irracional. Quem tem que enfrentar criminoso não é o cidadão comum, é a polícia. Não é função das pessoas fazerem segurança. Isso é uma inversão do Estado”. E terminou falando sobre o crime organizado: “Nós precisamos nos unir, ao invés de ficar um culpando o outro. É dar as mãos e melhorar a legislação, ter mais penitenciárias de segurança máxima, diálogo com o judiciário pra ter mais RTT, não demorar tanto”.

No assunto educação, o candidato pretende ampliar o acesso ao ensino infantil, porque esta faixa etária é essencial para o desenvolvimento da criança e também porque as mães precisam ter onde deixar seus filhos para poderem trabalhar. Disse que o problema no ensino fundamental não é a quantidade de vaga, e sim a qualidade, e pretende melhorá-la. Defende a Reforma do Ensino Médio, que tem uma base comum curricular, mas que também permite que o aluno escolha aéreas de seu interesse. E, por fim, irá remanejar a maneira como o MEC investe dinheiro atualmente (70% em Ensino Superior e 30% para Ensino Básico).

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