Bolsonaro eleito: retrato de um Brasil conservador ou em busca de mudança?

Especialistas analisam o processo eleitoral e traçam perspectivas sobre o tom do futuro governo

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3 min readDec 11, 2018

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Por Giovanna Tuneli

O presidente eleito, Jair Bolsonaro: vencedor de um pleito que privilegiou a discussão de costumes | crédito: EBC/WikimediaCommons

Com Jair Bolsonaro eleito presidente da República, questionamentos sobre como será o ano de 2019 no Brasil são inevitáveis, pois o novo sempre traz especulações. O futuro presidente foi derrotado nas urnas apenas em Sergipe, Piauí, Maranhão e Bahia. Mas, independentemente dos resultados apontados pelas urnas, a população ainda parece estar dividida entre medo e esperança, torcendo por um futuro melhor para o Brasil.

Guerreiro Parmesan, historiador, retrata a atipicidade da corrida eleitoral: “Bolsonaro acabou virando uma espécie de referendo sobre o grau de antipetismo da população. Se já não bastasse tudo isso, temos, pela primeira vez, a interferência marcante de campanhas subterrâneas no universo virtual, algo já perceptível no impeachment de Dilma Rousseff, no Brasil, e na vitória de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, mas que no caso da eleição presidencial brasileira veio de forma mais profissional, por meio das tais correntes de WhatsApp. Parece irrelevante, mas não foi. Acompanhei que simultaneamente à propagação de tais correntes, a rejeição a Haddad crescia exponencialmente, quase dando a Bolsonaro a vitória no primeiro turno”.

Para o próximo governo, ele diz que é possível fazer estimativas com base em comparações com acontecimentos do passado. “Entramos numa era de involução. E num cenário desses, professores, intelectuais, artistas engajados, lideranças populares, jornalistas independentes e escolhas identitárias alternativas são as maiores vítimas”, aponta Guerreiro. Além disso, é colocado que os sinais de retrocesso, como mortes, surras, invasões a centros acadêmicos, criminalização de ativismos e promessas de sequestro publicitário a jornais e centros culturais, não podem ser ignorados.

O geógrafo e professor de Atualidades Jorge Covac, explica que a eleição presidencial alterou na imagem do Brasil lá fora: “É só ver em todos os grandes jornais, principalmente da Europa e dos Estados Unidos, uma preocupação com essa guinada à extrema-direita que o Brasil deu. Precisa ver exatamente como vai ficar este governo que atende de um lado o mercado e as teorias liberais, com o ministro da economia Paulo Guedes e a privatização. Mas também tem o lado do conservadorismo, então realmente é uma expectativa do mundo”.

Parmesan completa que “o principal comentário dos líderes europeus vai neste sentido: uma espécie de receio que América do Sul tenha candidaturas de perfil neofascistas crescendo.” Segundo ele, esse contexto também poderia facilitar o crescimento intervencionista norte-americano, considerando que Trump inspira lideranças autoritárias.

Segundo Parmesan, o uso ostensivo de transmissões ao vivo pelas mídias sociais não se trata de uma manobra apenas eleitoreira. “Bolsonaro usará esse artifício, juntamente com emissoras que lhes são e serão subservientes para manter este mundo paralelo e assim, entre seus devotos, destruir a credibilidade de outras instituições de comunicação social que façam contraponto ao seu perfil e projeto”, diz. Ele aponta que “Bolsonaro incorporou bem a utilização das redes sociais, aliás como o Trump também havia feito. Trump governa muito pelo Twitter. A primeira declaração dele foi feita numa live”.

Por fim, Covac afirma que a sociedade brasileira demonstrou um viés conservador ao eleger Bolsonaro e isso tem como fonte basicamente os discursos relacionados à violência e à corrupção. “Essa questão das ideologias, do confronto de minorias, acabou acirrando a população brasileira de modo geral. Tanto que essa foi uma eleição de discussão de costumes. Não se discutiu educação, saúde, comércio externo, cultura, nada”, conclui.

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