“Sou subestimada como todas as mulheres brasileiras”

Em sabatina, a candidata à Presidência Marina Silva fez discurso para se aproximar das eleitoras

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6 min readOct 7, 2018

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Por Beatriz Carvalho Abrão

Candidata à presidência Marina Silva participa de sabatina realizada pelo Estadão | Foto: Beatriz Carvalho Abrão

A presidenciável Marina Silva, da Rede, tem reforçado em seu discurso a importância de expor uma dificuldade comum a todas as mulheres: o desmerecimento. A candidata não chega a assumir que a pauta dos direitos femininos ganhará corpo em sua campanha, mas passou a enfatizar o quanto tem de se defender dos recorrentes comentários que recebe sobre ser frágil demais para o cargo que pretende ocupar. “É uma forma de desqualificação das mulheres. Muitas mulheres como eu têm que provar o tempo todo que pensam, que são inteligentes, que sabem”, disse durante sabatina do jornal O Estado de S. Paulo, no final de agosto. “Eu vejo as pessoas me subestimando, como são subestimadas as mulheres brasileiras. ”

Marina se mostrou disposta a reforçar este embate. “A gente tem que provar duas vezes, mas eu me submeto ao teste. Eu sou especialista em passar por frestas”. E concluiu seu pensamento fazendo um apelo ao eleitorado feminino. “Eu quero falar com as mulheres brasileiras. Eu nunca mais quero ver uma mulher sendo subestimada, não quero ver uma mulher sendo tratada como se não pensasse, como se não pudesse. Nós podemos e nós vamos transformar essas frestas em grandes portais”.

A candidata se posiciona contra o ato do aborto. Porém, declara que mulheres que o praticam não deveriam ir para cadeia, e sim ter assistência médica, psicológica e acolhimento. Acha mais prudente que a questão seja resolvida por meio de um plebiscito (convocado pelo legislativo), uma vez que o assunto é polêmico e complexo. “Se for para ampliar para além daquilo que já existe (de direitos ao aborto), o melhor caminho é um plebiscito”.

Reformas

O tema das reformas (política, trabalhista, previdência e fiscal), devido à demanda do mercado e à preocupação de especialistas, tem ganhado mais espaço nos últimos dois anos. O que refletiu o destaque desse tópico na sabatina.

Marina defende a reforma política em duas etapas. Na primeira, a mudança de postura do eleitor, “O cidadão brasileiro agora tem oportunidade de substituir mais de 200 investigados por parlamentares que não estejam envolvidos em casos de corrupção”, ação que a candidata denomina de Operação Lava Voto. Na segunda, a reforma da estrutura do modelo político. A candidata da Rede propõe acabar com a reeleição; implementar o voto distrital misto; aprovar uma lei que determine o fim do fórum privilegiado; criminalizar o caixa 2; estender Lei da Ficha Limpa para cargos do executivo; aumentar o tempo do mandato dos executivos para cinco anos a partir de 2022; e diminuir o mandato dos legislativos para dois anos.

Além disso, a presidenciável defendeu a reforma trabalhista, parafraseando o economista Eduardo Giannetti. “Nós precisamos sim de uma reforma trabalhista para ajudar para que aqueles que estão na informalidade possam ter acesso ao mercado de trabalho, e para desonerar a folha de pagamento”. Entretanto, disse que irá “rever pontos inaceitáveis da reforma”, como o tempo de almoço, o trabalho intermitente, o acesso a justiça (particularmente o pagamento da perícia trabalhista), o imposto sindical e a situação de mulheres trabalharem em condições insalubres.

A candidata ainda defendeu a necessidade de fazer a reforma da Previdência para fechar as contas públicas. “Não faz sentindo, no mundo todo, aposentar pessoas em idades ainda produtivas”. Argumentou que a idade mínima deve existir e deve ser diferente entre os gêneros. Para sustentar sua tese de que mulheres devem se aposentar mais cedo, apesar de terem maior expectativa de vida. Marina utilizou-se de um dado coletado pela UFMG, que prova que as mulheres realizam mais trabalhos domésticos do que os homens. Segundo o estudo, as mulheres fazem 85% dos afazeres de casa.

Já quando interrogada sobre a crise fiscal, a ex-senadora pelo Acre afirmou que, se eleita, a controlará por meio do combate a corrupção, da eficiência dos gastos públicos, da avaliação de desempenho e da redução da máquina pública, sem o aumento da carga tributária e sem gastos desnecessários. Declarou: “Nós vamos controlar os gastos públicos, mas sem que isso recaia sobre os mais frágeis”.

Propostas

Não pela primeira vez, a candidata foi alvo de críticas sobre suas propostas amplas e genéricas, como aconteceu nas Eleições de 2014. Sobre isso, disse: “Eu acho que nesse momento os candidatos não podem, mais uma vez, achar que vão enganar a população. Se eu ainda não tenho uma proposta pronta e acabada, eu estou dizendo isso para os cidadãos brasileiros. E estou dizendo que vou debater sim com a sociedade, e com os especialistas, sobre algumas questões. ”

As primeiras propostas comentadas por Marina foram as de segurança. Sobre o tema, a candidata ofereceu as soluções de implementar o Sistema Único de Segurança Pública, com o Plano Nacional de Segurança Pública; integração de ações entre União, estados e municípios; priorizar nas manchas criminais; unir inteligência à tecnologia; fornecer formação continuada e melhor remuneração para os policiais; e aliar a justiça social e econômica ao policiamento. Quando questionada, pela plateia, sobre a posse de armas, a candidata respondeu: “Não se vai resolver o problema da violência distribuindo armas para a população” e atacou indiretamente o seus concorrentes dizendo: “Por que você dizer que quer ser presidente da República para entregar a população a sua própria sorte, dizendo que, se ela quiser resolver o problema da violência, que compre uma arma e se defenda?”

Ainda abordando seu programa de governo, Marina disse que investirá tanto no ensino primário, quando no ensino médio e no superior. A candidata ainda disse considerar importante a retroalimentação entre pesquisa e extensão no ensino superior, prometendo recuperar os recursos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) na medida em que recuperar o orçamento público. E em relação ao Fies, programa do governo federal para financiamento do ensino superior, disse que precisa ser reavaliado, apesar de ser uma modalidade de acesso à educação no Brasil.

Em seguida, Marina comentou sobre a geração de energia. Destacou as vantagens territoriais, climáticas e topográficas do país para a utilização de matrizes energéticas limpas e renováveis. Apresentou sua proposta de criação de uma economia sustentável, que alie tecnologia a empregos, e sua intenção de deslocar verbas de termoelétricas para investimentos em energia solar.

Ainda falando sobre meio ambiente, foi questionada sobre sua dificuldade em conquistar eleitores ligados ao agronegócio. Em resposta, a candidata expôs sua vontade de integrar sustentabilidade ao agronegócio e defendeu o ganho de produção por aumento de produtividade, e não por desmatamento.

Relação com concorrentes

Por já ter sido filiada ao Partido dos Trabalhadores, Marina foi questionada sobre sua sutileza nas críticas que faz ao ex-presidente Lula, preso desde abril em Curitiba, condenado por corrupção. A candidata se defendeu explicando que não faz estardalhaços ao criticar partidos porque não usa isso como estratégia para se promover. Mas reconhece dar mais ênfase aos candidatos que estão soltos. “Numa democracia civilizada, não se fica tripudiando de quem já está sob a responsabilidade do Estado.”

Ainda sobre o PT, foi indagada sobre sua posição em relação à presença de Fernando Haddad, candidato petista a vice-presidente, no debate da Band. “Não vetei o Haddad, a única coisa que a minha assessoria disse para os organizadores do debate é que se fosse possível a participação de vice, eu teria mantido a minha agenda e mandaria o Eduardo, que tem a mesma competência para fazer o debate”. Rebateu a candidata.

Marina também comentou sobre o embate com Jair Bolsonaro (PSL) no debate Presidencial da Rede TV!. Na ocasião, Marina confortou o candidato sobre a diferença salarial entre homens e mulheres. “Ali foi um processo vivo, espontâneo. Política para mim é um processo vivo. Não existe essa história de você planejar como vai se comportar nessa ou naquela situação. Nem todas as variáveis são controladas.”

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