Fonte: Abcon Sindcon

Estratégias de Recuperação de Receitas para Empresas de Saneamento

Bruno Barros
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17 min readSep 23, 2019

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Por Moisés Simões e Bruno L. Rodrigues Barros

RESUMO

Água potável e saneamento básico são insumos de utilidade pública essenciais à vida humana, além de um direito humano básico, e os impactos de sua eficiente distribuição não são apenas de ordem econômica, mas afetam, sobretudo, a saúde e o bem-estar da população, com implicações no meio ambiente. Neste sentido, é dever das concessionárias de água e saneamento implementar estratégias que maximizem esforços e recursos, no intuito de melhorar seus serviços, com vistas à universalização do acesso da população ao seu direito, a um preço socialmente justo. Dentro deste contexto, faz-se urgente identificar as perdas de água e consequente perda de receita das companhias, como forma de aumentar seu poder de investimento, definindo estratégias para a mitigação destes desvios, sobretudo em um cenário de abundância de recursos, mas deficitário em sua distribuição, e investimento público, a médio prazo, abaixo do esperado para o setor.

O objetivo deste trabalho é contribuir com a discussão, ao propor estratégias de recuperação de receitas de empresas de saneamento, identificando as “perdas aparentes”, quais sejam, o volume de água que chega ao consumidor final de maneira efetiva, mas que, por algum motivo, não é faturado pelas concessionárias, e seu impacto na saúde financeira das empresas, tratando ações que podem ser realizadas na esfera comercial e operacional, com enfoque no consumo não-autorizado, tantos os provenientes de derivação de ramal, by-pass e ligação clandestina, quanto os provenientes de imprecisão de medição (falhas nos hidrômetros).

A metodologia aplicada compreende cincos passos: conhecer as causas das “perdas aparentes” ou “não físicas” de água, e sua consequente redução de receita; estabelecer metas; definir as ações para alcançá-las; monitorar a execução das ações e, por último, padronizar avaliações dos resultados. Como resultado, espera-se, a partir de metas de desempenho que considerem o cenário maior dos índices de perda de distribuição de água nacional e regionais, diminuir gradativamente essas perdas, lembrando-se de que não existem modelos de distribuição nos quais tais perdas não existam, ou se aproximem do zero.

INTRODUÇÃO

Conforme afirma MARGULIES (2018), a respeito da necessidade de investimentos no setor de água e saneamento: em 2016, algo em torno de trinta e cinco milhões de pessoas ainda não contava com acesso à água tratada, fora os cerca de cem milhões sem acesso à rede de esgotamento sanitário, sendo necessário “o investimento de mais de R$ 20 bilhões de reais anualmente até 2033, valor utópico se considerarmos o cenário de restrição orçamentária dos entes federativos” [1].

Não bastasse a realidade econômica desfavorável para se investir, OLIVEIRA, SCAZUFCA, MARCATO, ORJUELA, AROUCA e AGUIAR (2015) consideram que “a premência na implementação de planos e ações efetivas focadas na redução das perdas torna-se ainda maior com as atípicas variações climáticas recentes, que estão gerando escassez do recurso hídrico em diferentes regiões do Brasil” [2]. Diante deste cenário, novos aportes para os investimentos nas redes de distribuição do setor passam por estratégias que reduzam as perdas de água, recuperando o fôlego financeiro das concessionárias, estimulando sua expansão.

Para serem bem-sucedidas, tais estratégias de recuperação de receitas de empresas de saneamento precisam começar no dever de casa, que passa pela identificação dos “ralos” através dos quais as receitas estariam escoando, e na customização de ações eficientes para “tapá-los”, sem abrir mão da performance nas atividades diárias das companhias. O passo seguinte é definir um cronograma de execução para estas ações, ajustando as ferramentas de avaliação dos resultados esperados, levando em consideração as mais diversas variáveis envolvidas na resolução dos problemas.

Segundo o Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos 2017 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), o que escoa por tais “ralos” não é apenas a água viabilizada para distribuição, que não chega até seu consumidor final porque se perde no caminho, não sendo, portanto, faturada pelas empresas de saneamento. Estas são as perdas compreendidas como “perdas reais” ou “físicas. Além delas, há outro tipo de perda, igualmente impactante para a saúde financeira das companhias, denominadas como “perdas aparentes” ou “não físicas”. Estas, são caracterizadas pelo volume de água que chega ao consumidor final de maneira efetiva, mas que, por algum motivo, não é faturado pelas concessionárias destes serviços[3].

O SNIS (2017) segue na distinção, considerando como “perdas reais” as advindas de vazamentos nas tubulações das redes e ramais de distribuição, e as “aparentes” como resultantes de falhas de erros de medição, ligações clandestinas, by pass irregulares, dentre outras circunstâncias operacionais. De qualquer modo, como bem observado por PERTEL, AZEVEDO e JÚNIOR (2016), ambos os tipos de perda influenciam o total do índice de perdas na distribuição de água, e é a partir dele que é feita a extração de indicadores de desempenho que, relacionados à sua redução, apresentam um indicativo de que é possível equacionar melhor os investimentos, com vistas à universalização do acesso aos serviços oferecidos pelas concessionárias[4].

Concentrando-se nas “perdas aparentes”, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), em seu manual Redução de Perdas em Sistemas de Abastecimento de Água (2014), define as “perdas aparentes” entre duas réguas, “consumo não autorizado (fraudes e falhas de cadastro) ”, e “imprecisão de medição (falhas nos hidrômetros) ”, dentro do espectro da “água não convertida em receita”. Dentro deste contexto, para se traçar estratégias de recuperação de receitas é preciso:

a) Conhecer as causas da perda de receita;

b) Estabelecer metas;

c) Definir as ações para alcançá-las;

d) Monitorar a execução das ações e,

Padronizar avaliações dos resultados.

DIAGNÓSTICO DAS CAUSAS

Segundo o Manual Sobre Contratos de Performance e Eficiência para Empresas de Saneamento no Brasil (2013), produzido pela International Finance Corporation (IFC), o êxito na implementação de estratégias para a diminuição de perdas e correlata recuperação de receita de uma empresa depende de uma base confiável de informações. Logo, minerar os dados com velocidade e eficácia, formando uma base de informações com eles para, em seguida, interpretá-los com objetividade, é o primeiro passo para avançar com os resultados de forma efetiva. Para aumentar o nível de exatidão das informações, é preciso analisar todas as etapas do fornecimento, mensurando quanto de água não está sendo faturada, para quais “ralos” ela está escoando (se consumo não autorizado ou falha nos hidrômetros), e quais as razões que mantêm esses “ralos” abertos.

Neste momento, é importante que a concessionária tenha um sistema de informações gerenciais para a área comercial atualizado e flexível, convertendo-se em uma ferramenta de grande importância para o processo decisório do corpo de gestores da companhia. Do diagnóstico das causas, ou seja, da transformação dos dados coletados em informações que darão suporte às ações, depende a otimização dessas ações de forma eficaz e eficiente, capacitando a concessionária a alcançar suas metas estabelecidas, através do uso racional dos recursos disponíveis.

DEFINIÇÃO DAS METAS

Após o mapeamento das perdas, a definição das metas estabelecidas para combatê-las, recuperando a receita da empresa, passa pela compreensão do cenário maior no qual as concessionárias estão inseridas, o que tanto serve para a orientação dos recursos e estratégias a serem empregadas, quanto para a determinação de parâmetros de pontos de partida. A leitura do Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos 2017 do SNIS, por exemplo, informa que as prestadoras de serviço do Estado de Pernambuco que participaram do SNIS em 2017, marcaram 52% no índice de perdas na distribuição de água, e que a região Nordeste apresentou, junto à região Norte, os maiores valores deste índice, totalizando 46,3%. Conhecer a realidade dos valores macro é importante para a delimitação de metas objetivas, condizentes com a análise do panorama geral.

Analisando de uma perspectiva de sete anos (2011 a 2017), e considerando o índice percentual de perdas na distribuição de água por região e totais do país, tem-se o seguinte quadro:

Fonte: SNIS, Diagnósticos dos Serviços de Água e Esgoto, anos 2011 a 2017.

Do quadro acima, que considera todos os tipos de prestadoras de serviços que participaram do SNIS no intervalo indicado (2011–2017), depreende-se que o índice de perdas na distribuição de água é elevado, ficando a média nacional nos últimos sete anos em torno de 36,7%, com regiões apresentando índices superiores à média nacional. Nesse sentido, pouco se conseguiu avançar no que se refere às estratégias para combater as perdas de água na distribuição, indicando ser esta uma das questões mais sensíveis para a recuperação de receita das concessionárias.

A evolução demonstrada sugere a vulnerabilidade de boa parte do setor, ao passo em que oferece um ponto de partida e uma gama de estímulos para que governo e concessionárias possam propor soluções estratégicas nesta área de gestão. A baixa eficiência mensurada, portanto, deve servir como estimulante, no sentido de maximizar esforços, a partir dos recursos disponíveis.

Além da questão da realidade das metas, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), em seu manual Controle e Redução de Perdas nos Sistemas Públicos de Abastecimento de Água (2015) aponta dois limites (um econômico; o outro técnico), a partir dos quais as metas devem ser definidas, levando em conta as limitações de cada concessionária, ao considerar se os custos de execução das estratégias contra as perdas são equivalentes aos custos de exploração da água (limite econômico); e se os métodos e tecnologias disponíveis são suficientes para reduzir as perdas até uma porcentagem realista (limite técnico). Some-se a isto a perspectiva de que a recuperação de receitas não deve se restringir a ações pontuais, mas ser incorporada aos processos regulares das empresas, com vistas ao alcance de metas a longo prazo.

PROPOSTAS DE ESTRATÉGIAS

As propostas deste trabalho se baseiam no levantamento bibliográfico indicado, no que diz respeito à identificação dos “ralos” das perdas na rede de distribuição e nos principais métodos de atuação para sua diminuição, considerando que a escolha das estratégias a serem empregadas depende do tipo de perda em análise, do contexto no qual ela se insere, dos agentes envolvidos na ação, da infraestrutura tecnológica e operacional da concessionária e da definição da meta que se deseja alcançar. Desse modo, dentro do escopo deste trabalho, o desenho do planejamento estratégico deve considerar, no plano comercial, as metas para aumento da receita, implementando ações que caminhem paralelamente à regularidade e desempenho dos serviços de abastecimento. Parar o funcionamento de parte das redes para sanar “ralos” só traria mais perdas comerciais, de modo que o mais acertado é otimizar os recursos sem prejudicar a capacidade de geração de receita das concessionárias.

Direcionando este artigo para as duas réguas definidas pela FUNASA (2014), serão propostas estratégias para as perdas relacionadas a consumo não autorizado (fraudes e falhas no cadastro comercial), e imprecisão de medição (falhas nos hidrômetros) ”. Antes, porém, uma ação geral, que compreenda todas as demais estratégias, direcionada para os dois tipos de perdas, seria a de criar, na concessionária, um setor próprio de gestão estratégica contra os desvios na distribuição da água, cuja atribuição essencial fosse a de estabelecer canais de comunicação entre os demais setores da empresa, com vistas à uniformização das ações e à integração das rotinas de controle das perdas de água.

CONSUMO NÃO AUTORIZADO

Para além das falhas no cadastro comercial (as quais atravancam a formação de um eficiente banco de dados sobre a rede de saneamento, que embase ações operacionais mais diligentes e eficazes), o consumo não-autorizado é um tipo de fraude que se baseia no desvio de volumes de água mediante a adulteração das ligações regulares efetuadas pelas empresas de saneamento, valendo-se de expedientes que dificultam a real medição da água que flui através dos hidrômetros. Tais defraudações, em geral, dividem-se em três procedimentos:

1. Derivação de Ramal — consistindo na instalação de uma ramificação do ramal sem autorização da concessionária, desviando água para outra economia;

2. By-pass — diferindo da derivação do ramal por ser uma ligação de água colocada antes da passagem do hidrômetro, adulterando ou impossibilitando a correta medição do consumo.

3. Ligação clandestina — consistindo em conectar uma instalação predial na rede de distribuição de água, executada sem conhecimento da concessionária, para utilizar volumes de água sem registro.

Identificados os tipos mais comuns de consumo não-autorizado, as ações devem ser personalizadas, de acordo com as especificidades dos três tipos. No entendimento deste trabalho, elas devem priorizar:

a) O aperfeiçoamento das ferramentas de extração de dados, identificando o alto consumo e o estouro de consumo das economias, por faixa de consumo (derivação de ramal e by-pass);

b) O aperfeiçoamento dos sistemas de monitoramento das redes de água, delimitando sua extensão e número de ramais, facilitando a inspeção de desvios na infraestrutura existente (para os três tipos);

c) O treinamento de equipes de verificação de fraudes em campo, apoiadas por ordens de serviço precisas e objetivas (para os três tipos);

d) A confirmação da fraude, com retirada do hidrômetro e aplicação de sanções e multas dos responsáveis (para os três tipos).

e) SOARES, KUSTERKO, HENRIQUE e SANTOS (2017) sugerem, para detectar e solucionar ligações clandestinas e demais perdas, a setorização por distritos de medição e controle (DMC), pois delimita a área de procura, favorecendo a análise dos dados.

A definição de uma rotina de inspeção dos locais já mapeados, com treinamento dos leituristas em campo e foco na identificação e percepção de possíveis irregularidades.

IMPRECISÃO NA MEDIÇÃO

No que se refere à imprecisão (falha) na medição dos hidrômetros, conforme afirma MELATO (2010) com base em dados da SABESP (2005), esta pode estar ligada sobretudo: a) à imprecisão de macromedidores existentes; b) à má qualidade do medidor; c) à submedição; d) ao dimensionamento inadequado do medidor; e) a detritos nas redes de distribuição; f) ao efeito decorrente do uso de caixas d’água; g) ao envelhecimento do parque de hidrômetros e, h) à inclinação dos hidrômetros.

Para estes casos, são propostas as seguintes ações:

a) Investir em ferramentas eficazes para o monitoramento e gerenciamento adequado da macromedição, a partir de parâmetros efetivos de aferição, estabelecidos de acordo com normas técnicas;

b) Segundo a ABES (2015), efetuar um trabalho periódico de avaliação de submedição dos hidrômetros instalados, de modo que, após estimar um volume relativo às fraudes, chegar às “perdas aparentes” e, por diferença, às “perdas reais”, as quais devem ter seus consertos agilizados;

c) Investir na análise da performance e da vida útil dos hidrômetros instalados, otimizando a substituição dos hidrômetros que estiverem fora da curva, dando preferência para modelos de maior precisão. Dada a dificuldade de se identificar o desempenho dos hidrômetros por local de instalação, minerando aqueles que precisam ser substituídos, neste ponto, deve-se considerar o investimento em uma ferramenta gerencial de acompanhamento da instalação/substituição dos hidrômetros em campo, que opere em uma modelagem dimensional adaptável, capaz de cruzar os mais variados dados relativos aos hidrômetros (como localização, tempo de uso e características) a partir de modelos intuitivos, simplificando a análise.

d) Estabelecer um plano de renovação dos hidrômetros, a partir do monitoramento do seu desgaste, substituindo também os hidrômetros inclinados, cujo funcionamento pode confundir as leituras;

e) Definir um cronograma de inspeções e pesquisa da rede, com foco na limpeza dos detritos;

f) Investir na ampliação das redes de abastecimento feito diretamente pela carga da rede de distribuição, evitando o uso de caixas-d’água, e o consequente efeito deste uso, que faz com que a vazão contada pelo hidrômetro seja menor do que as que ocorrem nos pontos de consumo da economia, devido ao amortecimento ocasionado pelo volume da caixa (MELATO, 2010, apud SABESP, 2005);

g) Manutenção preventiva.

Do visto acima, entende-se que as estratégias propostas para a contenção de perdas e recuperação de receita das concessionárias agregam ações de aperfeiçoamento da gestão comercial, com técnicas de ampliação e melhoria da infraestrutura, compreendendo, segundo KUSTERKO, ENSSLIN, CHAVES (2018) “manutenção preventiva, controle de qualidade de materiais, agilidade e priorização no conserto de vazamento, modernização de equipamentos, capacitação de equipes”.

No que se refere à imprecisão (falha) na medição dos hidrômetros, conforme afirma MELATO (2010) com base em dados da SABESP (2005), esta pode estar ligada sobretudo: a) à imprecisão de macromedidores existentes; b) à má qualidade do medidor; c) à submedição; d) ao dimensionamento inadequado do medidor; e) a detritos nas redes de distribuição; f) ao efeito decorrente do uso de caixas d’água; g) ao envelhecimento do parque de hidrômetros e, h) à inclinação dos hidrômetros.

Para estes casos, são propostas as seguintes ações:

a) Investir em ferramentas eficazes para o monitoramento e gerenciamento adequado da macromedição, a partir de parâmetros efetivos de aferição, estabelecidos de acordo com normas técnicas;

b) Segundo a ABES (2015), efetuar um trabalho periódico de avaliação de submedição dos hidrômetros instalados, de modo que, após estimar um volume relativo às fraudes, chegar às “perdas aparentes” e, por diferença, às “perdas reais”, as quais devem ter seus consertos agilizados;

c) Investir na análise da performance e da vida útil dos hidrômetros instalados, otimizando a substituição dos hidrômetros que estiverem fora da curva, dando preferência para modelos de maior precisão. Dada a dificuldade de se identificar o desempenho dos hidrômetros por local de instalação, minerando aqueles que precisam ser substituídos, neste ponto, deve-se considerar o investimento em uma ferramenta gerencial de acompanhamento da instalação/substituição dos hidrômetros em campo, que opere em uma modelagem dimensional adaptável, capaz de cruzar os mais variados dados relativos aos hidrômetros (como localização, tempo de uso e características) a partir de modelos intuitivos, simplificando a análise.

d) Estabelecer um plano de renovação dos hidrômetros, a partir do monitoramento do seu desgaste, substituindo também os hidrômetros inclinados, cujo funcionamento pode confundir as leituras;

e) Definir um cronograma de inspeções e pesquisa da rede, com foco na limpeza dos detritos;

f) Investir na ampliação das redes de abastecimento feito diretamente pela carga da rede de distribuição, evitando o uso de caixas-d’água, e o consequente efeito deste uso, que faz com que a vazão contada pelo hidrômetro seja menor do que as que ocorrem nos pontos de consumo da economia, devido ao amortecimento ocasionado pelo volume da caixa (MELATO, 2010, apud SABESP, 2005);

g) Manutenção preventiva.

Do visto acima, entende-se que as estratégias propostas para a contenção de perdas e recuperação de receita das concessionárias agregam ações de aperfeiçoamento da gestão comercial, com técnicas de ampliação e melhoria da infraestrutura, compreendendo, segundo KUSTERKO, ENSSLIN, CHAVES (2018) “manutenção preventiva, controle de qualidade de materiais, agilidade e priorização no conserto de vazamento, modernização de equipamentos, capacitação de equipes”.

MONITORAMENTO DAS AÇÕES EXECUTADAS

Implementadas as ações para a contenção das perdas e consequente recuperação de receita das empresas, é necessário ampliar rotinas e instrumentos de monitoramento, avaliação e controle, a partir dos resultados obtidos, identificando as redes com maior registro de “ralos”, para priorizar a atuação da concessionária nessas áreas. Setorizar uma equipe de avaliação de resultados, em constante comunicação com os demais setores da concessionária, estimulando a participação de todos os agentes envolvidos, é um segundo passo. Os parâmetros do monitoramento podem levar em conta:

a) Impacto financeiro das perdas aparentes; em comparação com as perdas físicas inevitáveis, diferenciando os dois tipos de perdas, com vistas à eficiência no acompanhamento;

b) Agilidade nos reparos para sanar as perdas físicas que podem ser resolvidas, dentro do limite técnico defendido pela ABES (2015), que leva em conta um mínimo de perda, definido de acordo com o alcance das tecnologias disponíveis, e considerando a complexidade das redes de abastecimento de água;

c) Controle das ações e dos resultados obtidos no combate às perdas aparentes.

Paralelamente ao monitoramento das ações executadas, é preciso investir na modernização das ferramentas de fiscalização utilizadas, com o objetivo de manter os resultados obtidos, com meta de ampliá-los, a partir de indicadores de controle previamente acordados.

PADRONIZAÇÃO DE AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

Definir indicadores de controle e avaliação dos resultados objetivos é essencial para manter a qualidade e a eficiência no uso dos recursos. Tais indicadores devem fazer parte de um plano de redução de perdas bem delimitado, cujos dados alimentem um sistema de informações atualizado constantemente. São essas informações, baseadas em regras objetivas de avaliação dos resultados, que servirão na efetivação de um sistema competente de gerenciamento de distribuição de água, atrelado ao investimento tecnológico e em métodos de substituição de redes defasadas.

A avaliação de resultados padronizada deve considerar:

a) A identificação do volume das perdas, segundo critérios estabelecidos pelas metas-padrão;

b) O resultado do planejamento das ações;

c) O custo do investimento envolvido, em comparação ao quanto de receita foi recuperada;

d) Os impactos comerciais causados no abastecimento pela execução das estratégias;

e) O nível de participação de todos os agentes envolvidos.

De posse dessas avaliações, realizar um balanço do que foi feito, registrando os dados em um sistema de informações cuja integridade e qualidade aumentem o grau de confiabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca por melhorias no gerenciamento das empresas de água e saneamento é de importância estratégica em um mercado cada vez mais competitivo. Dentro deste panorama, a recuperação da receita e da saúde financeira das concessionárias do setor significa retomar sua eficiência econômica, mantendo seu poder de investimento na performance dos sistemas de distribuição de água. Estratégias de recuperação de receitas de empresas de saneamento, que identifiquem de forma eficaz as “perdas aparentes” e as “perdas físicas”, separando-as para efeito de personalização das ações, levando em conta a relação custo/desempenho, trazem melhorias não só para a área comercial, mas para todo o sistema de abastecimento, com decorrentes vantagens para os serviços prestados, uma vez que recuperam o poder de investimento na expansão das redes de distribuição.

Identificadas as causas da perda de receita, adotadas as metas, definidas as ações de combate, incrementado o monitoramento das ações e padronizados os indicadores de avaliação dos resultados, é possível reduzir os “ralos”, até uma média de índice de perdas, compatível com a realidade das concessionárias, lembrando-se de que não existem modelos onde tais perdas não existam, ou se aproximem do zero.

Além disso, considerando o fato de que as perdas não são um problema pontual, é preciso manter, integrado à rotina da empresa, o setor de gestão estratégica contra os desvios na distribuição da água, estimulando o comprometimento dos agentes envolvidos, com o objetivo de transformar as estratégias propostas em parte dos processos rotineiros das concessionárias, mudando uma cultura gerencial passiva para uma com planejamentos de prevenção.

Este artigo teve como objetivo desenvolver uma análise sobre os “ralos” através dos quais volumes de água se perdem nas redes de distribuição, impactando diretamente na receita das empresas, uma vez que água não medida no hidrômetro é água não faturada. Distinguiu-se os tipos de perda que escoam por tais “ralos”, concentrando-se nas perdas aparentes, consequência do consumo não autorizado; depois, partiu-se para o diagnóstico das causas, o estabelecimento das metas, a proposta das estratégias, finalizando-se com explanações sobre o monitoramento das ações e a importância da padronização de indicadores para avaliar os resultados.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES). Controle e Redução de Perdas nos Sistemas Públicos de Abastecimento de Água. (Online). 2015.

https://docplayer.com.br/33365087-Controle-e-reducao-de-perdas-nos-sistemas-publicos-de-abastecimento-de-agua.html

Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). Redução de Perdas em Sistemas de Abastecimento de Água. (Online). 2014.

http://www.funasa.gov.br/site/wp-content/files_mf/reducao_de_perdas_em_saa74.pdf

International Finance Corporation (IFC). Manual Sobre Contratos de Performance e Eficiência para Empresas de Saneamento no Brasil. (Online), 2013.

https://www.ifc.org/wps/wcm/connect/17ea5580404766b5ba3bba82455ae521/WaterUtilityBrazilPortuguese.pdf?MOD=AJPERES

KUSTERKO, Sheila. ENSSLIN, Sandra Rolim. ENSSLIN, Leonardo. CHAVES, Leonardo Corrêa. Gestão de Perdas em Sistemas de Abastecimento de Água: uma Abordagem Construtivista. (Online). 2018.

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1413-41522018000300615&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

MARGULIES, Beatriz Nogueira. Desempenho das Empresas de Saneamento Básico Brasileiras: uma Análise dos Setores Público e Privado. (Online). 2018. Universidade de São Paulo. São Paulo.

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-25022019-163226/pt-br.php

MELATO, Débora. S. Discussão de uma metodologia para o diagnóstico e ações para redução de perdas de água: aplicação no sistema de abastecimento de água da região metropolitana de São Paulo. (Online), 2010. Universidade de São Paulo. São Paulo.

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3147/tde-17082010-092608/en.php

OLIVEIRA, Gesner. SCAZUFCA, Pedro. MARCATO, Fernando S. ORJUELA, German. AROUCA, Luiz Felipe Alves Fernandes. AGUIAR, Suellen Silva. Perdas de Água: Desafios ao Avanço do Saneamento Básico e à Escassez Hídrica. (Online) 2015.

http://tratabrasil.org.br/datafiles/estudos/perdas-de-agua/Relatorio-Perdas-2013.pdf

PERTEL, Mônica. AZEVEDO, José Paulo Soares de. JÚNIOR, Isaac Volschan. Uso de Indicadores de Perdas para Seleção de um Benchmarking entre as Companhias Estaduais de Serviço de Distribuição de Água no Brasil. (Online), 2016.

http://www.scielo.br/pdf/esa/v21n1/1413-4152-esa-21-01-00159.pdf

Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). (Online).

http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos/diagnostico-ae-2017

SOARES, Andréia Sena. KUSTERKO, Sheila Karoline. HENRIQUE, Rodrigo. SANTOS, Joanna Andreazza Claudino dos Santos. Desafios na Setorização do Sistema de Abastecimento de Água Costa Norte em Florianópolis/SC para Controle e Redução das Perdas. (Online), 2017.

[1] Desempenho das Empresas de Saneamento Básico Brasileiras: uma Análise dos Setores Público e Privado. Fonte: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-25022019-163226/en.php. Acessado em 12/07/2019.

[2] Perdas de Água: Desafios ao Avanço do Saneamento Básico e à Escassez Hídrica. Fonte: http://tratabrasil.org.br/datafiles/estudos/perdas-de-agua/Relatorio-Perdas-2013.pdf. Acessado em 12/07/2019.

[3] Diagnóstico dos serviços de água e esgotos — 2017. Fonte: http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos/diagnostico-ae-2017. Acessado em 08/07/2019.

[4] “O índice de perdas na distribuição é dado por: IPD (%) = [Volume de Água (Produzido + Tratado Importado — de Serviço) — Volume de Água Consumido] ÷ [Volume de Água (Produzido + Tratado Importado — De Serviço)] multiplicado por 100”. Fonte: http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos/diagnostico-ae-2017. Acessado em 08/07/2019.

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