Brasil: Um exorcismo muito difícil

Os paralelos entre a dificuldade de limpar a casa e um dos subgêneros mais populares do cinema de terror.

Editoria Conserva Botequim
Conservadorismo de Botequim

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Quando Bonoro ganhou a eleição presidencial de 2018, confesso que achei — creio que muitos outros brasileiros também acharam — que a desesquerdização nacional seria conduzida de maneira mais forte pelo novo governo quando assumisse. Pode ser até chamado de wishful thinking, mas prefiro encarar como simples efeito da ressaca de uma parcela da população com tanta esquerdice e lacração. Antes mesmo de Bolsonaro ser um candidato encarado como uma possibilidade real de vitória, já era ponto pacífico para essa mesma parcela da população que o “progressismo” capitaneado pelo PT não tinha só feito merda com o país. Metaforicamente, o Partido dos Traficantes (com a ajuda de seus satélites) cagou na meia, rodou e ainda esfregou o resto nas paredes. Afinal, os petebas e afins achavam que a casa simbólica cujas paredes agora estavam pintadas de marrom era deles, e somente deles. Achavam, mas não era. Olhando em retrospecto, o tipo de infestação satânica pela qual o Brasil passou durante os anos do petismo era algo parecido com uma possessão demoníaca. E de um tipo bastante pernicioso, visto que a assunção do PT ao poder foi apenas a manifestação do demo à vista de todos. Mas antes disso, as influências infernais que levaram à possessão já vinham acontecendo há muitos anos em universidades, centros culturais, teatros, jornais, agências publicitárias e sindicatos.

“O Demônio não soube o que fez quando criou o homem político; enganou-se, por isso, a si próprio.” (Shakespeare)

Diferente daquelas cenas populares em vídeos do YouTube, onde supostas (e engraçadíssimas) possessões ocorrem em palcos de igrejas neopentecostais de periferia e causam mais riso que qualquer outra reação, a possessão progressista é mais bem entendida se for comparada com um outro tipo de possessão. Como os marmitas do ex-presidente presidiário adoram dizer que “o PT não inventou a corrupção”, e que “há 500 anos se rouba no Brasil”, é sempre bom colocar as coisas em perspectiva. Por mais que se houvesse roubado antes no Brasil, e por mais que tivesse havido outros inúmeros casos de corrupção infestando o estado brasileiro no passado. A diferença entre o que acontecia até o momento em que o PT pegou o volante do país e o que passou a acontecer depois é a mesma diferença entre uma possessão circense em uma igrejinha em qualquer cantão do país e uma daquelas mais clássicas, retratadas em filmes como O Exorcista. O tipo de possessão progressista é semelhante àquela que transforma uma película em cult entre os filmes terror e figura fácil em listas de melhores filmes do gênero em todos os tempos, e que ainda hoje, caminhando para completar 50 anos de lançamento, ainda é capaz de impressionar e assustar.

Masturbação com crucifixo e cabeça numa posição incorerente: seja no cinema, seja nas manifestações de rua, dribles clássicos da turma endemoniada.

O PT alterou para sempre a tecnologia da corrupção, eles redefiniram o quão longe um governo ocupado por indivíduos com sede de poder pode ir, o quanto estão dispostos a roubar, e com que tipo de bandidos, ditadores, terroristas e filhos-da-puta em geral estão dispostos a se envolver para verem seus objetivos revolucionários implantados — enquanto tiram uma graninha por fora para eles próprios e seus familiares, é claro. Afinal não são só malandros de esquerda, mas malandros de esquerda brasileiros, ora essa. Tirar “unzinho por fora” está no DNA macunaímico do malandro brasileiro.

O governo PT no período de auge de seu domínio lembra muito mais a possessão clássica do cinema de Hollywood. Lembra aquela situação realmente dramática onde uma pobre criança ou adolescente é sumariamente invadida por uma entidade profundamente maligna, que em sua maldade, parece não caber ali dentro daquele corpo. Geralmente no cinema americano, a família da vítima sequer é religiosa. São pessoas que pra começo de conversa, acham o fim ter que chamar um padre (veja só, um padre) para resolver a treta, e só o fazem quando o capeta já criou alguma situação tão assustadora que consegue ultrapassar o famoso clichê do “deve ter uma explicação racional pra tudo isso”. Daí finalmente chamam o sacerdote, muito a contragosto, muito descrentes, só porque estão no desespero mesmo. E também por que o padre aparece recomendado como um especialista técnico no assunto e não por que eles acreditem realmente que possessão demoníaca per si é o caso que enfrentam. Aí, aparece o Moro...opa, quero dizer, o padre no filme.

“We are Lula…ops Legion.”

Tudo bem, quem já assistiu filme de possessão sabe que exorcizar demônios é sempre um negócio muito feio e bem sujo. Mas eu achei que os exorcistas iriam ser mais enfáticos. Metaforicamente falando, até o momento tudo que temos visto são os padres rezando e dando uns gritos diante do possuído, confiando na fé em Deus. Só que quem conhece a dinâmica do filme de possessão demoníaca sabe que só se exorciza o demônio se o padre for macho, disposto a dar umas porradas, meter o crucifixo na testa do possuído até queimar, usar vários tipos de água benta, itens e amuletos mais poderosos, como relíquias de santos, essas coisas. E mesmo quando os padres nos filmes fazem tudo isso, ainda assim o demônio sempre representa um desafio muito forte. Nunca é fácil, por mais experiente que o exorcista do filme seja. Não raro é necessário mais de um padre pra completar o serviço. E não raro um deles morre ou é seriamente danificado — tanto física quanto espiritualmente — no confronto.

Até o momento, o que pode ser visto (ao menos do lado de cá da tela, não se pode dizer exatamente o que acontece nos bastidores) é o governo fazendo o papel do padre arrumadinho, dizendo "é, senhora, sua filha está possuída mesmo, vamos fazer um círculo com as mãos dadas e rezar por ela"... isso na sala, com a família... enquanto lá no sótão, o demônio está rindo pra cacete, proferindo blasfêmias, chamando todo mundo de otário. Mas sejamos claros aqui: não pretendo ao descrever essa parte do quadro, ser injusto com os exorcistas da vez. Todos sabem que se trata de uma possessão difícil de desfazer. Só que a considerar pelo rumo dos acontecimentos, parece que o padre está deixando o demônio gostar do jogo. A essa altura do filme, o normal seria já ter-se dado meia dúzia de tapas na cara da pessoa possuída, jogado umas águas bentas aqui e acolá, amedrontado-se o tinhoso ao menos um pouco. A essa hora, a vítima da possessão estaria no ponto em que se faz de boazinha pra família achar que o demônio foi embora. Mas não é o que acontece. O capiroto está dobrando a aposta. Está frenético, a cada momento da trama sai com uma pirueta diferente, ou com um xingamento novo. Já está chegando ao limite do absurdo (e da inversão de valores, veja só, coisa tão demoníaca) de se dizer enviado de Deus e que o verdadeiro demônio são os padres.

Padre novo enfrentando demônio velho.

Em nenhum filme de possessão demoníaca é normal cogitar-se soltar os possuídos sem que eles tenham sido libertos da maldição. Mesmo quando isso porventura acontece em um ou outro filme, é o momento em que o capeta consegue falsear tão bem o fim da possessão, que chega a ponto de enganar um exorcista pouco experiente ou menos atento. E mesmo nesses casos, a falsa cura deve ser convincente. Só que em nossa imprudente realidade, o risco de soltura com a vítima ainda possuída não só é presente, como existe um bando de fanáticos pedindo sistematicamente pelo deixa-disso. Existe também outro bando de fanáticos que acredita que a pessoa endemoinhada é uma “vítima da sociedade”. Outros fanáticos acham que ressocializar o demônio é a melhor forma de integrá-lo à sociedade. Outros juram de pés juntos que o demônio só quer fazer o bem ao possuído, que foi mal interpretado pelos exorcistas malvados. Bem, sabemos o buraco para onde a trama iria se isso ocorresse em um filme, e não na nossa absurda realidade.

Comparações cinematográficas à parte, é doloroso ter que assistir uma sequência de eventos que escapam à lógica se desenrolando frente aos nossos olhos. Um candidato a presidente sofre um atentado à faca que deixa sua vida por um fio. O autor do atentado se revela um anônimo facilmente dispensável e aparentemente portador de problemas psicológicos. De repente aparecem bons (e caros) advogados para defendê-lo. Vários pontos de sua história não se encaixam. Descobre-se um álibi montado para ele, uma visita à Câmara dos Deputados em Brasília no mesmo dia do atentado. Equipamentos não condizentes com seus vencimentos estavam em posse dele em dias próximos ao crime. Pessoas que poderiam servir de testemunha de seus passos começam a morrer em circunstâncias misteriosas. E a vítima do atentado, já eleito presidente da república, sequer tem acesso a quem paga os (bons e caros) advogados do anônimo dispensável. Custa pensar em algum país onde algo semelhante tivesse ocorrido com o futuro presidente da república e que mesmo depois dele eleito, se seguisse com tantas perguntas não respondidas e tantos responsáveis sem punição. Parece até obra do demônio, só que dessa vez na nossa realidade de fato, e não no mundo dos filmes.

Em outro momento dessa mesma trama, vemos um jornalista obscuro e reconhecidamente militante orquestrando uma trama de roubo de dados e divulgação de pretensas informações comprometedoras a respeito de um juiz que se tornou célebre por liderar a maior iniciativa anticorrupção já vista até então no país. Mesmo as informações não se provando nada comprometedoras e obtidas de maneira absolutamente ilegal, mesmo o tal jornalista sendo possuidor de uma ficha bastante questionável, tanto em termos de atos quanto em termos de apoios, ainda assim temos diante de nossos olhos algo ainda mais estupefaciente. Custa pensar em algum país onde algo semelhante tivesse ocorrido a um ex-juiz com as características do citado (ou a qualquer juiz, na verdade), que tivesse acabado de se tornar o Ministro da Justiça do país, e tal afronta não tivesse sido esmiuçada, responsabilidades apuradas, e irregularidades punidas, de maneira exemplar.

Enfim, seria possível enumerar ainda inúmeros casos semelhantes nessa linha. Resta desnecessário fazê-lo, pois a conclusão tirada a partir de um, nove ou setenta e quatro desses casos é muito semelhante: a de que a resistência dos que não querem desincorporar se assemelha desconfortavelmente com as piruetas e levitações demoníacas que desafiam os exorcistas do cinema. No fim, o sentimento do brasileiro (pelo menos aqueles cuja cabeça ainda não virou cento e oitenta graus sobre o pescoço) é semelhante ao da família dos endemoniados nos filmes: o desespero de ver o sofrimento do ente possuído e a dúvida a respeito de ser ou não possível livrar-se da possessão e seguir com a vida. O capeta é tinhoso. A família segue em oração.

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Livre, plural, suprapartidário. Alternativa de pensamento à hegemonia esquerdista em Niterói, Rio, Brasil. Liberal, conservador. Menos Marx, Mais Mises!