Como o construtivismo destruiu a arte de jogar conversa fora

Garçon Conservador
Conservadorismo de Botequim
5 min readJun 9, 2020

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Paulo Freire e o progressismo em geral transformaram a população em seres de uma incapacidade intelectual e social no nível das salsichas

O tal pensamento crítico, que os soças tanto defendem para as salas de aula do nosso país, é um embutido de todo o tipo de recalque e preconceito, potencializados pela lógica do oprimido.

Mais dois anos no E.F e já estará no ponto.

Cada um reage ao que vê, ouve ou lê aplicando significância não pela análise do contexto geral, do “quadro todo”, ou como Olavo de Carvalho chama, “a realidade”, mas apenas considerando sua própria visão de mundo. Acredito que isso tenha relação com a era da pós-verdade em que vivemos, mas este comportamento não afeta apenas o entendimento das questões maiores da sociedade, afeta diariamente a forma como as pessoas dialogam as coisas mais triviais e banais.

Chegamos ao ponto de precisar de manuais de interação social como esse da WikiHow, com pessoas pálidas do jeito que Tyler Durden gosta.

E é por isso que te convido agora a fazer um exercício. Vamos lá? Imagine uma situação onde meia dúzia de amigos estão num bar, conversando sobre carros, não há nada mais mundano que isso.

Um deles tem especial interesse em pintura de veículos, ele diz:

— Esta Ferrari é mais cara porque esta tinta amarela é especial, feita com tecnologia de aviação.

O signo é a própria fala dele, os elementos são, carro, tinta, preço, cor, tecnologia. O significado é: um carro leva tinta de uma determinada cor e tecnologia e isso tem relação com o preço . E portanto o significante seria: o carro, que é uma Ferrari, é mais caro (ainda) por causa da tinta amarela que é feita da forma mais moderna possível.

A título de aprendizado, o referente, ou seja, a realidade, saber o que é uma Ferrari de fato, fica restrito a quem tem uma Ferrari.

Agora vamos extrapolar um pouco e pensar nas possíveis reações que os amigos em volta teriam, para isso vamos usar como padrão argumentos que vemos diariamente em redes sociais como o Facebook. O primeiro a falar, e que se comporta com o recalque padrão do brasileiro, diz:

— Não sei porque alguém gastaria mais pra por uma tinta de avião! Prefiro branco.

Um outro amigo, que também é entendido em carros, que lê bastante sobre a indústria e tem orgulho de seu intelecto, sucumbe imediatamente à soberba:

— Ferrari não dá mais pra chamar de italiana, só a montagem é feita na Itália, o metal é do Brasil, a tecnologia de bordo é alemã, os pneus são Pirelli mas fabricados na China, o couro da Nicarágua.

Seu comentário, apesar de estar cheio de informações corretas, é falacioso e não agrega em nada à conversa. Ao contrário, tenta mudar o assunto para um mais confortável em termos de domínio de conhecimento.

Um terceiro amigo, também cheio de soberba, mas este com o pensamento impregnado de cinismo e com uma péssima habilidade para ironia (situação padrão do brasileiro), emenda:

— Estranho, normalmente Ferraris amarelas são mais baratas que as vermelhas.

Este amigo cínico nem pensou na hipótese que o modelo da Ferrari em questão poderia ter uma explicação para a valorização do amarelo. Ele preferiu deixar a bola quicando, e o próximo sujeito, conhecedor de esportes, porém ignorante em relação sobre como funciona oferta e demanda, interrompe:

— Esse modelo é homenagem à uma corrida de 1957, por isso o amarelo, mas não vale isso tudo, custa 10 vezes menos pra produzir. É ridículo o preço, tem que ser muito burro pra comprar algo assim.

Já um dos amigos que não entende nada de carros, nada de preços e nada de liberdade, munido do pior que a ignorância sentimentalista pode oferecer, compartilha sua modesta sabedoria construtivista:

— Um monte de gente passando fome e o sujeito gasta milhões numa Ferrari. É muita falta de empatia.

O último amigo na mesa, depois de ouvir tantos argumentos excelentes, plurais, condizentes com tudo que ele pensa, e que odeia esse assunto todo já que não pode ter uma Ferrari, está agora confiante em encerrar o debate que nunca começou, destilando toda sua inveja e rancor de proletário do século XIX:

— Aí, quanta futilidade. Porque se preocupar com um assunto que é coisa de gente rica e materialista. Quem tem dinheiro pra comprar Ferrari são esses ricaços que nunca trabalharam na vida. Pobre com gosto de rico é o supra-sumo da alienação. Assim seremos sempre massa de manobra dessa elite.

Ok. Esse último participante foi um pouco exagerado. Mas a gente sempre tem que incluir o socialista caviar, geralmente é o que fala esses exageros bebendo a cerveja mais cara do estabelecimento e constrangendo todo mundo.

Pois bem, no fim das contas, apesar de ter sido uma conversa cheia de opiniões e pontos de vistas diferentes, não houve de fato um diálogo. Nenhuma das respostas dadas teve a intenção alguma de seguir com o assunto inicial, nem muito menos tentar entendê-lo ou expandi-lo. Ninguém fez questionamentos ou adicionou algum conhecimento.

Finalizado o exercício eu te pergunto: essa simulação do que seria uma conversa entre amigos hipotéticos, foge do que você vê por aí nas redes sociais ou em reuniões físicas?

Você pode até dizer que isso é normal, já que as pessoas são diferentes e pensam de formas diferentes, e que uma conversa é algo orgânico que não tem rumo certo. Concordo, mas tomemos o cuidado de não acontecer durante esta leitura o mesmo que aconteceu aos amigos do nosso exercício, e que se propôs a simular o que está acontecendo em nossas interações sociais.

A questão aqui é que essa conversa não teve rumo algum, porque ninguém se dignou de fato a se aprofundar na afirmação inicial. A pressa em responder e a ânsia em tomar uma posição prejudicam a capacidade de concentração e de interpretação. E a cultura de que há uma verdade individual faz com que as pessoas não parem pra ver em uma perspectiva que não seja a própria.

A finalidade deste texto é mostrar que atualmente não se dialoga mais, o que temos no máximo são monólogos em grupo onde o que impera é a preocupação de vencer o outro.

Alguém ainda conversa citando pensadores?

Se não concorda ou achou exagerado, pode ser que você tenha muita sorte em seu círculo social, ou, suas interações não passam de auto-congratulações. Caso tenha ficado na dúvida, faça um último exercício: quantas vezes isso já aconteceu com você?

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