Gabriel Estácio
Construção
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6 min readSep 13, 2021

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43: O PRISMA DE DEUS

algumas semanas, no texto Em Busca de Algo Novo, nós falamos rapidamente sobre Deus e suas diversas manifestações. Eu prometi que, como era um assunto um tanto extenso, iria comentar sobre em outro texto, e cá estou cumprindo minha promessa.

Antes de partirmos pra analogia, vamos entender o que é um prisma. O prisma é um sólido geométrico, estudado na geometria espacial. É mais conhecido pela sua versão em cristal, utilizada por Isaac Newton para decompor a luz branca do Sol (policromática) nas 7 cores do arco-íris (monocromáticas). Esse tipo de prisma é chamado prisma dispersivo, ou seja, ele é usado pra separar a luz nas cores do espectro visível.

Esse fenômeno se deve a incidência da luz branca na superfície do prisma, fazendo com que a luz desacelere. Como cada cor que compõe a luz branca tem índices de refração diferentes, elas passam pela outra extremidade do prisma separadas (não entendeu bem a explicação? Nem eu… Mas isso é suficiente pro que a gente quer! O importante é ter em mente que ela entra como luz branca e sai separada).

Isso ficou muito popular após o lançamento do álbum “The Dark Side Of The Moon”, do Pink Floyd, onde eles usaram essa analogia pra simbolizar a complexidade do arranjo de suas músicas, por mais que soasse como algo simples pro público geral.

Capa do álbum “The Dark Side Of The Moon”, Pink Floyd.

Apesar das nossas diferentes percepções de quem Deus é e as diferentes formas que Ele usa para se apresentar, o Deus por trás da manifestação é sempre o mesmo. Um mesmo Deus se apresenta de acordo com o que julga ser necessário, e, por isso, muitas vezes nossa percepção de quem Ele é varia, mas isso não quer dizer que Deus pra mim seja alguém diferente de quem é Deus pra você. Ele é sempre o mesmo.

O teólogo americano John Frame, pra ilustrar essa ideia, organizou a metodologia do multiperspectivismo. A descrição a seguir se encontra no livro “Igreja Sinfônica”, organizado por Pedro Dulci:

“Frame argumenta que existem três perspectivas diferentes pelas quais podemos conhecer a Deus. Essas perspectivas são apenas parte do todo, e não o todo, e são apenas formas diferentes de enxergar a mesma coisa. Especificamente sobre Deus, temos: autoridade, presença e controle.

O controle, usualmente presente em tradições reformadas, prefere enxergar a Deus pelas lentes da soberania de Deus e seu controle sobre toda a criação, decisões humanas e a história em geral.

A autoridade dá ênfase à autoridade absoluta que Deus tem sobre toda a realidade. Suas ordens não podem ser questionadas, e Ele é capaz de fazer tudo de acordo com sua vontade (lembre do texto da semana passada).

Já a presença, a lente favorita dos irmãos pentecostais e os da missão integral, fala sobre a escolha de Deus por um povo e a aliança que Ele fez, fazendo com que seus dramas, história e destino fossem também os de Deus. Dá ênfase à encarnação e identificação de Deus com os seres humanos.”

Esse pluralismo de lentes não é excludente, muito pelo contrário, é perfeitamente cristão e tem fundamento exatamente na Trindade. Nenhum desses está errado. É esse pluralismo, esse quebra-cabeças, que torna o evangelho tão belo, porque é justamente juntando essas lentes que temos a clara percepção de quem Deus é. Perceber Deus através de uma lente específica não diminui quem Ele é, apenas expõe nossa imperfeição, afinal, se alguém afirma conhecer a Deus plenamente, é certamente um mentiroso.

Infelizmente, nenhum de nós, falhos e caídos, é capaz de enxergar pelas três lentes ao mesmo tempo. Podemos ser, no máximo, “patos”: voa, nada e anda, mas não faz nada bem. Podemos entender o quanto Ele é soberano, o quanto tem de autoridade e o quanto está presente, mas nenhuma dessas percepções seriam profundas o suficiente para termos total conhecimento de quem Deus é.

Com um caráter tão perfeito e único, Deus sabe se apresentar de acordo com a necessidade, sem negar a si mesmo. Como já falamos há algum tempo, Ele pode se apresentar como justiça quando há necessidade de justiça, como amor quando há necessidade de amor, como alegria quando há necessidade de alegria… Isso, porém, não quer dizer que Ele não seja amor quando é justo, ou justo quando é amor, que Ele não seja racional quando se apresenta de forma emocional, ou emocional quando se apresenta racionalmente, e não quer dizer que Ele não seja Rei de todo o Universo quando se apresenta como um Pai íntimo e pessoal, e nem que Ele seja um Deus próximo quando aparece como Rei dos Reis.

Apesar das diferentes manifestações que mudam de acordo com quem somos e no que entendemos de Deus, nunca é demais reforçar: Ele é o mesmo sempre, sem nunca sem contradizer. É importante entender isso para que entendamos seus propósitos.

Em Eclesiastes 3, Salomão escreve de forma muito inspirada:

“Há um momento certo para tudo, um tempo para cada atividade debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de colher. Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de construir. Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de se entristecer, e tempo de dançar. Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar, e tempo de se afastar. Tempo de procurar, e tempo de deixar de buscar; tempo de guardar, e tempo de jogar fora. Tempo de rasgar, e tempo de remendar; tempo de calar, e tempo de falar. Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.”

Eclesiastes 3:1–11

E se eu pudesse acrescentar algo ao que disse Salomão, diria que há um tempo certo para tudo, e para todos os momentos, há Deus. E, se cremos que nosso Deus é perfeito, isso automaticamente implica que, para todos momentos, há Deus, que é uma opção perfeita. Se você precisa de paz, há em Deus a paz perfeita. Se você precisa de alegria, há em Deus a alegria perfeita. Se você precisa de perdão, há em Deus o perdão perfeito. Se você precisa de correção, há em Deus a correção perfeita…

Então eu pergunto: por que insistimos tanto em resolver as coisas pela força dos nossos braços? Diante de tão vasta Luz, que um simples prisma (lê-se: nossa mente) não consegue separar, por quê tão grande insistência em ser independente? Porque o mesmo desejo pecaminoso que fez Adão e Eva tomarem o fruto e comerem se recusa a morrer dentro de nós. Assim como eles, queremos ser como Deus. Queremos resolver os problemas e ter os créditos. Ou melhor dizendo, queremos a glória, algo que não nos pertence.

Se colocássemos a nós mesmos num prisma, qual seria o resultado da separação de quem nós somos? O que os outros poderiam ver na decomposição de quem eu sou? Imperfeições, falhas, seres imperfeitos querendo ser tratados como perfeitos. No melhor dos casos, somos um simples reflexo de quem Deus é.

Ele é a Luz perfeita, a Luz que ilumina a toda a criação e que continua a se expandir pelo universo enquanto a sua ordem “Haja luz!” ainda ecoa através das galáxias. A Luz que brilhará eternamente e que nenhum homem pôde ou jamais poderá ver plenamente. Ele é a Luz que nenhum prisma pode decompor plenamente, que ninguém pode conhecer completamente, e que nem uma eternidade inteira é suficientemente capaz de conter.

Essa Luz que brilhou no meio das trevas e encontrou a mim. Essa Luz que se apresenta todos os dias, independente de quem eu sou e como estou. Ela não muda e NEla não há sombra de variação. Mesmo que meus olhos naturais me façam ter um vislumbre de quem Deus é por meio de uma manifestação, Ele é o mesmo, do início ao fim, perfeito, completo e equilibrado em essência.

Em todos os momentos, há uma manifestação. Em todos os momentos, há Deus!

Gabriel Estácio, 13 de setembro de 2021.

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