Gabriel Estácio
Construção
Published in
5 min readSep 20, 2021

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44: UM CHAMADO À MATURIDADE

Irmãos, quando estive com vocês, não pude lhes falar como a pessoas espirituais, mas como se pertencessem a este mundo ou fossem criancinhas em Cristo. Tive de alimentá-los com leite, e não com alimento sólido, pois não estavam aptos para recebê-lo. E ainda não estão, porque ainda são controlados por sua natureza humana. Têm ciúme uns dos outros, discutem e brigam entre si. Acaso isso não mostra que são controlados por sua natureza humana e que vivem como pessoas do mundo?

[1 Coríntios 3:1–3]

Há muito mais que gostaríamos de dizer a esse respeito, mas são coisas difíceis de explicar, sobretudo porque vocês se tornaram displicentes acerca do que ouvem. A esta altura, já deveriam ensinar outras pessoas, e no entanto precisam que alguém lhes ensine novamente os conceitos mais básicos da palavra de Deus. Ainda precisam de leite, e não podem ingerir alimento sólido. Quem se alimenta de leite ainda é criança e não sabe o que é justo.
O alimento sólido é para os adultos que, pela prática constante, são capazes de distinguir entre certo e errado.

[Hebreus 5:11–14]

Uma das coisas que me incomoda na geração atual de crentes (e não falo só dos crentes da geração atual, mas das passadas também) é a mesma imaturidade que havia na igreja dos primeiros anos. É claro que isso não é algo geral, do tipo “todos somos imaturos”, assim como não era em Corinto, mas é mais presente no nosso meio do que gostaríamos.

Uma coisa simples que vai mostrar isso: tem se tornado bem popular entre pastores mais conhecidos o hábito de abrir caixinhas de perguntas no Instagram para tirar dúvidas dos irmãos, e, gente, aparece cada pergunta absurda, cada coisa tão básica, tão simples, que uma leitura na Bíblia resolveria…

Quanto mais me relaciono com Deus, mais certeza tenho que Ele quer ardentemente derramar algo tão poderoso sobre nós, assim como fez com os apóstolos, mas Ele precisa “conter” esse desejo porque nós não estamos preparados para isso.

Por que não estamos preparados? Se temos tanta certeza de que já vimos ao Senhor e Ele nos libertou de quem nós éramos, por quê não desejamos mais do Senhor? Por que nos contentamos com tão pouco, quando o que se há pra receber é tão infinito e eterno?

E aí o que nós fazemos? Olhamos pra porção dos outros e queremos viver aquilo, exatamente como crianças mimadas e imaturas. Mas, quem quer se dispor a passar pelo processo de forja até receber aquela porção? Quem quer, assim como Paulo, viver de perseguições e prisões em nome da maravilha que é conhecer a Cristo e ser achado NEle? Sempre queremos o máximo entregando o mínimo. É a nossa natureza caída. Mas o Reino de Deus não funciona nessa dinâmica.

Talvez você já tenha vivido algo parecido com o que Paulo vivia: você quer que seus amigos, irmãos e liderados vivam o que você vive. Você quer que eles experimentem a comunhão com Deus da mesma forma que você, e até tenta, de alguma forma, arrastá-los pra dentro da Sala do Trono, mas eles não estão na mesma rotação que você. É frustrante. Essa era a revolta de Paulo: “vocês já deviam estar fazendo o mesmo que eu, já deveriam estar pregando, batizando e discipulando, mas vocês preferem estar fazendo rinha de Paulo x Apolo. Cresçam!!!”

É bem verdade que a vida em comunidade não é simples e não é perfeita. A pluralidade que embeleza nossas igrejas também garante alguns choques. Isso é natural. Pessoas maduras também entram em conflito umas com as outras, mas isso não cria raiz. Na mesma velocidade que o problema nasce, ele morre. Tudo seria tão mais simples se a gente se importasse mais em desenvolver nossa vida em Cristo e amadurecer como cristãos…

Se cremos, como Jesus disse a Nicodemos, que nascemos de novo no Espírito, deveríamos ter consciência que essa nova vida não é mágica. Você pode ter 30 anos de igreja e ainda ser um recém-nascido. Assim como a vida natural possui um ciclo de crescimento, a vida espiritual também.

O que o Pai deseja é que cresçamos. Um pai fica muito feliz ao ver seu filho se desenvolver, se estabelecer e gerar seus próprios filhos. Com Deus não é diferente. Mas muitos de nós queremos ser eternos bebês, comendo apenas papinha, comida simples e fácil de engolir. Só que Deus quer avançar, quer ver a obra DEle se espalhar pelo mundo e a missão que Ele nos delegou sendo cumprida, mas como poderia Ele tornar um bebê responsável por vidas?

Veja o que o autor de Hebreus diz: “O alimento sólido é para os adultos que, pela prática constante, são capazes de distinguir entre certo e errado”. Não tem outro caminho. É prática constante! De quê? Relacionamento. Não tem outro jeito.

Me deixa angustiado ver crente perguntando “como eu faço pra ter mais de Deus, pra ser usado, etc & etc?”. É relacionamento, é tempo gasto, é ouvidos abertos, é viver a troca. Porque isso também é fundamental: no relacionamento você precisa ser ousado pra falar e humilde pra ouvir. O véu do tempo foi rasgado pra que você viva essa troca. Não é simplesmente entrar na presença de Deus e só desabafar, ou só querer ouvir. Ele se dispõe a saber o que te incomoda da sua boca, apesar de já conhecer seu coração.

Precisamos crescer. Precisamos viver a vida que descobrimos em Deus. Não precisa ter medo: Deus não vai acabar. Te dou certeza! Você não vai conhecê-lo completamente nem nessa vida, nem na vida eterna. Pode mergulhar de cabeça, sem medo.

É meio cômico, mas algo que eu gosto de dizer pra isso é: churrasco é infinitamente mais gostoso que papinha de bebê. Alimento sólido é infinitamente mais extraordinário que leite. A profundidade te envolve muito mais que o nível raso.

No nível raso, você ainda pode voltar atrás. No mais profundo, já não há mais escapatória.

Gabriel Estácio, 21 de setembro de 2021.

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