Gabriel Estácio
Construção
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5 min readNov 3, 2021

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48: VEM & VÊ

Uma das cenas mais comentadas depois da ressureição de Cristo é o encontro entre Jesus e Tomé. Geralmente em tom de críticas, falamos sobre a incredulidade de Tomé e sua necessidade de tocar em Jesus para crer que era Ele. Mas será que querer uma prova física é pecado? Será que Tomé estava tão errado assim? Bem, é disso que vamos falar hoje.

Antes que você pense que eu vou reinventar a roda aqui e te trazer uma revelação milaborante, eu já vou responder a pergunta: sim, Tomé estava errado. O que vamos discutir hoje é porque ele estava errado e outras pessoas que fizeram o mesmo não.

Pra isso, nós vamos começar falando não de Tomé, mas de Natanael:

No dia seguinte, Jesus decidiu ir à Galileia. Encontrou Filipe e lhe disse: “Siga-me”. Filipe era de Betsaida, cidade natal de André e Pedro. Filipe foi procurar Natanael e lhe disse: “Encontramos aquele sobre quem Moisés, na lei, e os profetas escreveram! Seu nome é Jesus de Nazaré, filho de José”. “Nazaré!”, exclamou Natanael. “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” “Venha e veja você mesmo”, respondeu Filipe. Jesus viu Natanael se aproximar e disse: “Aí está um verdadeiro filho de Israel, um homem totalmente íntegro”. “Como o senhor sabe a meu respeito?”, perguntou Natanael. Jesus respondeu: “Vi você sob a figueira antes que Filipe o chamasse”. Então Natanael exclamou: “Rabi, o senhor é o Filho de Deus, o Rei de Israel!”. Jesus lhe perguntou: “Você crê nisso porque eu disse que o vi sob a figueira? Você verá coisas maiores que essa”. E acrescentou: “Eu lhes digo a verdade: vocês verão o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”.

[João 1:43–51]

Natanael vivia num contexto diferente do nosso: numa época onde Jesus ainda não tinha se manifestado (ou melhor dizendo, ainda não tinha chegado até Natanael), um homem surge de repente afirmando ser o Messias esperado.

A fala de Natanael ao dizer “pode vir algo bom de Nazaré?” me soa mais como uma descrença no homem que afirmava ser o Messias, do que necessariamente num desprezo por Nazaré. É claro que o preconceito com Nazaré era o que baseava a descrença dele, mas a fala dele era muito mais sobre o “tal do Messias” do que sobre Nazaré. Ele, provavelmente, achou que Jesus era só mais um doido desrespeitoso.

Filipe faz, então, o tal convite “vem e vê”. A partir disso, Natanael dá uma chance e se dispõe a realmente ver, a realmente experimentar. E então, quando Ele encontra Jesus, vive uma experiência simples, mas sobrenatural, que mudou o rumo da sua vida dali pra frente.

Natanael não estava errado. Qualquer um de nós duvidaria das palavras de Filipe, porque era um dia comum. Era um dia comum, onde um homem comum, sem pompa nenhum, se manifestou como Filho de Deus. Foi somente pelo ver, pelo experimentar que Natanael testificou que Cristo realmente era o Messias.

Não temos como fugir: a fé brota da “experimentação”. Se nunca tivermos experiências com Deus, nunca teremos fé Nele. Você não crê em algo que você nunca viu, ouviu, tocou ou experimentou, simplesmente pelo fato de que se você nunca viu, ouviu, tocou ou experimentou, você é ignorante sobre aquilo. É como se não existisse pra você.

Nisso, inclusive, se baseia o ide, não é? Deus poderia muito bem botar fé em todos os corações se Ele quisesse, mas escolheu criar tudo de forma que é necessário experimentar para que possamos crer em algo. Faz parte da nossa natureza. A fé confronta a natureza apenas na parte do “continuar crendo mesmo sem ter visto ou tocado”, mas ela só pode nascer a partir de uma experiência.

Pro ide se cumprir, é necessário que as pessoas tenham experiências. Que ouçam e provem das boas novas de Cristo Jesus. É por isso que está escrito:

“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?
E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas.”

[Romanos 10:14,15]

A fé nasce da experiência, mas não pode ser sustentada por ela. Essa é a diferença entre Natanael e Tomé. Natanael não cria porque não tinha experimentado. Quando experimentou, creu. Tomé já havia experimentado. Já havia visto, ouvido, tocado, experimentado, e mesmo assim, duvidou. Precisou tocar de novo para crer.

É muito triste depender de experiências, porque elas são como areia, sem firmeza. Há dias que a experiência virá, e há dias que não teremos nada novo. Nesses dias, nossa fé vai morrer? Nossa fé não pode estar firmada na areia, em coisas mundanas e passageiras, mas na rocha que é Jesus Cristo, Aquele que vimos, ouvimos, tocamos e experimentamos, e que agora é Aquele em quem eu creio, incondicionalmente, porque devo TUDO a Ele.

Não é errado ver para crer quando não se tem experiência passada, mas quando já se conhece a Cristo, ter mais anseio pelas experiências do que por Ele é estar completamente cego. Ter a necessidade de prová-lo o tempo inteiro e nunca confiar Nele é estar perdido.

Nós não somos tentados por Deus, mas adoramos tentá-lo o tempo todo. A todo tempo queremos um toque, uma experiência, algo que “prove” que Ele está conosco, que não nos abandonou, quando Ele claramente prometeu que estaria permanentemente conosco. No fim, a nossa fé parece frágil demais para acreditar que Ele cumprirá o que prometeu.

Oro pra que a nossa fé apenas aumente com as experiências, mas não dependa delas.

Gabriel Estácio, 03 de novembro de 2021.

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