Construtech Katerra: porque você deveria conhecer a maior das startups da construção!

Delton da Silva Quadros
Construtech Ventures
6 min readMay 3, 2018

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Como o modelo de negócios da Katerra está revolucionando o mercado das construtechs e como ela conseguiu alavancar o maior investimento da história de startups da construção no mundo!

A Katerra é uma construtech que aplica tecnologia de manufatura para aumentar a produtividade e eficiência da indústria da construção civil. E, no primeiro trimestre de 2018, ela se tornou uma das maiores startups da construção civil ao receber um aporte de 865 milhões de dólares.

O acordo foi o maior investimento captado no cenário das construtechs do mundo e mostra um cenário positivo do setor, pois indica que já existem empresas que estão conseguindo revolucionar a construção civil. Segundo pesquisas, este setor tem nível de informatização somente acima da agricultura e da caça (e estamos falando da realidade mundial, e não somente da brasileira.

Neste post, iremos mostrar para você como a Katerra uma construtech pouco conhecida pelo público em geral conseguiu este investimento e como o modelo de negócio desta empresa pode impactar com todas as startups da construção do Brasil e do mundo.

O que é a Katerra?

A Katerra foi fundada em 2015 por Michael Marks, executivo egresso da indústria de eletrônicos que liderou a empresa Flextronics (hoje Flex) por 13 anos, além de ter tido presença como CEO da Tesla.

Além dele, fazem parte do grupo fundador Jim Davidson (fundador firma Silver Lake) e Fritz Wolff, especialista do mercado imobiliário.

É interessante notar que do grupo fundador, dois não são profissionais do ramo de construção. São pessoas que tiveram experiências em outras indústrias — especialmente a eletrônica — e estão aplicando os aprendizados neste novo negócio. Segundo Marks, “é o pessoal do Vale do Silício indo para uma indústria que nunca teve tecnologia antes.”

A visão dessa construtech é realizar obras em menor tempo e a um menor custo. Para isto, eles controlam todo o processo construtivo da obra desde o projeto até a entrega. A construção é feita em plantas industriais (off-site), onde é possível racionalizar boa parte do processo construtivo.

Um fator que viabiliza esse processo é o fato de nos EUA ocorrer uso intenso de madeira laminada, diferentemente do que ocorre no Brasil, onde as construções em geral utilizam a alvenaria.

No momento, a empresa tem em sua carteira de projetos mais de 1 Bilhão de dólares e projeta vendas de mais de 10 bilhões de dólares na próxima década.

Modelo de Negócio

Imagine que você quisesse construir uma casa no Brasil. Você teria que:

  1. Desenvolver um projeto;
  2. Buscar aprovação junto aos órgãos responsáveis (prefeitura, bombeiros, etc);
  3. Contratar um engenheiro;
  4. Contratar a mão de obra;
  5. Comprar os materiais;
  6. Acompanhar as obras;

Entre outras infinidades de atividades mais. Além disso, você tem que torcer para que a obra seja entregue no prazo, no custo e na qualidade esperada, o que na grande maioria das vezes não acontece.

Isso, porque a construção civil não passou por melhoras representativas em seus processos produtivos, como ocorreu com a indústria automotiva e a eletrônica. E é justamente essa a proposta que essa construtech tem ao verticalizar todo o processo produtivo de uma obra.

Fábrica da Katerra em Phoenix

Muito do que antes era feito no canteiro, agora ocorre dentro de grandes fábricas, o que traz um ganho de escala inimaginável ao processo tradicional.

Com esta abordagem a Katerra consegue entregar um empreendimento mais simples em até 15 dias, comparado a meses ou anos do processo comum de construção.

O conceito de verticalização ainda é pouco aplicado à construção civil, com algumas exceções de construtechs que estão timidamente surgindo no mercado hoje, mas não é novo na indústria eletrônica. Empresas como a Flex (que Marks liderou) e a Foxconn fazem isso há anos com no desenvolvimento de aparelhos eletrônicos (se você tem uma impressora da HP, um Xbox ou um iPhone, provavelmente foi produzido por uma destas empresas) e, se você parar para pensar, hoje já não é estranho o fato de o seu eletrônico ser produzido em outra região (muitas vezes em outros países) e não pela loja física onde você o comprou.

Investimentos e expansão

A Katerra já soma 4 rounds de investimentos, em um total de 1,1 bilhão de dólares. Curiosamente, ela não estava ativamente procurando por novos investimentos quando foi encorajada a receber o seu último aporte pelo Softbank. Isso é um indicador do nível de interesse do mercado por startups da construção.

De qualquer forma, todo este montante torna a empresa mais robusta para continuar no seu caminho de expansão das atividades pelos EUA. Com este último investimento, a Katerra passou a ser avaliada em 3 bilhões de dólares e se tornou um unicórnio dentre as construtechs globais. A empresa cresce 60% ao ano e novo escritório da empresa, em San Francisco, teve sua equipe de menos de 10 membros ampliada para quase 50 pessoas em menos de três meses.

Como o foco atual da empresa é a construção residencial e as casas americanas são tradicionalmente feitas em madeira, a empresa tende a substituir o pequeno construtor (nos EUA é chamado de contractor). No mercado americano, isso equivale a um valor de 500 bilhões de dólares. Se formos pensar no cenário mundial, estamos olhando para um mercado de 4 trilhões de dólares. O desafio vai ser se adaptar para realidades diferentes, como a brasileira, onde o processo ainda é manual e depende de materiais muito custosos como a alvenaria.

Em conversa com o Construtech Ventures, a equipe da Katerra afirma que estão com vista para expandir suas operações dentro do país, voltando-se para a costa leste, apesar de terem uma pequena parcela de sua equipe atuando na Índia.

E o cenário nacional?

No Brasil, não são poucas as novidades em startups da construção. Nos últimos anos, mapeamos cerca de 300 construtechs que surgiram para mudar esse cenário e que estão atuando em diferentes problemas da cadeia da construção, porém a maioria ainda em estágio inicial. Isso se dá principalmente porque o mercado tem baixa adesão à tecnologia e ainda atrai pouca atenção de investidores.

Dessas startups são poucas que estão trazendo algo novo ao processo construtivo ou que atuam na parte de construções pré fabricadas, mas essas construtechs sofrem com um estigma de mercado por transmitir a imagem de algo “barato” e portanto de não conseguirem agregar valor para o consumidor final.

O grande desafio quando comentamos sobre a aplicabilidade deste modelo no Brasil é justamente a forma com que são realizadas as construções atualmente, a cultura do brasileiro e o custo operacional alto. Talvez novos métodos como os propostos por Tecverde, Modulare, Inovahouse 3D, Pele ou a Mora tragam uma nova perspectiva na forma que realizamos a construção de uma casa/prédio.

Você pode ter uma visão desse cenário acessando o Mapa das Construtechs do Brasil que a gente fez.

Impacto das startups da construção civil

Como você pode perceber, as startups da construção estão mudando a forma de se construir, ao mudar como se realizam os processos e ao trazer novos materiais e modelos que focam no desenvolvimento de um ecossistema mais sustentável e rentável para todos os lados.

Ao fazer a transição de um método construtivo onde tudo é feito no canteiro (on-site), para a utilização de fábricas (off-site) a Katerra está permitindo a verticalização do processo construtivo. Isso gera ganhos de escala e redução do tempo efetivo de obra, além da eliminação de desperdícios de materiais.

A inovação está acontecendo, e a cada dia mais rápida por conta do crescimento das startups da construção, tanto construtechs, quanto proptechs. Investimentos como o que a startup Katerra captou são prova de que o cenário está mudando (talvez não na velocidade de que gostaríamos) e que logo mais ouviremos sobre os primeiros grandes investimentos dessa cadeia no Brasil.

Enquanto isso, o Construtech Ventures e outros grandes players com foco nas startups da construção buscam fomentar o ecossistema para acelerar o crescimento de negócios inovadores.

Se você possui uma empresa, um projeto ou uma idéia para o ecossistema de construtechs e proptechs, mande uma mensagem! Teremos o maior prazer em trabalhar juntos!

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