Como você explica seu papel enquanto designer de experiência?
Se você está do mesmo lado dessa moeda, provavelmente já passou por isso. Cedo ou tarde, todo designer de experiência precisa explicar que, na verdade, não trabalha só com estética. E, embora a confusão seja compreensível, é parte do nosso trabalho deixar as coisas mais claras.
Ao longo dos anos, passei por alguns estágios de explicação. No início, quando perguntado sobre o que fazia, simplificava com um sonoro: "trabalho com design". Embora não fosse mentira, também não era inteiramente verdade. Afinal, o que as pessoas sabiam sobre design até então, era o que estava contido nas agências de publicidade, propagandas e materiais gráficos. A simplificação do termo, mesmo que dito às pressas, não condizia com as horas de estudos investidos no entendimento de problemas, esboços de soluções e post-its espalhados nas paredes.
A verdade é que o conceito de design enquanto resolução de dores e gerador de oportunidades, embora não seja novo, ganhou sua notoriedade recentemente com o boom da internet, a ascensão das startups, o avanço do mercado tecnológico e o próprio manifesto ágil.
Se você já é do meio, talvez esteja cansado de saber sobre como Don Norman inventou o termo User Experience, ainda na Apple, em meados dos anos noventa. No entanto, as chances de que sua família — em especial aquele tio que você encontra apenas nos eventos de final de ano — saibam sobre o que isso significa, são bastante baixas.
Talvez, o primeiro passo seja esclarecer o fato de que, embora utilizemos nomenclaturas como user experience designer ou designer de experiência, não trabalhamos apenas com a estética de um produto ou serviço. Este, muitas vezes, é parte de um resultado final embasado no entendimento das dores e dificuldades de um usuário.
"Experiência do usuário é o design intangível de uma estratégia que nos traz uma solução."
— Erik Flowers
É claro que, na prática, sabemos que essa busca estratégica está longe de ser fácil. Os resultados nem sempre saem como o esperado e precisamos refinar nosso olhar, revisar nossos resultados e pensar sobre novas hipóteses, constantemente.
Presumo que você já tenha ouvido falar sobre um tal de Leonardo da Vinci, bem como a genialidade por trás da sua identidade. Pintor, engenheiro, inventor, matemático e.. bem, designer de experiência em meio ao renascentismo.
Certa vez, Da Vinci foi convidado pelo Duque de Milão para que o ajudasse a cozinhar um jantar extravagante para um grupo de pessoas importantes. Leonardo, na época, ja possuía diversas invenções e, diante da oportunidade, nem sequer pestanejou.
Levantou hipóteses e desenvolveu iniciativas impressionantes à época. Esteiras transportadoras de alimentos, um forno que cozinhava em temperaturas mais altas do que as já existentes, um sistema de segurança para proteger a cozinha em caso de incêndio e também convidou artistas para transformar o local em uma verdadeira obra de arte para os convidados.
No entanto, esse episódio ficou conhecido como o "Pesadelo da Cozinha". As invenções não saíram como o esperado e o jantar foi um completo desastre.
As esteiras eram ineficientes no transporte, o forno queimou a comida devido à sua temperatura elevada, um pequeno incêndio se iniciou e em pouco tempo a cozinha se transformou num desastre. Não preciso nem mencionar que os convidados acabaram com fome e mal humorados(você não ficaria?).
É bem verdade que a falta de entendimento dos usuários, tenha exercido um grande papel nesse drama. No entanto, o aprendizado é valioso:
- Ter o entendimento sobre o seu usuário é parte vital do processo;
- Ideias precisam sair do papel e serem expostas ao teste, constantemente;
- Você nem sempre acertará na primeira ou na segunda hipótese, e isso não é algo ruim;
- Não se trata da quantidade de recursos do produto e sim sobre como ele, de fato, resolve um problema ou necessidade.
Essa busca incansável por melhorias e experiências resolutivas faz parte da nossa rotina, e é o que chamamos de design por aqui.
E você, como explica o que faz?
