Jornalismo independente não deve ser menosprezado

Rafael Gloria
Contagens
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2 min readDec 11, 2017

Muita gente tende a não valorizar o que não dá imediato retorno, o que demanda mais tempo ou o que necessita de um pouco mais de trabalho intelectual. Escrever, então, fazer notícias, fazer reportagem é visto como uma função fácil, ou secundária, muitas vezes por desconhecimento da rotina: pessoas de fora da área da comunicação não sabem (e nem precisam saber) todo o caminho que é necessário tomar para chegar ali no texto final (quando feito com responsabilidade e ética necessárias), na boa apuração, e com frequência acabam concluindo, equivocadamente, que é só “sentar e escrever”.

O pior, entretanto, está dentro do próprio jornalismo, quando colegas jornalistas tendem a desvalorizar projetos de caráter independente ou alternativo, porque não se recebe dinheiro de forma imediata. Projetos que por não seguirem exatamente a hierarquização de grandes exemplos midiáticos consolidados não deveriam ser levados a sério. Projetos que seriam apenas “projetos paralelos”, que não seriam uma real opção para se informar, ou pior, que estariam desvalorizando o mercado da comunicação porque muitos deles dão espaço para pessoas que não são necessariamente formadas em jornalismo escreverem.

Apesar de essa visão estar mudando, muito devido a crise desses grandes modelos jornalísticos além de vários outros fatores que não vou explorar agora aqui, muita gente ainda olha com desconfiança para esse jornalismo fora do círculo e fora do núcleo de grandes empresas. Eu posso falar por experiência própria, com o meu trabalho há sete anos no Nonada — Jornalismo Travessia. Vivi e vivo essa transição: já fui desacreditado, debochado, menosprezado por tentar trabalhar de forma independente no jornalismo. Mas o tempo, sempre ele, aliado ao trabalho sério mostra que a minha postura em frente a uma profissão que muda constantemente está sendo correta. O Nonada está realmente contribuindo para a melhora da sociedade quando trabalha com o jornalismo de forma constante e ética, aberta ao mundo e o problematizando. O melhor: está sendo reconhecido por instituições e pelo público, o mais importante.

Não estou escrevendo esse texto para me gabar, ou para vangloriar a equipe coletiva do Nonada, mas para afirmar, reafirmar, gritar que estamos aqui há sete anos, fazemos um trabalho justo, ético, que mesmo não remunerado de forma sistemática está provando ter o seu valor. E isso é uma coisa grande demais para ser diminuída ou menosprezada.

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Rafael Gloria
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Jornalista; melancólico ativo; editor-chefe do site Nonada — Jornalismo Travessia (www.nonada.com.br); tentativa de escritor; Mais: www.about.me/rafael.gloria