Memória de festa

Rafael Gloria
Contagens
Published in
1 min readSep 1, 2021

Verde. Azul. Branco. Vermelho. Foram todas cores que você me jogou naquela tarde de carnaval, por meio de pequenos papeis picotados. Estávamos em uma multidão unida por um calor que deixava todos tontos. Mesmo não sendo tão afeto a aglomerações, algo em olhar para um céu riscado por uma chuvinha de recortes coloridos me causou essa sensação que nunca foi embora.

Na verdade, você nem jogou diretamente em mim. Você jogou para o alto, para todo mundo. Mas quem quis saber mais fui eu. Era algo muito bonito para deixar passar assim, mais um mistério para eu tentar descobrir entre outros tantos que eu deixei.

Só consegui lhe ver de longe, e rapidamente. Nem sei mais o que é miragem e o que é verdade. Você me viu também?

A aglomeração é como mar, quando achei que estava próximo a você, uma correnteza me puxava de volta ou levava para outro lado. Os papeis picotados coloridos não serviam como rastro. Apareciam colados nos vários corpos suados à mostra. Talvez, no fim, você estivesse espalhada por aí.

Atrás do grande bloco havia outro bloco e lá atrás outro bloco ainda maior. Muita gente da cidade veio, era fevereiro. Continuei procurando mais um tempo até me dar conta de que não havia mais a remota possibilidade de lhe rastrear.

A não ser por aqui, escrevendo.

--

--

Rafael Gloria
Contagens

Jornalista; melancólico ativo; editor-chefe do site Nonada — Jornalismo Travessia (www.nonada.com.br); tentativa de escritor; Mais: www.about.me/rafael.gloria