O que é sucesso no jornalismo para você?

Rafael Gloria
Contagens
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4 min readAug 1, 2016

Já me vi sofrendo com essa pergunta, já acreditei muitas vezes em respostas que os outros nos impõe e já me deparei com diversos receios ao refletir sobre o que é o “sucesso” nessa visão imposta, a qual muitas vezes está relacionada com uma posição privilegiada em relação aos outros (outros jornalistasnesse caso).

A essa visão imposta, refiro-me a ideia de que é preciso seguir em uma grande empresa de comunicação para ser um grande profissional. A ideia romântica do jornalista clássico, que faz carreira em grandes jornais, está mudando. Vivemos em um mundo onde o jornalismo de grandes redações ainda é importante, mas ele não deve ser encarado mais como o objetivo principal dos colegas de profissão, ainda mais para os que estão ingressando na faculdade.

(Não apenas necessariamente ao jornalistão de redação me refiro, mas também ao assessor de imprensa de uma grande empresa).

Até porque essa mística da figura do repórter que carrega a ““verdade”” é muito contestável. Que verdade é essa? De quem é? Interessa para quem? É engraçado porque o jornalismo me parece cada vez mais — ou, de repente, sempre foi — uma profissão para quem pode e não para quem quer. As complicações no mercado são tantas (a falta de vaga, o mau salário, a desvalorização) que só quem tem uma segurança monetária e familiar prévia tem a capacidade continuar tentando se dar bem nessa área. Apenas quem já tem uma situação financeira estável terá a possibilidade de continuar estudando e se especializando para, quem sabe, se diferenciar e conseguir um emprego e, então, fazer um freelas para completar a renda…Só para quem tem um pouco de…Poder?

Não quero generalizar (desculpe, é da profissão), mas o jornalismo é sim uma profissão ainda muito elitizada e para poucos. Desse modo, é muito tímido o movimento de se colocar no lugar do outro, de procurar a diversidade e a pluralidade.

Dizendo isso não quero desanimar quem está lendo esse texto, ainda mais se você é jornalista há pouco tempo, ou ingressou agora na Faculdade. Minha ideia é que mudemos um pouco de mentalidade para que se mude, assim,a visão de sucesso que temos do jornalismo e de como observamos melhor as nossas conquistas . Embora muitas pessoas ainda tenham uma visão limitadora da profissão, devemos acreditar que ela pode e deve ser cada vez mais plural — e quero dizer em todos os sentidos — para se abrir um leque de novas possibilidades de experimentação.

Atualmente temos uma diversidade maior de veículos do que se tinha há vinte, ou mesmo, dez anos — muito por causa da internet. Ao mesmo tempo, diminuiu o número da quantidade de revistas e de jornais impressos (não estou torcendo para que eles diminuam, é só uma realidade). Tenho a impressão também que as faculdades públicas, graças as cotas, estão finalmente formando e dando oportunidades para pessoas que antes não tinham chances. Desse modo, há — e haverá — uma maior diversidade de visão de mundo nesses novos comunicadores. Há iniciativas de pensar o modelo de gestão de jornalismo pipocando por aí, a maioria se baseando no modelo decrowdfunding, em que o cidadão bancaria o projeto.

São tempos efervescentes se você conseguir analisar como anda o mundo da comunicação. E você não precisa necessariamente ter muita grana para tentar se dar bem com ele. Penso que você deve apostar em algo que acredita e trabalhar nessa ideia o melhor possível, aos poucos, como um projeto paralelo. Mesmo que não renda financeiramente por um tempo, ela pode acabar dando certo depois, influenciando outras pessoas, movimentando a roda jornalística.

É preciso abrir a cabeça e pensar de modo cada vez mais expansivo quando falamos de jornalismo. Nunca foi só “contar histórias”, nunca foi “dizer a verdade”, sinto que é muito mais sobre tentar entender o que está acontecendo, tentar dar voz a todos — e principalmente para quem nunca teve a oportunidade — , tentar remodelar o pensamento em relação a profissão e a esse sucesso imposto.

E olha que eu nem comentei sobre algumas (talvez 90%) das premiações tão comuns em nosso meio. Mas esse é assunto para outro post.

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Rafael Gloria
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Jornalista; melancólico ativo; editor-chefe do site Nonada — Jornalismo Travessia (www.nonada.com.br); tentativa de escritor; Mais: www.about.me/rafael.gloria