Strategy Diet: Levis Novaes

Perguntamos aos estrategistas mais interessantes do mercado como “alimentam” seus cérebros diariamente e quais recursos consideram imprescindíveis para o trabalho

Contagious Brasil | editorial
Contagious Brasil
7 min readMay 26, 2021

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Em mais uma das conversas da nossa série que investiga as referências, as técnicas e as dicas do dia-a-dia de trabalho de estrategistas de diferentes recortes do mercado de comunicação brasileiro (você pode ler todas aqui), entrevistamos Levis Novaes, cofundador e diretor de estratégia da MOOC — ou Movimento Observador Criativo, uma agência de criação e cultura que, por meio de olhares genuínos, traduz linguagens para gerar impacto.

Foto: Hick Duarte

Levis é formado em Publicidade e Propaganda pela FIAM FAAM e em Planejamento de Comunicação pela Miami Ad School, tem mais de sete anos de experiência, com passagens por CPTM, Rock Comunicação, R/GA e CLAN, área de experiência, cultura e conhecimento da FLAGCX, onde atuou como Knowledge Leader. Suas vivências trazem "conexões e estratégias aplicadas ao desenvolvimento de conhecimento em linguagens que transitam no cenário cultural emergente, contribuindo para estruturação de modelos de negócios criativos no Brasil, na América Latina e pelo mundo", conta.

Desde a fundação da MOOC, em 2015, desenvolveu estratégias de projetos e consultorias para diversas empresas, entre elas Budweiser, Converse, Smart Fit, Faber-Castell, Natura, Facebook, Instagram, La Roche-Posay, Sintonia, Tembici, Ariel, Fiat e Coca-Cola. Também foi urado no Wired Festival CreativeX (2019) e no YouTube Works (2021).

Que características ou habilidades você considera essenciais em um bom estrategista? Como você as desenvolve e alimenta regularmente?

Entre as características e habilidades que eu considero importantes na construção de um estrategista estão: organização, comunicação autêntica, capacidade de analisar momentos e situações de diferentes pontos de vista, ser um excelente observador, conhecer, imergir e estar conectado com contextos plurais, respeitar interseccionalidades, saber ouvir e falar com resiliência, ir além da lógica padrão das narrativas caricatas ou estereotipadas, estabelecer conexões que ajudem a chegar nas soluções dos desafios, otimizar processos, saber que nem tudo é o fim do mundo, respirar e recomeçar sempre que necessário.

A minha grande habilidade está nas conexões que faço. Isso pode ser sobre pessoas, ideias, projetos e negócios. Muitas vezes é como se eu me colocasse numa posição observando em terceira pessoa para entender os encaixes perfeitos, mas também para perceber com cuidado o que não estou olhando. Quando entendemos as pessoas que complementam as nossas habilidades e trazem outras perspectivas, o impacto disso é poderoso.

Uma vez que se aprende a mecânica, saber conectar vivências e apresentar pontos de vista de universos diferentes dos padrões de mercado, faz com que as pessoas consigam decodificar e mudar as engrenagens para direções diferentes, projetando novas realidades.

Qual o papel da criatividade no contexto da estratégia/do planejamento? Como você vê esta relação?

A criatividade em estratégia e planejamento está em construir os melhores caminhos para os desdobramentos das situações, as soluções de desafios, fazer de um jeito diferente. Muitas vezes ela surge como resposta aos questionamentos mais profundos, em outras vezes é tão simples quanto entender o momento de respirar e acalmar a mente para que as ideias apareçam.

Apesar de saber que existe a parte mais técnica do assunto, não consigo nem dissociar as palavras planejamento e estratégia de criatividade dentro do que faço. Talvez as pessoas tenham a tendência de olhar para a criatividade como o lugar mais subjetivo possível — eu costumo olhar como ela acontece no dia-a-dia, inclusive nos mínimos detalhes da vida.

Tem alguém que você segue/lê/observa porque gosta de suas opiniões e idéias? Como essa pessoa te inspira?

Tenho diversas influências, começando pelas pessoas da minha família, minhas amizades, a MOOC — tanto os fundadores quanto a rede conectada — , lideranças que conseguem impactar seus contextos no micro e no macro. Os livros que tenho lido ultimamente são A Economia dos Desajustados e Autobiografia de um Iogue. Adoro tudo o que abre a minha mente e aprendizados que apresentem caminhos alternativos das lógicas tradicionais. A periferia como forma de fazer as coisas acontecerem dos jeitos mais inovadores também é uma inspiração, tanto quanto o que estou alcançando e o que almejo alcançar.

Filme da MOOC para a Ambev, em parceria com a agência SunsetDDB

Que conteúdos você consome regularmente para alimentar seu trabalho ou que ajudam você a pensar sobre estratégia de forma geral?

Costumo pesquisar sobre estudos, artigos, referências, frameworks e ferramentas de estratégia — aplicada à comunicação e aos negócios. Tenho assistido diversos TEDs e imergido em temáticas sobre expansão da consciência, neurociência, dados, história, sabedorias ancestrais, territórios, culturas, linguagens, comportamento, arte, moda e música.

Outro ponto que tenho buscado muito conhecimento e aplicado em meus trabalhos é o design, no sentido mais conceitual da coisa — “a forma segue a função”. Uma vez que isso está desenhado na mente, o sentido fica em entender o que está acontecendo e como as coisas vão se concretizando.

Tem algum lugar para onde você vai — físico ou virtual — quando está tendo alguma dificuldade com um trabalhoou projeto ou que parece te ajudar a trabalhar ou pensar melhor? No momento atual, tem como “sair sem sair” pra espairecer e buscar outras conexões?

Reprodução Instagram @levisnovaes

Em tempos não pandêmicos, só o fato de sair de casa para dar uma volta, ver as pessoas, situações, objetos, movimentos e as cenas, já leva o meu pensamento para soluções mais estratégicas. Adoro encontrar os MOOCs para trocas e criações. Por mim, trabalho cada dia de um lugar diferente. O contato com a cidade e toda essa movimentação que acontece é o que mais me ajuda a criar. Adoro o online, mas o efeito do offline flui muito na minha essência e o fruto disso desdobro nas redes.

Ficar em casa é um desafio em todos os sentidos. Sigo na busca diária de manter o equilíbrio entre produtividade, criatividade, gestão de vibes, saúde mental e outras coisas. Ao mesmo tempo, me sinto responsável pela minha segurança e das pessoas ao redor. Vivo pensando em como posso ser o melhor de mim mesmo e continuar impactando as pessoas de diferentes formas. Sentimos o peso deste momento, mas é importante estar bem — dentro do possível de cada um. As pessoas seguem precisando ter para onde olhar e no que se inspirar para continuar caminhando.

A que você normalmente recorre primeiro ao trabalhar em um briefing? Pode ser uma plataforma, um canal, um material.

Entender todos os pontos que podem me ajudar a resolver o desafio. Uma vez que surge um norte, a melhor forma de desenvolvimento são as trocas com pessoas de diferentes olhares, lugares e entendimentos, que complementam na construção da estratégia e de caminhos criativos. Acompanho pessoas, grupos e sites de diferentes pensamentos que fomentam a mente. Outras coisas que costumo acessar são plataformas como Medium, Think with Google, as redes sociais e reports compartilhados.

Existe alguma fonte ou recurso no qual você acha que os estrategistas confiam demais, mas que talvez não seja tão relevante assim?

Ter um olhar exclusivamente embasado por desk research e assumir tudo como verdade absoluta. Desk research é um modelo de pesquisa importantíssimo, mas é importante entender como validar a legitimidade do que está sendo pesquisado. Questões importantes no processo de desenvolvimento são: por que, o que, como, onde e por quem, considerando e garantindo pluralidade em todos os aspectos possíveis.

Fazer mais do mesmo com uma roupagem nova não é inovação!

Outro ponto é sobre o uso de dados e seus viéses. Em diversas situações, me deparei com a utilização de dados em narrativas que conduziam a lugares cômodos e à manutenção de privilégios.

Um dos exemplos atuais que posso trazer é a grande ausência de dados que favoreçam a comunidade negra e outros grupos “sub-representados” na comunicação. Sempre surge aquela pergunta, muitas vezes indireta: “como você consegue me provar isso?”. Então digo: experimente testar e eu te provo.

Por isso, a importância de projetos como Ads For Equality, do Facebook — com o qual, inclusive, a MOOC trabalha junto aqui no Brasil. Estamos comprovando que as construções de histórias potentes realizadas em cocriações com profissionais negros geram tanto impacto cultural quanto resultado de negócios.

Facebook Ads For Equality

Por outro lado, qual você acha que é o recurso mais subutilizado e que contribui muito para uma boa estratégia?

A resposta é tão simples quanto conversas reais e autênticas com quem tem propriedade nos assuntos, vivencia os contextos que serão estudados e tem visões que não são apenas sobre o que é cômodo. O caminho das transformações potentes. Histórias autênticas. Resultados de negócios precisam ser fruto do que de fato é relevante. As métricas precisam mudar e já posso sentir isso acontecer.

Além das referências já citadas, quais conteúdos ou recursos você recomendaria para alguém que está começando sua carreira como estrategista?

Saber que existem jeitos de furar as barreiras de “impossível” que existem no mercado, mesmo quando tudo parece engessado. Tudo é resultado de construção, de determinar, fazer diferente e fazer com muita autenticidade — uma espécie de hack dos códigos existentes e decodificação para o que faz sentido.

Exercitar a autoestima, principalmente em tempos difíceis, nos ajuda a encontrar soluções inovadoras em nossos contextos e dentro de nós mesmos que nem imaginamos. Sempre que possível, se arrisque e dê um jeito de estar conectado com o que você admira. Pesquise muito como solucionar problemas, como essas jornadas acontecem e olhe para o que os seus olhos não podem ver.

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Perfil do time editorial da Contagious Brasil. Publicando reflexões, análises e referências para excelência criativa e estratégica.