Strategy Diet: Matheus Dick Lee

Perguntamos aos estrategistas mais interessantes do mercado como “alimentam” seus cérebros diariamente e quais recursos consideram imprescindíveis para o trabalho

Contagious Brasil | editorial
Contagious Brasil
5 min readDec 13, 2021

--

Estratégia é um campo vasto — de perfis, de possibilidades de atuação, de jeitos de fazer, na prática e no dia-a-dia. Por isso criamos o strategy diet, uma forma de investigarmos as referências, as técnicas e as dicas dos profissionais mais interessantes do mercado brasileiro. Para ler as entrevistas anteriores, é só clicar aqui.

Desta vez, nosso entrevistado é Matheus Dick Lee, estrategista freelancer.

"Eu gosto de pensar em um bom estrategista como alguém que tem a sensibilidade de fazer as perguntas certas. É alguém que olha menos pro como, e mais para os porquês, menos para a forma e mais para os sentidos", diz Matheus sobre as caracteristicas essenciais de um bom estrategista. Formado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Matheus tem no currículo passagens por companhias como a FLAGCX, Hood e CUBOCC, além de ter desenvoldio projetos com marcas como Melissa, Natura e Netflix.

Conte pra gente um resumo do que você faz hoje e da sua trajetória no mercado.

Realizo projetos de branding, pesquisa e comunicação com a missão de ajudar marcas a decodificar e navegar na cultura, encontrar suas comunidades e pertencer a esses grupos de forma autêntica. Trabalho como Freelancer há 3 anos e atendo clientes que dividem esses valores comigo, como Netflix, Spotify, Natura, Heinz, Absolut e Google.

Minha trajetória conta com passagens pela FLAGCX, onde coordenei o time de criação da CUBOCC e fui assistente do CEO da holding, e também co-fundei e dirigi estrategicamente a agência Hood, que cria projetos de influência, experiência e comunidades.

Acabei de concluir uma pesquisa etnográfica sobre pessoas LGBTQIAP+ que participam de igrejas evangélicas neopentecostais inclusivas. Frequentei e vivi 6 meses dentro de uma dessas igrejas aqui em São Paulo e foi uma das jornadas mais intensas da minha vida.

Que características ou habilidades você considera essenciais em um bom estrategista? Como você as desenvolve/alimenta regularmente?

Eu gosto de pensar em um bom estrategista como alguém que tem a sensibilidade de fazer as perguntas certas. É alguém que olha menos pro como, e mais para os porquês, menos para a forma e mais para os sentidos. Alguém que olha pro mundo com uma mente curiosa, que sabe que não sabe de tudo.

Tem uma mistura de curiosidade, pensamento crítico, capacidade analítica, poder de síntese. É também sobre a sensibilidade de contar boas histórias e encontrar as sutilezas que não estão na superfície. Olhar pro mundo e captar os sinais da cultura que estão soltos e esperando para serem conectados.

O melhor jeito de desenvolver pra mim é fazendo na prática, acompanhando processos e entendendo como as diferentes pessoas trabalham, entender as técnicas, metodologias, perspectivas que fazem mais sentido pra você. Trabalhar com estratégia é lidar com diferentes setores de consumo, então ficar por dentro das tendências e discussões em diferentes mundos te deixa mais pronto quando o desafio chega. E claro, viver experiências que vão além do trabalho é o principal combustível que alimenta tudo.

Qual o papel da criatividade no contexto da estratégia/do planejamento? Como você vê esta relação?

Estratégia não é uma fórmula fixa ou definida, é uma jornada rumo ao novo onde você precisa descobrir o caminho. Nesse sentido, acredito que os melhores trabalhos são criados quando estratégia e criatividade andam juntas e se retroalimentam. Quando enxergamos o mundo de forma não-linear entendemos que às vezes uma boa ideia pode surgir antes e inspirar a estratégia, e às vezes a estratégia pode criar a cama perfeita para uma boa ideia.

Tem alguém que você segue/lê/observa porque gosta de suas opiniões e idéias? Como essa pessoa te inspira?

O Fran Tirado é um escritor queer que fala bastante sobre cultura e identidade de um jeito leve, divertido e profundo. É muito legal acompanhar o podcast Food4Thot que ele participa e também sua newsletter no Substack que tem comentários culturais, dicas de filmes, séries e produtos.

André Alves e Lucas Liedke, as mentes por trás da Float Vibes misturam análises psicanalíticas e culturais pra decodificar o que está por trás dos comportamentos e tendências que estão mobilizando nossa sociedade.

Sean Monahan, é um pesquisador de tendências incrível que tem um olhar muito apurado para as transformações que vão impactar a cultura logo ali na frente. Sua newsletter no Substack tem algumas das reflexões mais interessantes que li nos últimos tempos.

Que conteúdos você consome regularmente para alimentar seu trabalho ou que ajudam você a pensar sobre estratégia de forma geral?

Trabalhar com estratégia pra mim é ativar o modo pesquisador 24/7. Minhas construções costumam trazer trechos de séries, filmes, músicas, desfiles. Já teve estratégia que surgiu a partir de uma conversa com um amigo, um comentário que alguém fez sobre a vida em uma reunião. Acredito que fazer uma boa curadoria no Twitter com pesquisadores, curiosos e especialistas nos temas que se relacionam com os desafios do dia a dia é o melhor jeito de sempre ficar por dentro das discussões do agora. O Twitter da Victoria Buchanan, pesquisadora do The Future Laboratory, é um bom ponto de partida para começar a montar sua rede.

Tem algum lugar para onde você vai — físico ou virtual — quando está tendo alguma dificuldade com um trabalho/projeto ou que parece te ajudar a trabalhar ou pensar melhor? No momento atual, tem como “sair sem sair” pra espairecer e buscar outras conexões?

Pra mim andar de bicicleta ou dançar muitas horas na frente de uma caixa de som são sempre válvulas de escape pra buscar respostas e olhar pras coisas com mais clareza.

A que você normalmente recorre primeiro ao trabalhar em um briefing? Pode ser uma plataforma, um canal, um material.

Como em uma pesquisa acadêmica, sempre uma das primeiras coisas que eu faço ao construir uma estratégia é montar uma base de dados, de consulta. Uma curadoria de pesquisas, reports de tendências, entrevistas, artigos acadêmicos, comentários culturais que eu me baseio para construir o caminho.

O blog do The Future Laboratory, os comentários culturais do The New York Times e a minha lista de matérias salvas no Twitter são lugares que sempre recorro nesse processo.

Existe alguma fonte ou recurso no qual você acha que os estrategistas confiam demais, mas que talvez não seja tão relevante assim?

Acredito que muitas vezes a publicidade é muito auto-centrada. Confiar demais no que outras marcas estão fazendo e buscar referência dentro do mesmo universo contribui com a falta de inovação. Outro problema é confiar cegamente em dados quantitativos sem olhar para as nuances, as minúcias e as histórias que estão por trás do número.

Por outro lado, qual você acha que é o recurso mais subutilizado e que contribui muito para uma boa estratégia?

As vivências que acontecem na vida real, longe dos escritórios, nas viagens, nos encontros. Tem um conteúdo muito rico aí.

Além das referências já citadas, quais conteúdos/recursos você recomendaria para alguém que está começando sua carreira como estrategista?

O que mais me ajudou no início foi ouvir e olhar apresentações feitas por colegas de trabalho. A Freela School tem trilhas de conhecimento muito legais pra quem tá começando. Se abrir para as oportunidades, mesmo que você não se sinta segura ou pronta, é o caminho para aprender na prática.

--

--

Contagious Brasil | editorial
Contagious Brasil

Perfil do time editorial da Contagious Brasil. Publicando reflexões, análises e referências para excelência criativa e estratégica.