16.11
Diário de quarentena vinte e quatro. Dia dezesseis do onze. Tenho matado plantas. Não de propósito, claro, só que ando muito cansada, meio incapaz de pensar em qualquer outra coisa além de estar muito cansada. Tenho um compromisso, espiritual, até, com minha casa cheia de plantas. É o que faz de uma casa, casa. Lá pra julho eu entrei numa pira com a “bruxa verde” — que minha mãe diz que é uma preta velha curandeira, na umbanda, mas alguns proclamam como Freya, outros como A Imperatriz, do tarô, outros como uma mulher que sabe lidar com plantas, num sentido pr’além do botânico, medicinal mesmo. Tenho tudo anotadinho. Alecrim serve pra isso, arruda serve praquilo, manjericão serve pra tal coisa… O livro que descreve a casa da bruxa verde tá logo ali, junto dos incensos, do baralho. Fico imaginando minha casa tomada de folha e galho, armários antigos, frascos escuros, poções. Aí entro numa loja de planta e compro suculentas, porque as plantas grandes, ou, vá lá, minimamente delicadas, que seja, me assustam, vai que não cabem, vai que morrem. Mas nem as suculentas estão resistindo. Eu trouxe uma jiboia de Teresópolis e ela tá amando o topo da prateleira da cozinha, alheia às contrapartes, que ruem, reiterando: você tem que se dar uma trégua. E eu acordo todos os dias e olho pra essa jiboia e me pergunto: quando ela vai se dar conta? Esta não é uma casa de plantas. Não ainda.