17.10

Anna Carolina Rizzon
voltas
Published in
Oct 18, 2020

Diário de quarentena vinte e um. Dia dezessete do dez. Escreveu Hilda que “o amor, poeta, é alegre” e estranhei: sim, mas, até então, não. Eu só sabia falar de amor pedindo socorro. Minha analista, meus amigos, minha mãe, as cartas — tudo, hoje, me contradiz; daí ao amor ser outra coisa, de fato, são outros quinhentos. Mas tem sido. Temos falado de amor diferentemente — com menos angústia, com mais doçura, mais alegria — é a melhor palavra. Hilda é detentora das melhores palavras. É a única pessoa que faz de “flutissonante” uma precisão, não um capricho. Quando penso em Hilda, lembro sempre de quando a descobri, em um livro com os “100 melhores poemas da Língua Portuguesa”, que figurava alguns versos de “Amavisse”. Não os melhores, contudo; esses conheci mais de década depois. Abri a última sessão de análise lendo Hilda Hilst pra minha analista, recitando os versos da mulher-avesso, “sou eu todinha”. Foi ótimo; toda conversa deveria começar com alguém declamando um poema (por favor, não). É tudo o que tenho lido, Hilda Hilst, porque ela fala de amor como é e como tem que ser. Isso aqui é uma tentativa de me definir como amante — no entanto, claramente, eu não detenho as melhores palavras. A outra opção era escrever teu nome, consecutivamente, até cansar.

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