É possível viver de teatro em Fortaleza?

Antoyles Batista
Contexto Acadêmico
4 min readNov 27, 2019

Artistas contam as dificuldades que passam para viver de teatro no município

“A arte transforma. Ela muda sua cabeça, ela muda você. É uma metamorfose”. É com essas palavras que a estudante, Amanda Ferreira, 21, começa a falar sobre sua grande paixão. Ela participa do grupo de teatro Arte de Viver, uma companhia profissional com mais de 19 anos de trabalho no Ceará.

“Conheci o teatro na escola com 16 anos no Colégio Espaço Aberto. Lá tem um grupo e uma amiga me chamou e eu falei: ah, vamos ver. Mesmo morrendo de vergonha”, conta a estudante. Já Israel Gomes, 23, conheceu as artes cênicas através de um amigo que já fazia teatro desde os 15 anos e o convidou para participar de um encontro. Para o ator, sua vida foi transformada pela arte.

Mas de onde é a origem dessa forma de comunicar que informa, alegra e entretém tantas pessoas? Pesquisa mostra que o teatro ainda se concentra nas grandes capitais e as salas de teatro ainda são poucas. Quem são as pessoas que vivem de teatro no Ceará? E dá para viver de Teatro? Fomos atrás de responder essas perguntas e entender o que move os amantes dessa arte.

A origem

O teatro teve sua origem na Grécia, por volta do século VI a.C com as festas que saudavam o deus grego Dionísio, o deus do vinho, do teatro e da fertilidade. Nessas festividades incluíam danças, mímica,espetáculos músicas e poesias. Elas misturavam rituais religiosos e políticos. Duravam dias e aconteciam uma vez por ano, no período que se faziam as colheitas de vinha na região. Segundo historiadores, o teatro grego como conhecemos, surgiu de forma inusitada. Um participante, durante esse ritual, resolveu usar uma máscara humana com cachos de uvas, sobe em um tablado em praça pública e grita: “eu sou Dionisio!”. Todos ficam espantados com a coragem desse homem, de fingir ser um deus. O nome desse homem é Tépis, considerado o primeiro ator da história do teatro ocidental.

Público

O teatro, é muito afastado da população,se concentrando geralmente nos grandes centros urbanos, o que dificulta o acesso de parte da população. Segundo dados do IBGE de 2014, apenas em 23,4% dos municípios brasileiros possuíam teatros ou salas de espetáculos.

Um outro levantamento feito pela Jleiva Cultura nas Capitais, realizado em 12 capitais no país, que mostra o percentual de pessoas que foram a diferentes atividades culturais nos 12 últimos meses de 2018, indica que comparando quatro capitais do Nordeste: Fortaleza, Recife, Salvador e São Luís, a cidade cearense fica em primeiro lugar com 31% com número de pessoas que foram ao teatro. A pesquisa inclui apresentações de teatro, musicais e stand-up. Ela também revela que a cidade com melhores índices de atividades culturais no país é Belo Horizonte.

Extinção do MinC

Um dos grandes impulsionadores da cultura no Brasil foi o Ministério da Cultura. Criado em 1985 pelo então presidente, José Sarney, tinha o objetivo de fomentar a cultura no país. Mas o desmonte do Ministério começou em 2016 na gestão do presidente interino, Michel Temer. Ele reincorporou o MinC ao Ministério da Educação. Porém a decisão foi revista e o Ministério voltou a existir.

Já no início de seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro extinguiu o Ministério da Cultura (MinC), transformando-a em uma secretaria especial subordinada ao Ministério do Turismo. Essa era uma das promessas de campanha do presidente. O Ministério, então, passou a incorporar novas funções como proteção de patrimônio histórico e política nacional de cultura. O decreto também transferiu a comissão responsável por analisar e emitir parecer sobre projetos culturais, que buscam financiamento através da Lei de incentivo à Cultura, conhecida como Lei Rouanet.

Dá para viver de teatro em Fortaleza?

Amanda conta que para ela, o teatro ainda não dá retorno financeiro. “A gente é muito mal valorizado, você tem que ser muito bom para viver só de teatro e ter uma boa companhia”. Atualmente ela se divide entre o trabalho, em uma administradora de condomínio e os estudos. “Eu estudo de manhã, trabalho pela tarde e o teatro normalmente fica para os fins de semana”, diz.

Para Israel, a paixão virou uma oportunidade de ganhar dinheiro. Ele conta que sempre teve vontade de viver disso e quando viu que era possível, começou a se dedicar integralmente. “A gente não ganha muito, mas eu consigo viver sim”, revela.

Perguntada sobre o que a família acha disso, a universitária diz que sua mãe também se tornou atriz por causa dela: “Minha mãe também é atriz. Ela começou porque não queria que eu fizesse uma audição sozinha e eu convidei para ela ir comigo. Quando chegou lá o rapaz viu o nome dela e disse: bom, você vai fazer (a audição) também. .E aí, ela foi e ficou e adorou. Israel disse que de início sua família não gostou muito quando ele falou que ia “viver de teatro”. Mas logo ao vê-lo atuando em uma peça ela gostou.

Para Amanda, “você pode brilhar no âmbito regional. Vai depender do seu sonho e para onde você quer ir.” e acrescenta: “cultura é muito importante. Eu como artista, não imagino o mundo sem arte. O mundo sem arte é triste.” finaliza.

Para Israel, ele não se vê fora do teatro. “Eu não consigo não me ver atuando, interpretando. Já faz parte de quem eu sou” e diz: “sabe quando você é apaixonado pelo que faz, e você faz bem e ganha a sua grana, é muito bom”, declara.

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