Mulheres enfrentam as barreiras no tatame e fora dele

Maria Helena
Contexto Acadêmico
3 min readDec 24, 2019

A partir de 1915, a prática do jiu-jitsu foi trazida para o Brasil e teve uma repercussão tão forte que deu ao país o título de principal praticante da arte marcial.

Por ser considerada uma luta de grande impacto físico, ainda que intitulada como a “luta da suavidade”, o jiu-jitsu foi por muito tempo, uma prática exclusivamente masculina. Nos últimos anos, as mulheres ganharam seu espaço como atletas e estão popularizando a luta como um esporte misto. Apesar da inclusão feminina no esporte, os obstáculos ainda existem. No ano de 2018, 61,6% das mulheres que praticam jiu-jitsu no país afirmaram já terem sofrido assédio físico ou verbal no tatame.

Ricardo Pinho, 50 anos, é professor de jiu-jitsu há mais de trinta anos. Ele acredita que a abertura do jiu-jitsu para as mulheres difere muito de país para país e que o Brasil é hoje um dos países com maior liberdade para a prática do esporte envolvendo o público feminino. “Acho que o interesse e participação das mulheres no jiu-jitsu tem aumentado bastante nos últimos anos e isso é de fundamental importância para o crescimento do esporte”, afirma Ricardo.

Rebeca Lima, 29 anos, é advogada e cresceu observando sua família praticar jiu-jitsu. Há seis anos, decidiu seguir os passos dos pais e do irmão e hoje não consegue viver sem o esporte. “O que mais me atrai no jiu-jitsu é o autoconhecimento, a forma como nos ensina a lidar com as nossas emoções. A gente experimenta de tudo, seja num treino por diversão ou numa competição valendo um título importante. E apesar de entramos na área de luta sozinhos fisicamente, de coração sempre somos impulsionados pelos gritos e vibrações”.

Rebeca conta que na época em que entrou no jiu-jitsu, já havia bastante espaço para as mulheres. Mas ainda observa que, além percorrerem um caminho mais difícil que os homens para construção de uma carreira no esporte, as mulheres ainda passam por muitas situações de assédio no dia-a-dia. “No jiu-jistsu sempre tem um homem babaca que se vale da situação ou da posição pra se aproveitar da gente. Já treinei em posições onde os caras ficaram sussurrando besteiras no meu ouvido”, desabafa. Mas, apesar das dificuldades e dos casos de assédio, Rebeca diz que sempre existem homens para apoiar e abrir espaço para as mulheres dentro da luta: “Eu tive muito incentivo e apoio, principalmente dos homens que treinam comigo. Eles mesmos vibram quando uma mulher evolui no tatame”.

Yara Vieira, 21 anos, trabalha como vendedora e se apaixonou pelo jiu-jitsu há cinco anos. Ela observa que aos poucos, as mulheres tem ocupado um espaço mais significativo no esporte. “Hoje em dia melhorou muito, o preconceito já diminuiu bastante. Os prêmios em dinheiro, que costumavam ser menores para as mulheres, hoje já estão se igualando. E se a atleta for dedicada, pode receber grandes oportunidades, inclusive de patrocínios.”

“Pelo fato de serem homens, querem ter mais autoridade. Não se sentem bem ao serem corrigidos por uma mulher que seja mais graduada que eles”. A grande maioria no esporte é masculina e muitos homens ainda se incomodam quando mulheres ocupam posições mais elevadas que eles.

Apesar da evolução, Yara, assim como as demais mulheres que se arriscam no esporte, enxerga que a luta vai muito além do tatame e que o caminho a percorrer pela igualdade no do jiu-jitsu ainda é longo.

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