O impacto da ausência de políticas públicas nas periferias de Fortaleza

Ana Paula Jornalismo
Contexto Acadêmico
4 min readDec 20, 2019

“Eu sou favela minha gente eu sou de lá, não sinto vergonha e nem vejo motivos pra negar” Bezerra da Silva

R. Nascimento Rocha

A favela, comunidade ou periferia que a música se refere é o berço para muitas personalidades e artistas. De acordo com os dados do censo de 2010 realizado pelo IBGE, cerca de 11,4 milhões de pessoas habitavam em comunidades, destas 396.370 pessoas residiam em favelas de Fortaleza capital do Ceará. No total de 509 favelas na capital cearense.

Recordada frequentemente por cenas de violência e de miséria, a comunidade participa de um círculo vicioso. Um processo que se repete, voltando sempre ao início em um movimento circular e que se retroalimenta. Em períodos eleitorais as vielas ficam lotadas de pessoas bem vestidas, simpáticas e com o intuito de ajudar. Com disposição para até mesmo adentrar nas casas humildes do moradores, em busca da confiança e do voto dessas pessoas.

Moradores esses que rotineiramente tem somente um pouco para comer, e um simples par de sandálias, acabam por ceder seus votos confiando nas palavras dos bons feitores que por onde passam prometem verdadeiros milagres através da implantação de políticas públicas e direitos humanos que são escasso no seu dia a dia. Infelizmente não é bem como funciona, após essa fase de disputas acontecem uma verdadeira amnésia política que invade as comunidades onde acabam ficando esquecidas do poder público, a mercê dos riscos que falta das políticas públicas trazem .

Quando as políticas públicas não são aplicadas, os direitos mais básicos não são garantidos, a periferia que já está cheia de problemas se torna um caos, dando início ao surgimento do chamado poder paralelo, onde diversas vezes é assumido pelo tráfico de drogas, é justamente nesse contexto nasce o líder comunitário surge, e faz o papel de intermediar e cobrar do poder público um ação de melhoria para comunidade onde ele vive, entre outras palavras cobra a aplicação das políticas públicas para que quem more na comunidade tenha uma vida melhor.

“Já foi mais do que comprovado que a educação é a salvação do mundo. A educação ela salva, trata e evita. Eu porque nunca tive “Tino” para a marginalidade, mas oportunidades nunca me faltaram. Graças a Deus que na comunidade em que eu nasci e cresci, quando comparado com os outros meus amigos, eu fui o que teve a “melhor” vida. Meus pais sempre trabalharam, os dois”, explicou Tiago Almeida, 26, morador do antigo Morro do Teixeira

Morro do Teixeira — Google maps

“Eles tinham a condição de me colocar em escolinha de futebol, curso de informática, tudo isso para eu não ficar na ociosidade. Mas os meus amigos, não tiveram a mesma sorte. Eu lembro que um me disse uma vez que queria fazer algo, algum esporte, algum curso, qualquer coisa, mas como? foi mais fácil para ele, entrar na criminalidade, ele se “divertia” dizia que sentia adrenalina e ainda ganhava uns trocados. Recentemente me esbarrei com ele, continua vendendo “pedra”, já deu entrada diversas vezes no carrapicho e agora eu reflito, com tanto dinheiro gasto com besteiras, desvios e etc. Por que é difícil pensar naquele menor da favela e sim mais fácil puni-lo”, acrescentou.

“Há quem pense que ser líder comunitário é vida de luxo, foto com vereador enfim. Mas não é assim que a banda toca não, já levei muito nome de ladrão por parte da população mesmo, em meio a manifestação já fui ameaçado de morte por políticos, perco até as contas das inúmeras vezes que abdiquei das minhas obrigações para ir na Assembléia Legislativa reivindicar os direitos da minha comunidade. Direitos aqueles que são primordiais para o mínimo de dignidade do ser humano”, destaca Henrique, 36, autônomo

“Nasci em uma comunidade de Fortaleza onde o outro lado é uma das praias mais conhecidas e procuradas, a Praia do Futuro. Na minha rua, rua não, viela! o esgoto passava na porta, saneamento básico? isso é de comer? aqui não tinha não. A gente jogava o lixo numa esquina e quando tava muito lotado ateavamos fogo nele. Cansado disso, desse negócio de época política me tornei líder da minha comunidade, hoje temos chão de piçarra, hoje temos um contêiner para jogar o lixo. É pouco, é sim mas o suficiente para inspirar e fazer os moradores acreditarem na gente”, afirma

No bairro do caça e pesca depois de muita dificuldade, alguns líderes de comunidades da regional II se uniram e se tornaram o grupo Caça e pesca unidos por um sonho. Recentemente realizaram um evento com o intuito de comemorar o dia das crianças. Sem nenhum apoio político, somente com ajuda de doações dos moradores o evento contou com a participação de 3 mil crianças. O grupo luta pelo bem estar e a melhoria das comunidades.

No link do IBGE é possível obter informações detalhadas sobre favelas — que recebem o nome de Aglomerados Subnormais

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