Rotina de estudo e trabalho afeta saúde mental de universitários

Ingryd Freitas
Contexto Acadêmico
3 min readDec 20, 2019

Estudantes e trabalhadores possuem uma saúde mental mais afetada e pesquisa aponta que questões psicológicas motivam desistências de faculdade.

A vida acadêmica proporciona conhecimento e a experiência é adquirida no mercado de trabalho que soma ao período da graduação. Uma pesquisa feita em parceria pelo Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), aponta que além da faculdade, 49% dos alunos trabalham mais de 40h por semana.

No levantamento feito também ficou claro que 44,8% do total de estudantes não têm bolsa ou algum incentivo financeiro para pagar a universidade privada. E 29,6% dos alunos ainda complementam a renda familiar. Com essa rotina extensa, os estudantes e trabalhadores possuem uma saúde mental mais afetada por uma realidade cercada de ansiedade, estresse e depressão. A Pesquisa Senso e Opinião Discente da Universidade Federal do ABC mostrou que 17,92% dos trancamentos nas faculdades foram por questão psicológica.

Para o sociólogo e doutorando da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Paulo Nicholas Mesquita, a pressão da sociedade e mercado de trabalho condiciona as pessoas a uma vida com transtornos de ansiedade: “O mercado de trabalho cobra uma melhor colocação, capacitação porque é muito competitivo e é preciso estudar, fazer especialização, mestrado, doutorado. A modernidade ou a pós modernidade amplia essa ideia de que o tempo está cada vez menor, a gente vai fazendo mais coisas, há um excesso de informação, competição e isso vai causar estresse, depressão e ansiedade”.

A psicóloga Eliciana Monteiro explica: “O estresse é uma resposta do organismo, física ou mental do esforço que é feito para algo, quando você se sente ameaçado ou sob pressão”. A ansiedade e o estresse são muito comuns no atendimento psicológico, “para as pessoas o tempo está muito curto, onde um dia tem que ter 48h. As pessoas estão sob pressão a todo momento, principalmente em uma rotina de muito trabalho e por isso causa muito estresse. A sociedade está cobrando muito das pessoas e está ficando ansiosa e estressada”, afirma.

O universitário Paulo Braga, 24, afirma que a terapia o ajuda no entendimento das causas para suas crises de ansiedade “sempre que alguma coisa desanda na minha rotina e choca com minha vida pessoal eu entro em crise de ansiedade. Hoje eu consigo lidar muito bem com a terapia, consigo trabalhar esses problemas, mas antes eu precisava de medicação para passar”.

De acordo com a psicóloga, para o tratamento dessa demanda, é feito uma organização do tempo do paciente, realizando planejamentos para que em meio a rotina, a pessoa consiga tempo livre para fazer coisas que gosta.

Trabalho, faculdade e rotina doméstica

Nivea Furtado, 46, cursa Ciências Contábeis, trabalha como secretária e é mãe de três filhos. “Eu já era mãe e trabalhava, precisava de mais uma graduação para crescer profissionalmente então tive que aderir essa extensa rotina com casa, filhos, trabalho, faculdade, marido”, afirma Nivea.

Para lidar com a rotina, Nivea faz acompanhamento psicológico para organizar seu tempo mas afirma que desenvolveu transtornos de ansiedade devido a vida corrida, “era muito difícil lidar com trabalho e casa, eu chegava em casa cansada e ainda tinha que arrumar, cozinhar. Quando comecei a faculdade tinha dias que chorava de desespero porque não conseguia dar conta de tanta coisa, chorava com saudade dos meus filhos, quando focava no trabalho as notas caiam, quando focava na faculdade, era chamada atenção no trabalho, já pensei em desistir muitas vezes”, conta a estudante.

Com intuito de cuidar da saúde mental, Nivea procurou um psicólogo e consegue administrar seu tempo para cada área. “Com o planejamento que fiz já consigo tempo para sair com minha família, ir ao salão, fazer meus trabalhos tranquila e consigo lidar com a rotina”.

Por: Ingryd Freitas

--

--