UM NORTE NA FORMAÇÃO DO JOVEM

O jovem que vive na periferia e busca uma saída, acaba encontrando no Hip Hop a liberdade de se expressar.

Rodrigues Jr
Contexto Acadêmico
4 min readNov 28, 2019

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O hip hop para muitos é apenas mais um de vários estilos de dança existentes, mas engana-se quem pensa dessa maneira. É um estilo musical com uma subcultura própria que envolve o rap, DJing, breakdance e o graffiti, assim estabeleceu o criador do movimento, Afrika Bambaataa, com esses quatro pilares na década de 70. No início, a base do movimento eram os DJ’s que criavam batidas em loop e a partir daí surgiu o rap com as rimas vocais para que pudessem acompanhar os sons feitos pelos DJ’s, logo após essa junção veio o breakdance que fechou o ciclo até ali. O graffiti se incorporou ao movimento quando nos locais de apresentações surgiram pinturas que deixavam todo aquele som com um sentido ainda maior, tendo em vista que muitos daqueles que faziam a arte nas paredes também eram os que praticavam o breakdance logo em seguida.

Ainda nos dias de hoje, com todo o acesso que temos à informação, o movimento se vê marginalizado e tratado por muitos como praticado por jovens que não tem o que fazer. Mas ao contrário do que se imagina, o hip hop tem transformado não somente os jovens mas também as famílias que vivem do sustento que os eventos de hip hop dão. É o exemplo do B-Boy Bruninho, 24, que no começo sofreu pré-conceito dentro da própria família que achava que dançar não o levaria a lugar nenhum.

- Eu comecei com 14 anos de idade e no começo não tive nenhuma aceitação dos meus pais, minha mãe chegou a me perguntar quando eu levaria dinheiro pra dentro de casa com a dança, o começo foi bem complicado até eu conseguir ganhar eventos e mostrar a eles que não era um negócio marginalizado — revela ele.

B-Boy Bruninho dança hip hop no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Foto: Reprodução

O início do movimento no Brasil, se deu por volta da década de 80, quando o hip hop chegou como uma grande moda, não era entendido como uma cultura que poderia abranger muito mais do que se imaginava naquela época e que poderia tornar jovens de comunidades em grandes estrelas mundiais.

- Posso contar um exemplo da importância para a nossa juventude, a quantidade de bons dançarinos que já produzimos, alguns campeões brasileiros aqui em Fortaleza, o ultimo é o B-Boy Bart, lá do Jangurussu, hoje ele é campeão brasileiro de um dos maiores eventos B-Boy do Brasil e do mundo, conseguiu ser campeão do Red Bull BC One e hoje mora na Alemanha, está contratado por um grupo de dança de streetdance fazendo uma turnê na Europa — conta o DJ Flip Jay, 49

Jovens praticam hip hop no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Foto: Reprodução

Os jovens que praticam, buscam a liberdade para se expressar, a maioria deles no breakdance, buscam através de movimentos muitas vezes bruscos e outras vezes minimalistas e quase imperceptíveis mostrar ao mundo o tamanho da sua força. Quase 100% dos que estão ali sofrem preconceito também pela forma como se expressam na aparência, sem nenhum estereótipo, cada um é livre para se vestir como quiser e muitas vezes acabam pagando pelo preconceito diante de uma sociedade ainda tão fechada a novos conhecimentos.

- No começo e até hoje sofro preconceito, quando você é preto com cabelo black power e tem diferenças sociais, quando chega em um canto, a galera já olha torto, pensa que vamos fazer alguma coisa de mal, mas a gente só quer dançar, só quer um pouco de espaço mesmo — relata Emanoel Barão, 20. Ele dança desde os 11 anos de idade e conta que já viu muitos se perderem no caminho das drogas por não conhecerem a cultura hip hop como ele teve a oportunidade.

B-Girl Anny faz movimentos de dança. Foto: Reprodução

Um dos casos que mostram como o hip hop chega cedo nessas comunidades é a jovem B-Girl Anny, 11, ela conheceu o hip hop através do pai, que depois de ter sofrida uma fratura no joelho ficou desenganado pelos médicos, que disseram que ele não conseguiria praticar nenhuma atividade física e acabou conhecendo a dança e agora prática a mais de 10 anos.

- Foi uma mudança na minha vida, eu não tinha nenhum amigo para brincar e não saía para a rua por conta do perigo, daí comecei a dançar para me divertir. Muitos me elogiam, e mesmo alguns mais próximos me criticam, mas eu não ligo, por que o hip hop foi o que mudou a minha vida até hoje, cada coisa que vou aprendendo faço mais amigos, então aqueles que me criticam não faz diferença — destaca ela.

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