Esquecimento Azul

Mariana Martins Vieira
Contexto Poético
Published in
1 min readMar 23, 2020
Foto: marivieiram

ajude-me

eu estou me afogando.

estou me sufocando

cadê o ar?

cadê o mundo?

cadê meu eu?

meu eu era um corpo

que afundou no mar

está agora perdido

talvez entre os peixes e os corais.

aquele tesouro escondido

vítima de um naufrágio

é por ele que estou a procurar

meu eu, meu lar.

lembro-me do naufrágio.

susto, pressão, dor

água, sangue, suor

restos, pedaços, entulhos

do navio imaginário.

o afogamento:

sal nas narinas

oxigênio lá em cima

onde eu já não podia alcançar

havia o peso, o empuxo

e meu desespero

que teve de renunciar.

depois disso, meu eu logo virou sedimento.

areia branca, mordida pelo sal

morada pra conchas, algas e mais

esquecimento azul para quem nunca soube respirar.

imensidão.

e minha alma, sozinha, de lá de cima

admirando

a morte cor de céu que eu tive

e o meu desaparecimento desbotado contra o mar.

afoguei-me para nunca aprender a respirar.

Andei sumida. Esquecida. Azul. Azul de tristeza, ou de sabedoria. Voltei mais azul que o céu. Da cor do mar. Espero que gostem de velejar.

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