Esquecimento Azul
ajude-me
eu estou me afogando.
estou me sufocando
cadê o ar?
cadê o mundo?
cadê meu eu?
meu eu era um corpo
que afundou no mar
está agora perdido
talvez entre os peixes e os corais.
aquele tesouro escondido
vítima de um naufrágio
é por ele que estou a procurar
meu eu, meu lar.
lembro-me do naufrágio.
susto, pressão, dor
água, sangue, suor
restos, pedaços, entulhos
do navio imaginário.
o afogamento:
sal nas narinas
oxigênio lá em cima
onde eu já não podia alcançar
havia o peso, o empuxo
e meu desespero
que teve de renunciar.
depois disso, meu eu logo virou sedimento.
areia branca, mordida pelo sal
morada pra conchas, algas e mais
esquecimento azul para quem nunca soube respirar.
imensidão.
e minha alma, sozinha, de lá de cima
admirando
a morte cor de céu que eu tive
e o meu desaparecimento desbotado contra o mar.
afoguei-me para nunca aprender a respirar.
Andei sumida. Esquecida. Azul. Azul de tristeza, ou de sabedoria. Voltei mais azul que o céu. Da cor do mar. Espero que gostem de velejar.