ventania

Mariana Martins Vieira
Contexto Poético
Published in
2 min readMar 6, 2020
Foto: marivieiram

eu peregrino como o fazem as sementes

eu sozinha absorvo o sol e a umidade

ando calada pernas e asas persistentes

pulmões pneumáticos molhados de saudade

e meu caminho, longínquo infinito russo

de seca poeira envolve minhas beiradas

ventanias, ventanias graves intoxicadas

meu esqueleto raquítico convulsiona e eu tusso

mas peregrino com minhas patas rachadas

ferindo a carne ao destilar do seu âmago

alma líquida pura minha energia alada

com que transfiro ao mundo luz no meu vôo santo

e caminho com o vento tocando o céu

sou semente contra o vento voz gritada

penetro-lhe a parede contratempo mausoléu

cantam força minhas penas atravessadas

e peregrino tentando o oposto vento enfrentar

contraposto desgosto joga-me para trás

jogo do atraso me retrocesso a lutar

mas a parede de vento não é forte o suficiente para me parar

eu caminho meu caminho pelo ar

e a força das correntes, não, não

não são suficientes, são em vão

permitem-me asmática respirar

peregrino derrubando o invisível muro

o vento impenetrável edifício profundo

mas bato o bico em suas janelas a soltar

para que eu possa continuar a migrar

e caminho ao norte para o mundo fecundar

fertilizar com minha medula, meu embrião

e com o nitrogênio que aspiro do ar -

o caminho dos peregrinos sem chão.

Olá, leitores! Como são seus caminhos, suas peregrinações, suas lutas? Conta pra Mari aqui embaixo, quero muito saber. E, claro, deixem seus aplausos, até 50!

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