ventania
eu peregrino como o fazem as sementes
eu sozinha absorvo o sol e a umidade
ando calada pernas e asas persistentes
pulmões pneumáticos molhados de saudade
e meu caminho, longínquo infinito russo
de seca poeira envolve minhas beiradas
ventanias, ventanias graves intoxicadas
meu esqueleto raquítico convulsiona e eu tusso
mas peregrino com minhas patas rachadas
ferindo a carne ao destilar do seu âmago
alma líquida pura minha energia alada
com que transfiro ao mundo luz no meu vôo santo
e caminho com o vento tocando o céu
sou semente contra o vento voz gritada
penetro-lhe a parede contratempo mausoléu
cantam força minhas penas atravessadas
e peregrino tentando o oposto vento enfrentar
contraposto desgosto joga-me para trás
jogo do atraso me retrocesso a lutar
mas a parede de vento não é forte o suficiente para me parar
eu caminho meu caminho pelo ar
e a força das correntes, não, não
não são suficientes, são em vão
permitem-me asmática respirar
peregrino derrubando o invisível muro
o vento impenetrável edifício profundo
mas bato o bico em suas janelas a soltar
para que eu possa continuar a migrar
e caminho ao norte para o mundo fecundar
fertilizar com minha medula, meu embrião
e com o nitrogênio que aspiro do ar -
o caminho dos peregrinos sem chão.
Olá, leitores! Como são seus caminhos, suas peregrinações, suas lutas? Conta pra Mari aqui embaixo, quero muito saber. E, claro, deixem seus aplausos, até 50!