Parte 7: espaço social
Os acontecimentos de Sin City — A Grande Matança se passam na cidade fictícia de “Basin City” — um espaço urbano marcado pela violência. As prostitutas controlam, por meio do poder armado, uma zona de meretrício conhecida como “Cidade Velha”. O direito dessas mulheres exercerem sua própria justiça foi conquistado por meio de um tratado com a polícia local.
Apesar de esta obra tratar de mazelas sociais recorrentes, ao longo da história humana: corrupção e violência, a narrativa visual de Sin City usa elementos estéticos que reforçam o caráter ficcional e dramático da obra, como: ilustração estilizada de figura humana, sem preocupação em representar realismo na anatomia; e utilização exclusiva de preto e branco para criar contrastes.
Diferente de Miller, Baudelaire usou como fonte de inspiração a sua cidade natal. Exemplo disso é a criação do poema As Duas Boas Irmãs na época em que presenciou consequências de diversas transformações no espaço urbano de Paris.
O autor teve êxito na abordagem expressiva do submundo parisiense, por meio de uma observação crítica dos problemas sociais da metrópole. Além disso, explorou a possibilidade de utilizar mazelas sociais como motivo artístico.
“(…)Baudelaire quem funda uma poesia voltada para a cidade e oriunda dela, escrevendo sobre a Paris das primeiras décadas do século XIX, uma cidade grandiosa, planejada, urbanizada, que passa durante a vida do poeta por várias transformações(…) A face da Paris que revela é caótica e opressora, apresenta claramente aquele caráter dicotômico que aponta para a atração e a repulsa. O olhar da poesia volta-se para o submundo, para a miséria humana: a mulher é a prostituta, as imagens são carregadas em cores fortes, sombras e detalhes, produzindo estranhamento, choque, horror e, ao mesmo tempo, fascínio. (MENEZES, 2004,p. 64–65).
Mesmo que Miller e Baudelaire utilizem diferentes abordagens para retratar o espaço urbano, é possível perceber, similaridades simbólicas entre Sin City — A Grande Matança e o poema As Duas Boas Irmãs de As Flores do Mal. Há semelhança entre os versos “A sepultura e alcova, em blasfêmias fecundas,; Nos dão de quando em vez, como boas irmãs, os prazeres do horror e as carícias malsãs” (BAUDELAIRE,1985.p.399.). Nestes versos, o poeta trata a proximidade do prazer sexual libertino (alcova) e a morte (tumba).
Esta linha tênue entre prazer e fatalidade é explicitada na história em quadrinhos, quando o protagonista define a relação de poder das prostitutas com a Cidade Velha. “As damas aqui são a lei, lindas e impiedosas. Se você tiver grana e jogar dentro das regras, elas realizam todos os seus sonhos. Mas, se traí-las… pode se considerar um cadáver” (MILLER,2005, p.30).