O caminho do dragão
Estamos a um passo de ver o que é esta força que nos envolve. Passamos por tantas situações estranhas que não será uma estatueta de dragão asiático que nos dará a resposta. O dia amanheceu avermelhado, o céu parecia ter sido rasgado por uma bola de fogo, e seus olhos continuavam a fixar os meus, e agora estavam vermelhos como o céu. Correr pela mata a noite e dormir ao relento pode não ter sido a melhor das ideias, nem a mais sensata, mas onde fomos? Com quem estivemos? Minha única lembrança foi a de não sentir frio, e você estar quente, seu corpo me envolveu como uma manta macia, e fui me entregando neste torpor. Não me lembro de mais nada. Tentei levantar, mas meu corpo doía, pesava. Olhei para meu braço e havia marcas de dedos como se tivesse sido apertado, travado. Meu cabelo estava enlameado como se eu tivesse rolado pela relva, o que aconteceu? Você continuava me olhando fixo, e seu semblante não era mais o mesmo. Gritei seu nome, você saiu daquele transe e me olhou com carinho. Será que eu estava sonhando? Lógico, você respondeu. Está amanhecendo vamos voltar você disse. Mas, não conseguia levantar, e você me carregou como se eu fosse uma pluma, e correu, correu como um ser humano não faria. Comecei a ficar assustada, e você só sorria, me dizendo que tudo estava bem, que tudo iria ficar melhor, muito melhor.
A água do chuveiro descia quente pelo nosso corpo, você recusava usar o sabonete, só a água dizia. O banho se transformou em um ritual, mãos, lábios, língua, dente, cheiros, tudo misturado, ainda estou dormindo, não posso estar acordada, quem está comigo? Coloquei o roupão, mas foi arrancado: — para que roupa? Nada de roupa, você dizia, era um estado selvagem de viver. Olhei o calendário, lua cheia, onde está o dragão? Não voltamos com ele, quem levasse o objeto para outro se entorpecia na sua essência, e fomos nós que levamos, para quem? O dia passou languido, adormecidos por uma sonolência incomum. Ao cair da tarde acordamos e tudo recomeçou. Mas desta vez fiquei consciente, e o vi se transformar na minha frente com os olhos brilhantes e dentes afiados, seu corpo parecia outro, mas continuava sabendo quem eu era. Pegou minha mão e me carregou correndo pela mata só parando em uma gruta. O cheiro de maresia tomava conta do lugar. Não havia mar naquela região, como poderia ter este cheiro? Descemos garganta abaixo e o ar ficava cada vez mais úmido e quente, estava ficando difícil de respirar. De repente abre um enorme platô e vários seres com a mesma aparência estavam absortos em alguma coisa que eu ainda não conseguia ver. Quando nos aproximamos lá estava ele, uma mistura de homem com lobo, e ao seu lado outro com a pele exageradamente branca e os olhos vermelhos. Tentei correr, e novamente não pude sair do lugar. Olhei para o lado e você me dizia: não lute com o seu dragão, agora já não é mais possível voltar a ser o que era. O voo alcançou você, já é parte de nós, voe conosco. Minhas entranhas pareciam dilaceradas, meu corpo doía, minha mente esvaziou, perdi a noção do tempo, acho que desmaiei.
Acordei na minha cama, toda molhada de suor com você ao meu lado. O que houve, perguntei. Você teve uma febre alta esta noite, você respondeu, mas já está melhor. Levantei para tomar banho e comer alguma coisa, sentia uma fome enorme. Olhei meu corpo enquanto a água caia e vi marcas, meus cabelos tinham terra, e minhas unhas estavam lascadas como se eu tivesse arranhado alguma coisa. Olhei para você e seu olhar era tão doce que imaginei me debatendo a noite pela febre, só poderia ser isso. Contei para você o sonho louco que tivera, sua resposta foi um largo sorriso: foi só um sonho amor, nada mais. Olhei o céu, não havia mais lua cheia. Fiquei por dois dias desacordada? Sim você ficou — me respondeu, e não se preocupe tudo está melhor, como nunca esteve.…………………………………………………………………………………………………………………………
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